CRÍTICA / MÚSICA
Brasileiro, presente ao concerto, aprova adaptação, reapresentada hoje
CARLOS CALADOCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO
As dezenas de poltronas vazias, na Sala São Paulo, só poderiam ser justificadas pelas chuvas que inundaram parte da capital paulista anteontem.
Bastava ver o compositor Chico Buarque e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sentados lado a lado, na plateia, para saber que o programa de encerramento do ano executado pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) era mesmo especial.
Uma opereta de Leonard Bernstein (1918-1990), uma suíte de canções de Chico Buarque e a polêmica ópera negra de George Gershwin (1898-1937) não compõem um programa indicado para ouvidos tradicionalistas, especialmente aqueles que ainda resistem a aceitar a convivência da música popular com a chamada música erudita.
Adicionada ao programa, a extrovertida abertura da opereta "Candide" foi regida quase com fúria pelo jovem maestro Yuri Azevedo -vencedor do prêmio Eleazar de Carvalho, no Festival de Inverno de Campos de Jordão deste ano.
O peso orquestral dessa peça criou contraste sonoro bem adequado para que a plateia sentisse as sutilezas da inédita "Suíte Chico". Atendendo a convite da orquestra, o maestro e arranjador Luiz Cláudio Ramos, também presente, escreveu-a a partir de quatro canções do parceiro, valorizando a beleza das melodias.
Regida por Marin Alsop, a Osesp torna-se uma pequena orquestra de câmara na parte inicial da suíte, que une as toadas "Querido Diário" e "Paratodos". Sopros e cordas formam delicadas texturas sonoras na valsa "Nina", que precede a conclusão com o samba "Dura na Queda".
TENSÃO DE ESTREIA
Talvez a curta duração da peça, ou mesmo a tensão típica das estreias, expliquem o fato de a plateia ter-se mostrado menos efusiva do que o próprio Chico, ao se levantar para aplaudir a orquestra.
É bem provável que a plateia do último concerto desse programa (hoje, às 16h30) possa presenciar uma performance mais brilhante.
Reforçada, como manda o figurino operístico, por um grande coro e pelos cantores Indira Mahajan, Alison Buchanan, Larry D. Hylton e Derrick Parker, a Osesp fechou a noite com excertos de "Porgy and Bess", ópera de Gershwin de 1935 que aproximou o gênero ao universo do jazz por meio de formas musicais afroamericanas, como os "spirituals" e as "work songs".
É natural que aqueles que conheceram as canções dessa ópera por meio de interpretações mais modernas de jazzistas como Miles Davis, Ella Fitzgerald ou Louis Armstrong, já nas décadas de 1950 e 1960, estranhem um pouco a estética original da obra de Gershwin.
Hoje, ela pode ser vista como uma antiga foto em sépia, que, décadas depois, como qualquer obra clássica, mantém sua aura artística e força emotiva.
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