Livro sobre fundador de "O Globo" mostra que ele investiu em cinema em 1917, publicou Lima Barreto e apadrinhou Pixinguinha
O desfecho é conhecido: Roberto, o primogênito de Marinho, tomaria as rédeas do jornal e criaria o maior conglomerado de mídia do país. Mas poucos conhecem a trajetória do homem que começou esta história.
"Irineu Marinho - Imprensa e Cidade", livro recém-lançado, recupera com esmero a vida do patriarca global. Historiadora e socióloga de extenso currículo Lattes, a autora Maria Alice Rezende de Carvalho realiza no livro um trabalho híbrido entre a biografia e a história social.
Tomando como fio condutor a carreira de Marinho, ela narra, sem muitas delongas, algumas das grandes transformações na sociedade brasileira no início do século 20: começo tumultuado de República, fim da escravidão, transformações urbanísticas no Rio e assim por diante.
Foi nesse quadro que começou a surgir no Rio de Janeiro uma imprensa de alcance popular, fenômeno no qual Irineu Marinho veio a exercer importante papel.
Niteroiense, filho de família classe média baixa de imigrantes portugueses, ele começou no jornalismo aos 15 anos, como suplente de revisor. Tomava a barca e ia ao Rio bater na porta do "Diário de Notícias", que tinha como diretor um dos grandes homens da época, o jurista Rui Barbosa. Muitas barcas depois, encaixou-se noutro jornal emergente, a "Gazeta de Notícias", onde foi de revisor a diretor em seis anos.
Em 1911, aos 35 anos, fundou o jornal "A Noite", que representaria um marco no jornalismo brasileiro.
"O novo jornal foi em busca do leitor comum, adaptou a ele sua linguagem e temática, ampliou a presença de reportagens", anota o historiador José Murilo de Carvalho, na introdução do livro.
O diário dava resultados do jogo do bicho, promovia concursos de beleza, abria espaço para matérias policiais.
Tal como fazia no jornal, seguindo a tendência da imprensa americana, Marinho apostava no negócio do entretenimento fora dele. Ainda que sem grande sucesso, criou uma produtora de cinema em 1917, a Veritas Film, que teve vida curta, mas que lançou filmes como o pioneiro thriller "A Quadrilha do Esqueleto", que inclui uma cena de fuga nos cabos do bondinho do Pão de Açúcar.
Também fundou a editora de livros Empresa de Romances Populares, que publicou Lima Barreto. E apadrinhou Os Oito Batutas, conjunto em que brilhava Pixinguinha.
Mas nem tudo era entretenimento. Pela postura muitas vezes oposicionista do jornal, foi perseguido por Hermes da Fonseca, preso por Epitácio Pessoa e partiu para o autoexílio sob a presidência de Artur Bernardes. Em 1922, por suspeita de simpatia pelo tenentismo, foi detido e levado à Ilha das Cobras, onde ficou por quatro meses.
Mais adiante, com a saúde fragilizada, foi passar temporada, com a mulher, Dona Chica, e os seis filhos, na Europa. Enquanto isso, em trama complexa e pouco clara, perdeu o controle do jornal.
Ao resolver lançar um novo diário, promoveu uma enquete: o nome escolhido, "Correio da Noite", já estava registrado. Teve de adotar o nome do segundo colocado nas pesquisas. Assim nasceria "O Globo".
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