Brasil, um retrato em tom cinza
Pesquisa sobre capacidade de o país enfrentar grandes crises não dá resultados nem confortáveis nem trágicos
O Brasil nem está tão bem quanto parecem acreditar o governo e os governistas mais empedernidos nem tão mal como querem fazer crer recentes análises, nacionais e estrangeiras.Esse tom cinza transparece da pesquisa "Percepção de Riscos Globais", feita por iniciativa do Fórum Econômico Mundial (pelo oitavo ano consecutivo). Foram ouvidos mil especialistas de 139 países, entre executivos, acadêmicos e membros do governo e da sociedade civil.
Dá até para dizer que o copo do Brasil está meio cheio quando a pergunta se refere ao país todo, e não apenas a seu governo. A pergunta foi esta: "Se este risco [econômico, ambiental, geopolítico, social ou tecnológico] se materializasse no país em que você é especializado, qual seria a capacidade dele de se adaptar ou se recuperar do impacto?".
Os dados recolhidos, dizem os autores do relatório, só permitiram comparações entre dez países. O Brasil sai-se excepcionalmente bem no quesito adaptabilidade a um grande risco econômico: ganha de Índia, Itália, Japão, Rússia e Reino Unido. Empata com os Estados Unidos e só perde para Alemanha, China e Suíça (esta a mais preparada).
Já na hipótese de risco ambiental, o resultado é menos positivo: o Brasil só está mais apto a resistir a ele do que a Índia e a Itália, entre os dez países para os quais há dados comparáveis.
O copo meio vazio aparece nas respostas a outra pergunta: "Como você avalia a eficácia e o monitoramento do seu governo na preparação para responder ou mitigar grandes riscos globais?" [crises financeiras, desastres naturais, mudança climática, pandemias etc.] O Brasil fica em 45º lugar entre 139 países.
Não é uma posição confortável para um país que foi alçado à condição de potência já para o ano 2020, que está virando a esquina, conforme os búzios jogados pela Goldman Sachs, para criar a sigla BRICs.
Essa colocação intermediária combina com a perda de brilho mais recente do Brasil emergente.
O país fica atrás de três dos outros quatro BRICS (China, 30º; África do Sul, 34º; e Índia, 38º), mas ganha da Rússia (73º).
Na América Latina, superam o Brasil o Chile, eterno queridinho dos mercados, que fica em luminoso 10º lugar, e o México, o novo "darling", que é o 12º.
Mas a posição não é tão ruim assim. Sua nota (4,16, quando o máximo é 7) não fica muito longe do melhor colocado entre os países grandes, o Canadá (5º colocado, com 5,41). Os quatro primeiros são países pequenos demais para serem comparáveis (Cingapura, Qatar, Omã e Emirados Árabes Unidos).
Horrível mesmo é a posição de Argentina e Venezuela, penúltima e última colocadas, atrás até da falida Grécia.
Ranking à parte, o relatório 2013 sobre riscos globais abre com a afirmação de que "persistente mal estar econômico acoplado a frequentes eventos climáticos extremos compõem uma mescla crescentemente perigosa".
É um bom sinal saber que a comunidade empresarial, clientela principal do Fórum, começa a pôr a mudança climática na agenda.
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