sábado, 22 de dezembro de 2012

Nostalgia reciclada - Mariana Peixoto‏

Nomes emblemáticos do pop rock brasileiro, Titãs, Lulu Santos e Planet Hemp mandam para as lojas caixas com antigos trabalhos. Produtos bem-acabados vêm a calhar com a época de Natal 

Mariana Peixoto
Estado de Minas: 22/12/2012 
Fala-se, não é de hoje, da crise do pop rock nacional. É só conferir a produção do ano que passou para notar: se há novidade, ela está bem longe das rádios. Nas paradas musicais, o que se ouviu ao longo de 2012 foram não mais que “tchus e tchas”, “oioiois” e repetições do gênero. E, vale dizer, o público da música comercial jovem, sem grandes atrativos, bandeou para o lado mais popularesco da nova geração de astros sertanejos. Então, mais uma vez, é hora de remexer o baú. Já que CD ninguém vende mais, caixas com encartes benfeitos ainda são atrativo para fãs e colecionadores. Três projetos do gênero acabam de chegar às lojas (nada mais providencial que o período natalino para vender). Todos vêm na esteira de efemérides. Os Titãs lançam a turnê Cabeça dinossauro em três versões, 25 anos depois do lançamento original; Lulu Santos reúne sua discografia para celebrar três décadas da estreia em disco; e o Planet Hemp, antecipando os 20 anos de formação e comemorando o bem-sucedido retorno aos palcos, mandou para as vitrines um conjunto de cinco CDs.

LULU SANTOS
Que bem faz um reality show à carreira de veteranos que já tiveram melhores dias. Steven Tyler, do Aerosmith, que o diga, depois de duas temporadas no júri de American idol. A versão brasuca de The voice, encerrada recentemente, deu nova visibilidade a Lulu Santos, um dos jurados. O roqueiro, que completa 60 anos em 2013, só tem a agradecer ao ano que está passando.

Em seu projeto de releituras de músicas de Roberto e Erasmo Carlos, o cantor viveu grande momento no palcos (também visto por aqui, no Palácio das Artes). Toca Lulu, título da caixa com quatro discos lançada agora, foi tirado, inclusive, do grito dos espectadores que foram a esse show no Rio de Janeiro.

A razão de ser da caixa são os 30 anos do lançamento de seu álbum de estreia, Tempos modernos (1982). O material inclui fonogramas de três gravadoras (Sony, BMG e Warner), além daqueles de fase mais recente, que pertencem ao próprio Lulu. O material está dividido em quatro temas: acústico, estúdio, ao vivo e pista.

A divisão foi bem coerente, porque a carreira de Lulu, nessas três décadas, tomou rumos bem diversos. Se no momento inicial o roqueiro se sobressaía, à medida que a música mudou ele foi acompanhando. Seu trabalho ganhou contornos mais dançantes a partir da segunda metade dos anos 1990. Rock e pop em igual medida, ele, a despeito de alguns deslizes, sempre foi bom cancionista.

Dessa forma, o melhor está no CD Estúdio, que retrata a fase inicial, com Areias escaldantes, De repente Califórnia, Tesouros da juventude, Adivinha o quê? e outras tantas da mesma safra. Acústico reúne faixas que fizeram parte dos dois álbuns do gênero que o carioca gravou para a MTV. Por sua vez, Ao vivo mistura velhas (Como uma onda, O último romântico) a canções mais recentes (Já é!, Sincero).

O disco Pista traz de hits radiofônicos da fase com o DJ e produtor Memê (Delete, Aviso aos navegantes) a momentos não inspirados, como um passeio pelo funk (em versão de Toda forma de amor) e rap (Deixa isso pra lá). Não se pode acertar sempre, mas nesses casos Lulu errou demais.


TITÃS
No original de 1986, eles eram oito. Vinte e cinco mais tarde e reduzidos a quatro integrantes, os Titãs reviveram, ao longo de 2012, seu mais importante álbum. Cabeça dinossauro rodou o país em turnê energética e, de certa forma, redentora para uma banda alquebrada pela passagem do tempo, por crises internas e de criatividade. No primeiro semestre, o álbum original foi reeditado em CD e LP. Agora, chega à obrigatória versão ao vivo em CD, DVD e blu-ray.

Ainda que o show (que passou por BH em agosto) tenha quase duas horas, o que está sendo lançado é exclusivamente o Cabeça e suas 13 faixas na sequência original, que vão pouco além de 40 minutos. Oscar Rodrigues Alves, que dirigiu com Branco Mello o documentário A vida até parece uma festa (2008), assumiu o projeto. 

O show foi gravado em junho, no Circo Voador carioca. O grande mérito é o formato. Câmeras na mão instaladas em lugares estratégicos, edição nervosa e a finalização em preto e branco garantem uma “sujeira” que vai ao encontro da crueza das canções. Mesmo com tanto tempo passado, as canções de sempre mantêm sua força. Paulo Miklos, hoje o grande nome dos Titãs, inicia Polícia com os versos da marchinha Acorda Maria Bonita (Que o dia já vem raiando/ E a polícia já está de pé). Panis et circenses (Caetano Veloso-Gilberto Gil), sucesso dos Mutantes, é citada em Família, o momento “fofo” da noite.

A importância de Cabeça para a discografia do rock nacional é mais que reconhecida. E a maneira como o público se comporta (como nas imagens durante a execução da faixa-título e de AA UU) só vem provar que esse álbum é muito maior do que o rumo que os Titãs tomaram.

Mas atenção: passado o momento comemorativo, é hora de olhar para a frente, fazendo jus a um passado grandioso. 


PLANET HEMP
No fim de janeiro, Marcelo D2, BNegão, Rafael Crespo (guitarra), Formigão (baixo) e Bacalhau (bateria) vão se abraçar e dizer algo como “um dia, quem sabe?”. A volta do Planet Hemp para uma série de shows (eles também passaram por BH no início do mês), 10 anos depois de o polêmico grupo se separar, trouxe na esteira o relançamento de discos. Os dois primeiros dos três álbuns de estúdio – Usuário (1995) e Os cães ladram mas a caravana não para (1997) – viraram LPs há pouco tempo. 

Só que em 2013 eles vão comemorar 20 anos. Como a banda já descartou prosseguir com os shows ou fazer álbum de inéditas, o jeito é novamente olhar para o passado. O box que chega ao mercado traz cinco CDs mais um livrinho com todos os encartes. Além dos dois já citados, há o terceiro e último de estúdio, A invasão do sagaz homem fumaça, mais MTV – Ao vivo (2001) e uma raridade, dessas de fazer a alegria dos fãs: o disquinho Hemp new year, que a banda distribuiu apenas para amigos no Natal de 1996. 

Vale pelo ineditismo, pois o material original é muito melhor. Hemp new year traz nove faixas, como os remixes de Dig dig dig e Legalize já, algumas versões ao vivo e outras demo. Para não iniciados na Família Hemp, mais importante é ouvir os originais. Desses, o conceitual Usuário é o melhor. Dezessete faixas versam sobre a cannabis em hardcore e rap. Clássicos do Planet estão ali, como Legalize já, Fazendo a cabeça, Mantenha o respeito e Dig dig dig. O discurso é politizado, como toda a carreira da banda. Um tom bem diferente da mesmice radiofônica em que a carreira solo de D2 se transformou.

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