sábado, 15 de dezembro de 2012

Futuro quase certo (Luiz Edmundo Alves) - André di Bernardi Batista Mendes‏

Zuns zum zoom mostra a maturidade e o vigor literário do poeta baiano Luiz Edmundo Alves 

André di Bernardi Batista Mendes
Estado de Minas: 15/12/2012 
O poeta, psicólogo, fazendeiro e jardineiro Luiz Edmundo Alves acaba de lançar, pela Anomelivros, Zuns zum zoom. Fugindo de enquadramentos, longe de parâmetros que mais prendem que orientam, a poesia de Luiz Edmundo arrebata na medida, sabe de cor do fogo da vida e desorienta, quando a palavra pede, quando o momento exige. 
Dono de uma pegada firme, o poeta tenta explicar, através do verbo, no texto “Arritmia”, a dura rotina de simplesmente enxergar: “escrevi quando admirei e achei o futuro tão certo, tão mais certo do que o presente, tão mais certo do que aquilo que escrevi e vivi. escrevi no muro no namoro na mora namorada na morada naturalmente. escrevi muito, escrevi pouco, no poço ou na possibilidade de ser livro de tempos em tempos. escrevi tanto tempo, vivi tempestades de tempos em tempos. tempestades de tempos em tempos transformando minha linguagem, transformando meu texto”.

Nada pode deter e nada detém um poeta que vive no cerne das forças naturais, na casa de tudo que pode ser naturalmente natural. É exatamente este tipo de força que orienta os vários sentidos e mostra a força sentimental dos textos de Luiz Edmundo. 

Com sua “poética de deslumbrante delírio”, como ressaltou Jovino Machado no prefácio de Zuns zum zoom, Luiz Edmundo capta a velocidade da vida, os seus “zás”, os “zuns” que só sabe o vento, a rapidez de um coração quando se encontra, desarmado, diante do vasto, perto de tudo que é verso. 

Luiz Edmundo busca a essência das pedras e, pode parecer estranho, ele busca a essência do que não existe, mas que fulgura numa latência cheia de quereres. O poeta busca a essência dos coisas que pulsam, e isso pode receber o nome de vida, porto, barco, imensidão.

Com sua poesia, transforma o livro, empresta significados ao simples gesto da escrita. O poeta inventa frases que amplificam o sabor do gesto: “na palma da página”. A poesia ganha vida, corpo inusitado vestido de nuvens, alma vestida de sonhos, com as linhas, com os liames da língua (que também pode ser desejo) e da linguagem (que é pura aspiração e vontade). 

O poeta, na verdade, nada quer, nada busca, pois já é, e já se encontra, e já está diante de um (novo) mundo, diante de um vivo turbilhão de coisas vivas. Pois sempre tem consequências este brincar com o fogo “também/ me interesso demais/ por corações que balançam/ por garotas que dançam/ por garotas que escrevem/ por paixões que fraturam/ por sonhos que perturbam/ por estrelas que explodem/ por palavras que inspiram/ por pessoas que criam”. A poesia de Luiz Edmundo é cheia de combustível. E é amavelmente inflamável.

Contudo, este tipo de poesia não surge, não é feita somente de flores bestas. Os poemas de Luiz Edmundo se nutrem de dissabores, de insultos, de desencantos: “meu saber aumenta quando/ não me conheço”. O poeta escreve – e reescreve – para melhor transformar. Para, até, o máximo em termos de ápice, não ser. O poeta beija e cobre a vida de curvas.

A ordem do que é poético desvirtua, desacredita, impõe um outro tipo de organização e inventa uma outra qualidade de organograma. A estrutura do poema é da ordem dos números, da alta matemática, do vento, que é fonte e resumo de tudo. A boa arrumação das letras no espaço (em branco) nunca tem lógica. A poesia e o poeta seguem um renque de pássaros. 

Luiz Edmundo Alves nasceu em Vitória da Conquista, Bahia, em 1959. Formou-se em psicologia e publicou os livros Entre outras coisas, Metropolitano aloucado, Sopro, Lampejos (premiada série de videopoemas), Na contraluz, Fotogramas de agosto e Uvas verdes. Antes de se tornar fazendeiro e jardineiro em Almenara, trabalhou 25 anos como videomaker em Belo Horizonte.

ZUNS ZUM ZOOM

De Luiz Edmundo Alves
Editora Anomelivros, 
80 páginas

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