LE Monde
Maryline Baumard
- 11.jan.2013- Militantes colam pôsteres na parede de um prédio na cidade de Nantes, na França, anunciando uma manifestação para o dia 13 de janeiro contra a legalização do casamento gay. Os planos do governo francês de ampliar o direito ao casamento e adoção aos gays está dividindo os franceses, principalmente os líderes católicos e muçulmanos
Eric de Labarre saiu de seu regime de silêncio. Apresentada como uma iniciativa de paz no debate entre o ensino católico e o ministro da Educação Vincent Peillon, a coletiva de imprensa do secretário-geral do ensino católico, na última terça-feira, lhe permitiu sobretudo lembrar seu posicionamento e fazer alguns esclarecimentos.
Primeiro: se o e-mail enviado a seus diretores de escola no dia 12 de dezembro de 2012 para lembrar que a Igreja é contra o "casamento para todos" e sugerir que sejam "tomadas iniciativas" em torno desse tema tivesse de ser refeito hoje, ele o reescreveria "sem mudar uma vírgula".
Ao ministro que o havia acusado de ter cometido "um erro", ele respondeu um categórico "eu contesto formalmente ter cometido qualquer erro que seja e não admito nem mesmo ter cometido uma gafe". Esse foi o segundo ponto. Ou até terceiro, uma vez que a "gafe" era uma resposta ao editorial do "La Croix" de segunda-feira (7).
O "Le Monde" também foi alvo de críticas em tom similar, mas firme. Dar a entender que ele estava às ordens dos bispos soou para seus ouvidos como "um atentado" à sua "dignidade". "Vocês fazem de mim um homem servil por interesse. Só que lhes afirmo que a carta foi escrita sem qualquer orientação dos bispos", faz questão de explicar esse acadêmico, professor de direito público, que detesta que coloquem em dúvida seu livre-arbítrio.
No entanto, Eric de Labarre diz ter vivido à "distância" essa crise motivada pelo "casamento para todos", que ouviu falar dela através de terceiros! Antes da direção do ensino católico, que ele ocupa desde o dia 1º de setembro de 2007, ele presidia a Associação de Pais e Alunos do ensino privado.
Sua chegada à direção da associação em 1998 foi marcada por uma "campanha de calúnias" que fazia dele um católico integrista próximo da extrema direita. "Isso durou quatro meses, sofri muito. Mas me deu uma carapaça que hoje permite que eu viva minhas responsabilidades com serenidade." O fundamento desses rumores? "Sou até um bom candidato para isso: sobrenome nobre, uma esposa de sobrenome nobre, um filho padre na Fraternidade Saint-Pierre. Além disso, sou jurista em uma universidade que não tem reputação de esquerda [a universidade Montesquieu-Bordeaux-IV]."
Ciente de sua imagem, Eric Mirieu de Labarre – seu nome completo – aponta enquanto fala para seu terno azul-marinho, com o distintivo da Legião de Honra na lapela, e sua gravata impecavelmente clássica. E diz com uma piscadela, "ainda mais que eu não me disfarço!"
É verdade que esse homem de 58 anos, pai de cinco filhos, é inabalável, como teria dito o prefeito de Bordeaux, Alain Juppé, que pediu para ele a Legião de Honra.
Há quem defina o personagem inteiro em sua relação com o direito, tida como expansiva. Como se essa disciplina tivesse se tornado parte integrante de sua pessoa e de sua abordagem sobre as questões. Na escola católica, ele se distinguiu de seus antecessores por esse olhar que alguns consideram um pouco árido, ao qual falta um tanto de filosofia, às vezes de antropologia. Ou de pedagogia.
Eric de Labarre sabe que a inovação pedagógica é uma das riquezas das escolas privadas, a razão pela qual, no início de cada ano escolar, 40 mil alunos permanecem em sua lista de espera. No entanto, não é um território no qual ele tenha se aventurado durante seus dois mandatos.
Às vezes ele é criticado por demorar para tomar decisões. Na verdade, esse é seu método: ele se baseia em reuniões, comissões e também em uma equipe próxima, e em seguida decide. "Meu maior sucesso é esse grupo de seis pessoas, com seus laços fortes, suas diferenças e suas complementaridades". Perfis diversificados o bastante para que seu dream team não tenha votado em uníssono no segundo turno da eleição presidencial, o que ele elogia.
Obras a realizar
Não saberemos se ele gostaria de continuar mais tempo na direção do ensino católico. "Não sou eu que decido", ele conta, como se a sentença dos bispos o impedisse de ter uma vontade. A alguns meses do fim de seu mandato, ele acredita ainda ter obras a realizar: fundir alguns de seus 8.300 estabelecimentos, oferecer uma melhor gestão de carreira a seus funcionários que muitas vezes permanecem em um único estabelecimento.Acima de tudo, ele deve terminar de reescrever os estatutos do ensino católico. Os anteriores datam de 1992. O preâmbulo era escrito pelos bispos e a centena de artigos redigidos pelo ensino católico. Dessa vez, tudo deve ser redigido de comum acordo. O trabalho começou em agosto de 2010 e terminará este ano.
Existe muito em jogo, e há quem acredite que a Igreja aproveitará a ocasião para se estabelecer mais à vontade. Respeitando a Lei Debré de 1959, que coloca como princípio a dupla tutela do Estado e da Igreja, é claro! Eric de Labarre não nega.
Embora ele reconheça que esses estatutos têm um outro objetivo mais prático, ele também comemora "o interesse renovado dos bispos pela escola católica". Além disso, ele lembra que é responsável por um dos cinco grandes serviços da Igreja. Uma Igreja que quer recristianizar a escola privada, e isso lhe convém.
"Na época dos secretários-gerais anteriores, não teríamos vivido episódios como o que estamos atravessando hoje". A frase volta como um refrão na boca daqueles que conheceram seus antecessores ou observam o ensino católico há muito tempo. Provavelmente, mas Eric de Labarre chegou à frente do ensino católico num momento em que a escola foi designada como terra de reconquista pelo próprio papa.
Tradutor: Lana Lim
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