O Globo - 15/12/2012
No total, 80% são negros,
quase 40% são nordestinos,
com representação de
53% das mulheres e
55% dos jovens brasileiros
É uma nova classe em ascensão, real e metafórica, com sua formação e caracteres muito mais heterogêneos. Bastaria afirmar que de seu total, 80% são negros, quase 40% são nordestinos, com representação de 53% das mulheres e 55% dos jovens brasileiros. Seria o 12º país mais populoso do mundo, algo a comemorar e a refletir como será feita a inserção no tecido social brasileiro, sua inclusão na educação e formação técnico- científica. Como isto está sendo realizado?
Sob a batuta da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, está sendo elaborado seu diagnóstico sobre as Vozes da Classe Média! É algo que, politicamente falando, será decisivo nas próximas eleições, as de 2014 e as seguintes. Quem chegar mais próximo e lançar seus apelos político-eleitorais irá capitalizar essa grande massa de eleitores. Até aqui o PT e também o PSB estão chegando mais cedo e lançando suas redes sobre esse enorme eleitorado, talvez decisivo! O PSDB do jovem Aécio Neves terá programa para ela?
Toca fundo na alma brasileira — com reflexos no exterior — essa escalada que apenas começou e que garante a cada membro da nova classe média estabilidade econômica, democratização mais profunda de nosso sistema político (a classe média é pendular, pode ir para a esquerda ou para direita facilmente) e uma sociedade bem à brasileira, que soma os mitos do Curupira (Norte), do Saci Pererê (Sul) e dos fantásticos e talentosíssimos Macunaíma ou Pedro Malasartes. Talento não nos falta: apenas buscam-se condições de trabalho decente, uma boa educação, com segurança e paz. Bem-vinda a nova classe média (a velha e tradicional classe média anda à míngua...) Mas cuidado. Assim como o filme do genial Elio Petri, “A classe operária vai ao paraíso” (1971, onde o operário Lulu deixa um de seus dedos na máquina, algo a comparar com o Brasil?), a nossa nova classe média está a caminho do paraíso? Todos esses milhões que passaram a se alimentar melhor, a estudar um pouco mais, com acesso a créditos financiados, cartões de crédito, plano de saúde (já que o Estado não assegura a universalidade da saúde pública), com automóvel, bens de consumo e viagem de avião etc. Como vai se autossustentar, ou começará a entender que o custo do novo padrão de vida deverá ser mais alto (nesse Brasil tão caro!) do que as provisões feitas com armadilhas sérias pela frente!
A entrada da nova classe média na economia, na política e na sociedade terá impactos significativos, singulares, comportamentos novos e sua avaliação será objeto de muitas especulações, pesquisas, estudos com impactos sobre a cultura brasileira, dando-lhe mais diversidade e democracia?
Clóvis Brigagão é cientista político
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