Negociações no Qatar se estenderam pela madrugada de ontem para hoje
Desavença quanto ao financiamento de ajuda a países pobres impediu a assinatura de um documento na sexta
Osama Faisal/France Presse | ||
Protesto de ONGs pedindo mais ação contra as mudanças climáticas usou aranha gigante para chamar a atenção em Doha |
A extensão do Protocolo de Kyoto -atualmente o único compromisso mundial contra o aquecimento, que vence no próximo dia 31- deve acabar saindo, apesar de um aparente descontentamento geral com o texto.
O negociador-chefe do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo Machado, que recebeu do presidente da COP a missão de resolver a questão, resumiu o espírito do texto.
"Tem muita coisa que nós queríamos, que nós achamos importante, e que vai acabar ficando de fora. Mas estamos trabalhando com o melhor arranjo possível", afirmou.
Negociadores ouvidos pela Folha afirmaram que muito provavelmente a redução de emissões de gases-estufa prevista por esse "puxadinho" de Kyoto valerá até 2020, quando deve entrar em vigor um grande pacto global, com metas de redução para todos os países.
QUENTE
A questão do chamado "hot air" -bônus de emissões da Rússia, Polônia e Ucrânia, que emitiram menos do que poderiam na primeira etapa e queriam levar para a segunda fase do acordo- encaminhava-se para um consenso.
Essas nações devem ter um "bônus" de no máximo 2,5% da meta original de redução.
E, para o descontentamento dos países da Europa Oriental e de alguns outros, a delegação brasileira parece ter conseguido colocar no texto mecanismos que limitam a possibilidade de negociação dos créditos de carbono vinculados a essas reduções.
De acordo com Figueiredo, um dos objetivos do Brasil nas negociações foi impedir a bagunça financeira que começou a rondar o mercado de créditos verdes.
Ou seja: países que não conseguiram cumprir suas metas de redução de emissões e desejarem usar as as toneladas de carbono "sobressalentes" das dos outros poderão comprar os créditos, mas não devem poder revendê-los, evitando a especulação com esses títulos.
FINANÇAS EMPACAM
E, se chegar a um consenso sobre a redução das emissões já estava difícil, definir como pagar a conta é ainda pior, segundo o negociador brasileiro André Corrêa do Lago. "Ainda está tudo muito indefinido", disse.
Há três anos, os países desenvolvidos -como maiores responsáveis pelas emissões que já causam o aquecimento global- concordaram em financiar programas de adaptação nos mais pobres.
Ficou combinado um fundo rápido, de US$ 30 bilhões até 2012. E, a partir de 2020, US$ 100 bilhões anuais.
Os países em desenvolvimento exigem uma definição clara sobre como esse dinheiro será distribuído. Os ricos saem pela tangente e explicam que, com a crise econômica prolongada, isso fica mais difícil de dizer.
O clima de descontentamento era geral. Os EUA, considerados pelas ONGs os maiores vilões pela falta de avanço nesse assunto, bloquearam uma dezena de pontos no texto.
Costa Rica, Egito e vários outros países em desenvolvimento também já disseram que, do jeito que está, não aceitam o documento.
Em todo caso, o governo do Qatar já mandou reservar o centro de convenções e os ônibus que servem o evento até segunda-feira.
Cético britânico dribla segurança e discursa na COP
DA ENVIADA A DOHAO cético do clima britânico Christopher Monckton conseguiu driblar a segurança da ONU e entrou de "penetra" em uma das plenárias da conferência COP-18.Não satisfeito, Monckton, que tem o título de visconde de Brenchley (herdado de seu pai e de seu avô), conseguiu discursar na reunião e denunciou o que ele chama de farsa do aquecimento global.
O cético, um dos grandes opositores em seu país do consenso científico sobre as mudanças climáticas, estava credenciado para a COP, mas apenas como membro de sua ONG, o Comitê para um Amanhã Construtivo, e não poderia discursar nas plenárias.
Depois da ocorrência, o perfil oficial da Convenção Quadro da ONU para Mudanças Climáticas deu esclarecimentos no Twitter e informou que ele foi expulso da COP.
"Lord Monckton perdeu sua credencial e foi escoltado para fora do local da COP-18 por fingir ser um delegado e violar o código de conduta da convenção."
Figura polêmica no Reino Unido, Monckton herdou o título de nobreza após uma lei de 1999 que instituiu que ninguém se tornaria membro da Câmara do Lordes (uma das duas casas do Legislativo britânico) apenas em virtude da hereditariedade. Na época, declarou que a lei era falha e inconstitucional.
Também ontem, dois jovens foram expulsos da COP por protestarem contra a falta de ação do governo do Qatar contra o aquecimento.
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