Augusto Pio
Estado de Minas: 22/12/2012
Tachados por muitos como loucos, esse grupo de pessoas tão especiais é que fez e ainda faz o mundo mudar e caminhar mais facilmente. Pensando bem, o que seria da humanidade se não fossem os inventores? Essa é uma pergunta que realmente leva a uma reflexão. O homem teria conseguido ir até a Lua caso Santos Dumont não tivesse inventado o 14-Bis? Como ficaria o trem-bala se não fosse a locomotiva criada pelo mecânico inglês George Stephenson, nos idos de 1814? E o tão cobiçado celular, cuja invenção é atribuída ao engenheiro norte-americano Martin Cooper, considerado o pai da telefonia móvel, existiria hoje se não fosse o telefone bolado pelo escocês Alexander Graham Bell, em 1876? O que seria das grandes redes de TV, esse maravilhoso meio de comunicação que une o mundo inteiro, não fosse o escocês John Baird criar a televisão? E poderíamos nos questionar sobre uma gama enorme de inventos que surgiram para mudar a história.
No Brasil, além de Santos Dumont, que também criou o relógio de pulso, temos importantes invenções que se espalharam pelo globo, como o Bina, sistema de identificação telefônica criada há cerca de 30 anos pelo belo-horizontino Nelio José Nicolai, e a urna eletrônica, cuja invenção é atribuída ao juiz eleitoral catarinense Carlos Prudêncio, em 1989. Além desses, o cartão telefônico também é uma criação nacional, do engenheiro mineiro Nélson Guilherme Bardini, em 1978. Pode-se citar ainda o escorredor de arroz, bolado em 1959 pela dona de casa paulista Therezinha Beatriz Alves de Andrade Zorowich. Embora tenha surgido das mãos e da mente de um alemão, o walkman é considerado invento brasileiro. É que Andreas Pavel mudou-se para o Brasil aos 6 anos e aqui mesmo, em 1972, inventou o aparelho. A abreugrafia, nascida em 1950 pelas mãos do paulista Manuel de Abreu, fascinado pela radiologia, avançou fronteiras e correu o mundo.
Natural de São Lourenço, no Sul de Minas, Paulo Gannam está com cinco invenções com patentes requeridas e cerca de 700 ideias estocadas. “Estou certo de que há muita inutilidade nessa lista, mas sei que há invenções que podem criar negócios bastante rentáveis. Todas as minhas invenções estão em fase de divulgação e sendo analisadas pelos departamentos competentes de empresas que contatei. Meu desejo é que algum empresário, investidor ou empresa observe o potencial que vejo nessas criações para que possamos ser parceiros.”
Gannam destaca o desembaçador de vidro para espelhos de banheiro. “Trata-se de um sistema de filamentos quentes embutidos na parte de trás do espelho, que ao detectar o vapor oriundo do chuveiro são acionados automaticamente por meio de um sensor ou ainda podem ser ligados manualmente por um interruptor.” Há também o sensor lateral de estacionamento junto ao meio-fio, que avisa o momento em que o condutor está próximo de encostar o pneu ou a roda no meio-fio.
Há ainda o protetor de unhas para portadores de onicofagia (termo técnico para o hábito de roer unhas). “É uma película de revestimento, sem causar desconforto. Outro invento é o sistema de cooperação no trânsito, que funciona por meio de um dispositivo eletrônico e alerta sobre qualquer problema identificável em um veículo, como luzes queimadas e pneus murchos, entre outros. O dispositivo também facilita o intercâmbio de informações entre os motoristas, que podem emitir alertas sobre acidentes, animais, incêndios e neblina”, enumera o inventor.
Deuslar Maria Neto também já criou muita coisa, porém gosta de citar o capacete para soro. “O soro fica encaixado em um recipiente colocado atrás do capacete. Não fica nem ‘dançando’ nem espremido no local, por isso o líquido tem queda livre, caindo pela própria lei da gravidade, podendo ser controlado. Usando o capacete, o paciente terá as mãos livres e pode circular livremente”, conta ele, que bolou ainda o coletor de gordura, um exaustor que pode ser instalado tanto para uso caseiro como industrial; a tampa para copos, cujo objetivo é evitar que caia alguma coisa na sua bebida. Assim como Gannam, Deuslar está à espera de parceiros para lançar suas invenções no mercado. Apesar da expectativa, eles não fazem ideia de quanto custaria bancar os projetos.
HABILIDADE NATA Essas pessoas e mais centenas de tantas outras estão espalhadas Brasil afora. Muitas criam pela habilidade nata de inventar soluções – para coisas simples e outras mais complicadas. Há quem nunca tenha entrado numa universidade, tampouco tem uma pós-graduação. Mas é ágil com a lógica, com as mãos e com as ideias. Um dos principais entraves por parte desses inventores diz respeito à falta de incentivo financeiro para que as criações ganhem a escala produtiva e cheguem às mãos do consumidor final. “Infelizmente, nós inventores não temos nenhuma proteção e muito menos podemos ficar falando de nossos inventos, pois corremos o risco de ter nossas ideias copiadas. Apesar de não falar muito do que eu crio, estou à espera de um parceiro para lançar as ideias”, diz o psicólogo Jefferson Fernandes e Silva, que trabalha com projetos para máquinas grandes, que, segundo ele, podem trazer economia para empresas e para o poder público. Henrique Pereira de Jesus, empresário e inventor, também lamenta as dificuldades para poder comercializar suas engenhocas.
“O primeiro foi um tônico capilar, feito por meio de muita inspiração e pesquisa. Depois, criei outro produto 100% natural que elimina frieiras e um óleo hidratante para a pele, que elimina o ressecamento, escamação e as rachaduras. Essas três invenções estão patenteadas e aguardando um investimento para chegar ao mercado. Tenho mais seis produtos que ainda não patenteei e tenho a esperança de encontrar alguém que se interesse por eles.”
ERGOBERÇO
Simone Caldas Mafra, pesquisadora do Departamento de Economia Doméstica da Universidade Federal de Viçosa, inventou o ergoberço. Ela fez uma pesquisa com algumas famílias e concluiu que, do mobiliário infantil, o berço é o que oferece maiores riscos aos usuários. Percebeu que os acidentes estavam relacionados a quedas e à prisão dos braços ou da cabeça entre as grades do móvel. O protótipo foi desenvolvido com o apoio da Fapemig. O ergoberço tem espaçamento menor, que impede a criança de tentar passar por ele a cabeça, pernas e braços. Outras características são a ausência de pregos e parafusos.
Chance aos independentes
Gannam destaca o desembaçador de vidro para espelhos de banheiro. “Trata-se de um sistema de filamentos quentes embutidos na parte de trás do espelho, que ao detectar o vapor oriundo do chuveiro são acionados automaticamente por meio de um sensor ou ainda podem ser ligados manualmente por um interruptor.” Há também o sensor lateral de estacionamento junto ao meio-fio, que avisa o momento em que o condutor está próximo de encostar o pneu ou a roda no meio-fio.
Há ainda o protetor de unhas para portadores de onicofagia (termo técnico para o hábito de roer unhas). “É uma película de revestimento, sem causar desconforto. Outro invento é o sistema de cooperação no trânsito, que funciona por meio de um dispositivo eletrônico e alerta sobre qualquer problema identificável em um veículo, como luzes queimadas e pneus murchos, entre outros. O dispositivo também facilita o intercâmbio de informações entre os motoristas, que podem emitir alertas sobre acidentes, animais, incêndios e neblina”, enumera o inventor.
Deuslar Maria Neto também já criou muita coisa, porém gosta de citar o capacete para soro. “O soro fica encaixado em um recipiente colocado atrás do capacete. Não fica nem ‘dançando’ nem espremido no local, por isso o líquido tem queda livre, caindo pela própria lei da gravidade, podendo ser controlado. Usando o capacete, o paciente terá as mãos livres e pode circular livremente”, conta ele, que bolou ainda o coletor de gordura, um exaustor que pode ser instalado tanto para uso caseiro como industrial; a tampa para copos, cujo objetivo é evitar que caia alguma coisa na sua bebida. Assim como Gannam, Deuslar está à espera de parceiros para lançar suas invenções no mercado. Apesar da expectativa, eles não fazem ideia de quanto custaria bancar os projetos.
HABILIDADE NATA Essas pessoas e mais centenas de tantas outras estão espalhadas Brasil afora. Muitas criam pela habilidade nata de inventar soluções – para coisas simples e outras mais complicadas. Há quem nunca tenha entrado numa universidade, tampouco tem uma pós-graduação. Mas é ágil com a lógica, com as mãos e com as ideias. Um dos principais entraves por parte desses inventores diz respeito à falta de incentivo financeiro para que as criações ganhem a escala produtiva e cheguem às mãos do consumidor final. “Infelizmente, nós inventores não temos nenhuma proteção e muito menos podemos ficar falando de nossos inventos, pois corremos o risco de ter nossas ideias copiadas. Apesar de não falar muito do que eu crio, estou à espera de um parceiro para lançar as ideias”, diz o psicólogo Jefferson Fernandes e Silva, que trabalha com projetos para máquinas grandes, que, segundo ele, podem trazer economia para empresas e para o poder público. Henrique Pereira de Jesus, empresário e inventor, também lamenta as dificuldades para poder comercializar suas engenhocas.
“O primeiro foi um tônico capilar, feito por meio de muita inspiração e pesquisa. Depois, criei outro produto 100% natural que elimina frieiras e um óleo hidratante para a pele, que elimina o ressecamento, escamação e as rachaduras. Essas três invenções estão patenteadas e aguardando um investimento para chegar ao mercado. Tenho mais seis produtos que ainda não patenteei e tenho a esperança de encontrar alguém que se interesse por eles.”
ERGOBERÇO
Simone Caldas Mafra, pesquisadora do Departamento de Economia Doméstica da Universidade Federal de Viçosa, inventou o ergoberço. Ela fez uma pesquisa com algumas famílias e concluiu que, do mobiliário infantil, o berço é o que oferece maiores riscos aos usuários. Percebeu que os acidentes estavam relacionados a quedas e à prisão dos braços ou da cabeça entre as grades do móvel. O protótipo foi desenvolvido com o apoio da Fapemig. O ergoberço tem espaçamento menor, que impede a criança de tentar passar por ele a cabeça, pernas e braços. Outras características são a ausência de pregos e parafusos.
Chance aos independentes
Mônica esclarece que ideias não são passíveis de proteção intelectual. “O inventor deve procurar a Fapemig quando sua tecnologia estiver materializada e/ou quando conseguir descrever sua criação com riqueza de detalhes, demonstrando suficiência descritiva da tecnologia. Cabe ressaltar que, além da Fapemig, há os núcleos de inovação tecnológica, vinculados às instituições científicas e tecnológicas (ICTs), que podem auxiliar inventores independentes no estabelecimento de parcerias para desenvolvimento da tecnologia e/ou proteção da criação”, explica. Um exemplo interessante, entre várias invenções que receberam apoio da fundação, é o pedido de patente em cotitularidade com o inventor independente Magno Macedo Quintano. “O pedido se refere a um sensor automotivo que informa o volume real do combustível no tanque do veículo”, conta Mônica.
Para solicitar apoio, é necessário que o inventor independente preencha um formulário de proteção de propriedade intelectual, disponível no sitewww.fapemig.br/apoio/inovacao/propriedade-intelectual/apoio-a-inventores-independentes/. A fundação recebe em média 20 pedidos de apoio por ano. Atualmente, está com 26 depósitos de pedidos de patentes em cotitularidade com inventores independentes. O contato deve ser feito por e-mailci@fapemig.br ou por carta, para Rua Raul Pompeia, 101, Bairro São Pedro, CEP: 30330-080, Belo Horizonte (MG).
O processo de pedido de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) pode levar cerca de oito anos. Porém o inventor, por meio do número do protocolo que lhe é dado quando deposita o pedido no Inpi, fica protegido e pode negociar seu invento.
PALAVRA DE ESPECIALISTA » Salão dá oportunidade para todos
Wagner José Fafá Borges - presidente do Instituto Mineiro da Inovação
e criador do Salão do Inventor
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