Familiares cadastrados receberão informações via SMS no litoral paulista, onde, desde 21/12, houve 323 casos de crianças perdidas
Produto, que será lançado no dia 25, custará R$ 6 e poderá ser usado também em shoppings e aeroportos
Só no auge deste verão, de 21 de dezembro a 10 de janeiro, o litoral paulista já soma 323 casos de crianças perdidas, segundo o Corpo de Bombeiros - o que representa um avanço de 41% em relação à temporada passada e de 201% ante a de 2010/2011.
De fabricação chinesa, a nova pulseirinha deve chegar primeiro às areias do Guarujá, a partir do dia 25. A ideia é da ONG Anjos do Verão, grupo de voluntários que há seis anos espalhou o "batepalmaço" para localizar crianças que se perdiam na multidão.
Na nova estratégia, o grupo instala um código numérico em baixo relevo na pulseira -que pode ser usada por até dois anos- e cadastra no sistema dados da criança, celular e e-mail dos pais e de outros familiares.
Se a criança se perder, quem encontrá-la verá na pulseira instruções para que envie SMS ao grupo ou acione o código na internet, no site www.sosanjos.com.br.
Assim que o código é digitado, familiares cadastrados recebem automaticamente uma mensagem dizendo que a criança foi encontrada.
O sistema permite ainda cadastrar o nome e telefone de quem a encontrou e informar um ponto de referência. Um geolocalizador também avisará aos pais de onde o código foi acionado.
Segundo o coordenador da Anjos do Verão, Rui Silva, a ideia é instituir uma nova forma de identificação, sem correr o risco de expor dados da criança e da família.
Inicialmente, a nova pulseirinha custará R$ 6 -o valor deve bancar custos do desenvolvimento do sistema e monitores para atuar nas praias. O material pode ser adquirido na praia da Enseada, no Guarujá.
Desde 2006, a ONG afirma ter encontrado 1.030 crianças -a meta é chegar a 1.200 nesta temporada. Agora, a ideia é levar o sistema para além da faixa de areia.
"Queremos criar um ponto de encontro eletrônico que sirva não só para as praias, mas também para o pai que leva os filhos ao shopping, ao aeroporto ou até a rua 25 de Março", diz Silva.
FRASE
FOLHA VERÃO
15 crianças se perdem por dia no litoral paulista
Registro de ocorrências também cresce em praias de outros Estados, como em Santa Catarina e no Paraná
Corpo de Bombeiros diz que o aumento nesta temporada é 'atípico' e indica que pais devem redobrar a atenção
"Ele estava a poucos metros e sumiu. Achei que o tivessem levado", diz Marilsa Trindade, 32, que passava férias com o filho na praia da Enseada.
Um parente ficou no guarda-sol, enquanto ela e o marido saíram à procura. Encontraram o garoto 30 minutos depois, com ajuda de guarda-vidas e voluntários. "Parecia uma eternidade. Quando o vi, só sabia chorar e abraçá-lo."
Casos como esse, registrado no último domingo, têm sido mais frequentes no litoral paulista. Segundo o Corpo de Bombeiros, o número de crianças perdidas na praia dobrou nos últimos dois anos -de 607 em 2011 para 1.161 em 2012.
O verão concentra a maioria dos casos. Só nesta temporada (do dia 21/12 até o último dia 10), foi uma média de 15 crianças perdidas ao dia. O número pode ser maior, pois representa só casos em que guarda-vidas são acionados.
Para o tenente-coronel Eduardo Nocetti, do Corpo de Bombeiros, o aumento é "atípico" e indica que pais precisam redobrar a atenção.
O aumento também ocorre em outros Estados. No Paraná, desde o início da temporada, houve 140 ocorrências -alta de 40% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já em Santa Catarina, em três meses, foram 332 casos -o Estado não informou dados de anos anteriores.
Recomenda-se, para evitar o problema, o uso de pulseiras de identificação e a fixação, juntamente com os filhos, de um ponto de referência, como um prédio alto.
DEPOIMENTO
Perdida, só me lembrava do 'índio' do prédio
DENISE CHIARATOEDITORA DE “COTIDIANO”
"A única coisa que ela sabe é que tem o desenho de um índio na porta do prédio", dizia o sorveteiro, um pouco confuso, sem saber o que fazer com aquela criança perdida na avenida em frente à praia. Ele tentava convencer duas senhoras a assumir o problema, no caso eu.
Em silêncio, de cabeça baixa, eu morria de vergonha diante de tamanha proeza -conseguir me perder entre os poucos metros que separavam o edifício onde estava com minha família e a banca de revistas. Tão senhora de mim aos oito anos de idade, nem percebi que segui em direção à praia, quando deveria voltar. E lá fui eu com as duas novas tutoras e o sorveteiro, em busca do tal edifício. Para elas, o jeito era chamar a polícia.
Anda de um lado, pergunta do tal índio pro outro, até que ouço uma voz: "achamos". Uma prima, quase em prantos, me abraçou e disse "estávamos desesperados".
Lá pelos anos 70, sem celular, iPhone, iPad ou outras tantas muletas, a estratégia foi cada integrante da família se dividir e fixar um tempo para voltar à porta do prédio. Estavam todos lá, minha mãe, primos, tia, o sorveteiro, as duas mulheres e eu -ainda muda. Só choro, abraço e, para o meu espanto, nenhuma bronca. E a cara de surpresa quando todos viram que só eu havia reparado no tal índio pintado na porta do prédio.
Talvez nada disso teria acontecido se tivesse uma dessas pulseirinhas de identificação. Mas talvez também não tivesse aprendido que é sempre bom saber como voltar pra casa.
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