MÔNICA BERGAMO
Catra em todas
O mais funkeiro dos cariocas, e vice-versa, aventura-se pelo sertanejo e pelo samba e fala da amizade com Ronaldo, de poligamia e de religião
Mr. Catra, 44, esparrama seus "117 kg de puro negão" sobre um sofá de couro branco, numa sala privada do clube Royal, no centro de São Paulo. Nesta noite quem o acompanha é Silvia, uma das duas mulheres que ele chama de "esposa", mulata de curvas e temperamento acentuados. Ela tira sarro da pose dele. Minutos antes, havia vetado um pedido do "marido", polígamo assumido, que queria vodca em seu energético.
Deitado sobre a lateral do corpo, apoiando-se sobre o antebraço adornado por um relógio de ouro, ele se compara às modelos do pintor colombiano Fernando Botero. Ou, como prefere, "o cara que tinha tesão nas gordinhas". Solta uma das 13 gargalhadas roucas que a repórter Anna Virginia Balloussier ouvirá ao longo de dois encontros. O som se espicha por alguns segundos pela sala, sem ninguém em volta dar um pio.
Não são só as medidas que pesam sobre esse ícone do funk carioca, nascido Wagner Domingues Costa, no morro do Borel -mas criado como "playboy" na rua Dr. Catrambi (daí o apelido), zona norte do Rio, pela família de classe média alta que já acolhera sua mãe biológica.
Catra tinha, até o fechamento desta coluna, duas mulheres grávidas, "duas consortes" que poderiam ser promovidas a "oficiais", 21 filhos, agenda de shows em cinco continentes, "um zilhão" de amigos (como Seu Jorge, Marcelo D2 e o ex-BBB Kléber Bambam) e mil ideias na cabeça sempre sob boné.
Depois de um disco de samba em 2012, quer somar à sua discografia álbuns de rock, eletro, rap e sertanejo. O último já tem nome: "Mr. Cauntry", com parceiros como Munhoz e Mariano, do hit "Camaro Amarelo".
"Além de artista muito original, é um personagem sensacional", opina o produtor musical Nelson Motta. E cita frase memorável de Catra: "Boquete e copo d'água não se negam a ninguém".
O funkeiro está "em todas". Há algumas semanas (não lembra a data), foi a uma festa do amigo e ex-jogador Ronaldo. Mais detalhes também não dá. "Aquilo só quem viu, viu. Nossas festas são assim. E é proibido comentar da porta pra fora. Entendeu ou não entendeu?" E gargalha.
Enquanto posa para foto, dispara: "Se tivesse que ganhar dinheiro assim tava fodido. Ainda bem que nasci feio pra caralho. Modelo, só de parque de dinossauro".
Em seguida, dá largada àquilo que mais preza no mundo "após Deus". "Vai começar a putaria!", anuncia para 400 pessoas que pagaram de R$ 50 a R$ 100 para vê-lo tocar por 40 minutos.
Já são 3h15 da madrugada. Catra é assediado por uma muralha de garotas empunhando drinques de R$ 35, dispostas a pagar contas de tamanho inversamente proporcional ao de suas microssaias. O público vai ao delírio quando o "showman" o saúda: "Festa com papai é só pra quem pode!".
Seu primogênito, Alandim, 20, também sobe ao palco. Catra instrui: "Pra sair com o filho tem que ser mulher de bem. Vem de mente aberta e de pernas também".
O show é como um ataque epiléptico sonoro. Bob Marley, Amado Batista (ou "Mamado") e "Dirty Dancing" têm vez na trilha. Os funks vão de "Uh, Papai Chegou" ("ela dá pra nóis/ que nóis é patrão/ ela quer bolsa da Armani, da Louis Vuitton") a "Retorno do Jedy". Nesta, mostra um lado espiritual: "O Senhor é meu pastor e nada me faltará". A letra alude também ao tráfico de drogas.
Ele canta a certa hora em hebraico. O judaísmo, que entrou em sua vida nos anos 90, lhe "abriu bastante portas". Declara-se hebreu e leva no pulso esquerdo, além da tira de plástico da marca Power Balance (que promete dar equilíbrio), três pulseiras, suas "proteções judaicas".
Na segunda rodada da entrevista, ele chega de tamanco Crocs, jeans e camisa com os dizeres "eu amo rock" à sala de um hotel quatro estrelas na zona leste de SP. "Tive que matar meu espírito e ressuscitar para viver da bênção do milagre", afirma ao negar incompatibilidade entre fé e estilo de vida. Seu guia, diz, é Salomão, rei de Israel que teve várias mulheres.
Fala da avó analfabeta. "A pessoa mais culta que conheci. Eu lia a Bíblia, e ela dizia: 'Tudo muito bonito. Mas não acredita em disse me disse'." O neto não segue nenhuma religião. "Estudei o Evangelho, a Torá, o Corão. E concluí: não precisamos de ninguém para ter Deus. Sou literalmente a Sua imagem e semelhança, eterno como Ele." Teme a morte? "Se sou eterno, não morrerei, né, gata?"
Sobre as "gatas", é categórico: "Quer mais feminista do que eu?". Autor de pérolas como "machismo é colocar sua fêmea para trabalhar", repudia "homem que bate em mulher. A não ser que ela peça".
Outro tipo de violência faz com que ele eleve a voz: a "ciranda da miséria" provocada pela política antidrogas do governo, "que é uma droga", na sua opinião. Diz não usar entorpecentes (maconha seria "outra coisa") antes de defender: "Libera tudo, tributa e controla. Viciado não é caso de política, é de médico".
Catra não foge de polêmicas. "No Brasil todo mundo devia andar armado para se respeitar mais". Cotas raciais seriam "um tipo de racismo". E "veado", para ele, é "o homofóbico que bate em homossexual" e depois "vai lá comer travesti à noite".
Sobre o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, ambos do Rio, e a presidente Dilma Rousseff, não hesita: "Viva o Batman! E a Liga da Justiça. Super-Homem, Mulher Maravilha... Com todo o respeito, é a mesma coisa." Refere-se à milícia carioca Liga da Justiça, comandada por um ex-policial conhecido como Batman.
Quer distância da política. "A não ser que um dia tenha eleição para rei com plenos poderes. Aí me elejo." A primeira lei da dinastia Catra seria "livrar as famílias para se compor como quisessem. Se meu coração pede pra ter uma união xiita, hebreia. Por que casar catolicamente?"
"Não engano meus [21] filhos em nada. Nem com Papai Noel nem com Coelhinho da Páscoa. Nem minhas mulheres. A não ser que ela queiram ser enganadas"
MR. Catra
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