sábado, 15 de dezembro de 2012

Oscar, Décio e Goebel - Zuenir Ventura


O Globo - 15/12/2012

Em menos de uma semana, foram-se Décio Pignatari, Oscar Niemeyer e Goebel Weyne. De uma maneira ou de outra, estive ligado a eles por laços profissionais ou de amizade. “Oscar” — intimidade que ele concedia até aos jovens estudantes — acostumara o país com a ideia de que, além de gênio, não ia morrer nunca. Corria até a piada de que o Brasil precisava cuidar do futuro de suas crianças e do de Oscar Niemeyer. Ele mesmo parecia acreditar nisso. Quando fez 102 anos, fui visitá-lo com Roberto D’Ávila, e ele estava tendo aulas particulares de astronomia, física e filosofia, preocupado com o destino da humanidade diante das ameaças do aquecimento global. “É preciso conscientizar os jovens para esse risco”, nos conclamou. Fazia pouco ele levara um susto ao ser submetido a uma cirurgia de risco. Ainda na UTI, segredou para o sobrinho, o neurocirurgião Paulo Niemeyer: “Paulinho, nessa eu quase me fodi, né?” Por isso, achei que o anúncio de sua morte agora era mais um boato. Cheguei a esperar o desmentido, que dessa vez não veio, e o país se conscientizou de que vai precisar de mais 105 anos para produzir um novo Oscar Niemeyer. Não há mais de um em cada século.

Dois dias depois foi a vez de seu amigo Goebel Weyne, um de nossos melhores designers gráficos. Um pouco antes, foi Décio Pignatari, o poeta concretista e teórico da informação a quem a semiótica muito deve. Goebel e Décio (entre outros, como eu) participaram da fundação da Escola Superior de Desenho Industrial, a primeira da América Latina. Criada há 50 anos pelo então governador Carlos Lacerda e por seu secretário de Educação, Flexa Ribeiro, a Esdi foi para o design o que a Bossa Nova foi para a música; o Arena para o teatro; o Cinema Novo para o cinema; e Brasília para a arquitetura. Foi matriz — serviu de regra e compasso.

Mas enfrentou reações. “Para que desenho industrial, se nem indústria temos?”, perguntava-se. Naqueles tempos de utopia, impregnados do espírito visionário de JK, nada tinha lógica. Brasília, um delírio. Garrincha, com uma perna torta. Pelé, uma criança na seleção. O cinema, além de ideias na cabeça, só tinha câmeras vagabundas. E o forte da música era a voz fraca de João Gilberto. A Esdi, gestada nesse clima, era uma improbabilidade a mais. Hoje, a escola multiplicou-se pelo país e o design melhorou a forma e a imagem de nossos produtos.

Agora, ao som de Tom e Vinicius, é possível que JK junte os três lá em cima para encomendarlhes um projeto grandioso, bem a seu estilo.

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