Bruna Sensêve
Estado de Minas: 09/04/2013
Foram quase R$ 1
mil embolsados e mais de 15 quilos perdidos. A conta colocou não só um
largo sorriso no rosto da servidora pública Márcia Velloso dos Santos,
de 43 anos, como trouxe também a paixão pela corrida de rua. Ela
participou de um programa de emagrecimento em que a competitividade pelo
prêmio final em dinheiro poderia ser um fator ainda mais tentador que o
almejado peso ideal. A receita já virou tema de reality shows dentro e
fora do país, porém, agora, ganha comprovação científica. Pesquisadores
da Universidade da Filadélfia, nos Estados Unidos, acompanharam pessoas
que perseguiam a queda dos números na balança. Elas foram submetidas a
diferentes situações, competitivas ou não. Aquelas que participaram das
disputas em grupo pelo montante de dinheiro oferecido tiveram um
resultado significativamente melhor que os integrantes de programas de
emagrecimento individual.
Cento e cinco indivíduos com índice de massa corporal (IMC) entre 30 e 40 (considerados em obesidade grau I e II) foram selecionados para o experimento. Eles foram divididos em três grupos, com diferentes regras para o emagrecimento. O primeiro fez o programa individualmente. Se conseguisse atingir a meta mensal estabelecida, a pessoa automaticamente recebia a recompensa de US$ 100.
O segundo grupo, porém, foi dividido em seis equipes compostas por cinco pessoas. Apenas os componentes da equipe que chegassem ou ultrapassassem a meta dividiam o prêmio em dinheiro, de R$ 500. A possibilidade de receber além dos US$ 100 oferecidos no programa individual acirrou a competição entre os integrantes. O terceiro grupo foi o de controle, em que 35 participantes fizeram o programa de emagrecimento sem receber qualquer recompensa financeira.
A diferença entre a perda de peso do grupo de controle para os que receberam o incentivo financeiro foi em média quatro quilos por participante. Curiosamente, essa desigualdade continuou expressiva quando foram comparados os indivíduos do grupo de incentivo individual e os que receberam o incentivo por equipe. Os integrantes do segundo grupo perderam pouco mais de três quilos por participante.
A diferença entre os ganhos financeiros dos dois conjuntos também foi bastante significativa. Enquanto aqueles que perderam peso individualmente receberam uma média de US$ 128,60 ao fim de seis meses, os que competiram ganharam cerca de US$ 520. Os pesquisadores relatam que houve 11 casos de perda excessiva de peso durante o período do programa, sendo oito participantes do emagrecimento em grupo. Segundo os pesquisadores, a maior eficácia do incentivo em grupo poder ser explicada principalmente pela oportunidade de ganhar uma recompensa maior do que US$ 100. Dois fatores, porém, podem ter aumentado essa motivação.
“Primeiro, as pessoas são muitas vezes excessivamente otimistas sobre sua capacidade relativa à dos outros. Assim, podem ter esperado um sucesso e uma recompensa maiores do que os dos companheiros de grupo”, descreve Kevin Volpp, um dos autores e pesquisador da Escola de Medicina da Universidade da Filadélfia. Em segundo lugar, afirma o grupo de cientistas, a expectativa de um prêmio superior a US$ 100 teria sido reforçada, deixando uma grande recompensa para aqueles que atingiram os objetivos.
Mudança de hábito Quem já participou de competições de perda de peso com um prêmio final em dinheiro garante: a estratégia faz toda a diferença. Márcia Velloso topou entrar na prova do Superior Tribunal de Justiça (STJ) – De Olho na Balança – pela primeira vez em 2008. Ela estava insatisfeita com o corpo e gostou da proposta. Os voluntários foram divididos por sexo e em dois grupos, de acordo com o IMC de cada um. Aquele que perdesse mais peso ao fim de dois meses levaria R$ 500, e o segundo colocado, R$ 300. Márcia seguiu a dieta e conheceu a corrida de rua. Perdeu sete quilos e ganhou o vice-campeonato da disputa. Entre 2008 e 2012, participou de algumas meias maratonas. Mas, no ano passado, abandonou o esporte e a dieta para se dedicar aos estudos. Os ponteiros da balança voltaram a subir.
“Resolvi participar mais uma vez do programa. Já era algo que eu conhecia, sabia que funcionava e tinha um objetivo. Falei para mim: desta vez, eu vou levar o primeiro lugar”, lembra a servidora. E foi exatamente o que aconteceu. Márcia terminou o ano com oito quilos a menos e mais R$ 500 no bolso. O segundo lugar foi para a secretária Cleonice Montipó, de 37 anos, estreante no projeto. Ela entrou atrasada na competição, mas, em cinco semanas, livrou-se de quase seis quilos. Não foi o suficiente para embolsar o prêmio principal da disputa.
Comemorou o primeiro lugar na disputa paralela, feita apenas com os colegas da seção em que trabalha. “O pessoal ficou animado e resolveu organizar uma competição só entre a gente. O prêmio foi de R$ 200 e eu ganhei”, orgulha-se. A competição animou Cleonice a levar os ensinamentos e os hábitos saudáveis para casa. Mesmo sem recompensa, o filho dela Thomas Henrique Montipó, de 15, enxugou seis quilos. “Até meu marido animou e começou a dieta e os exercícios com a gente”, conta a secretária.
O STJ De Olho na Balança foi idealizado pelo nutricionista do Serviço de Saúde do Superior Tribunal de Justiça Aldemir Mangabeira, mestre em nutrição pela Universidade de Brasília (UnB). “O prêmio em dinheiro, que, para algumas pessoas, pode ser o motivo principal, para nós, criadores da iniciativa, é a oportunidade de elaborar um conteúdo lúdico, simbólico. Existe alguma coisa que vai representar nesse momento uma tomada de decisão”, acredita Mangabeira.
Ele considera que as informações nutricionais sobre a composição de uma alimentação saudável e que proporcione o emagrecimento já são conhecidas. A diferença é que os profissionais precisam criar algo que motive as pessoas que têm esse conhecimento. “As informações nutricionais aqui não são do tipo ‘10 dicas para emagrecer’ ou ‘evite o alimento tal’. Tenho que gerar a motivação ou a curiosidade”, compara. Motivação que ajudou Fernanda Teotônia Vale Carvalho, de 36, a perder os últimos quilos da gravidez. Ela engordou 33 quilos durante a gestação e se incomodava com os oito quilos insistentes. “O incentivo em dinheiro, com certeza, ajudou, mas a disputa em si já é estimulante. Quando você se pesa pela segunda vez e compara com o resultado dos outros colegas, fica mais estimulada a seguir em frente”, conta a vencedora da edição de 2007.
Palavra de especialista
Jason Riis
pesquisador da Harvard Business School
Condições saudáveis
“Talvez a forma mais importante de os empregadores obterem o máximo de seus sistemas de incentivos financeiros seja fazer os esforços adequados para dificultar, no local de trabalho, o acesso a bebidas e alimentos altamente calóricos. Isso pode ser feito por meio de um design inteligente e de práticas de merchandising em cozinhas, lanchonetes e máquinas de venda automática e em eventos com refeição saudável, por exemplo. A definição de esforços adequados para gerenciar o acesso vai variar de população, de cultura e de ambiente, mas pagar os funcionários para lutar mentalmente contra a tentação será muito mais eficaz e de baixo custo em ambientes onde as tentações são reduzidas.”
Cento e cinco indivíduos com índice de massa corporal (IMC) entre 30 e 40 (considerados em obesidade grau I e II) foram selecionados para o experimento. Eles foram divididos em três grupos, com diferentes regras para o emagrecimento. O primeiro fez o programa individualmente. Se conseguisse atingir a meta mensal estabelecida, a pessoa automaticamente recebia a recompensa de US$ 100.
O segundo grupo, porém, foi dividido em seis equipes compostas por cinco pessoas. Apenas os componentes da equipe que chegassem ou ultrapassassem a meta dividiam o prêmio em dinheiro, de R$ 500. A possibilidade de receber além dos US$ 100 oferecidos no programa individual acirrou a competição entre os integrantes. O terceiro grupo foi o de controle, em que 35 participantes fizeram o programa de emagrecimento sem receber qualquer recompensa financeira.
A diferença entre a perda de peso do grupo de controle para os que receberam o incentivo financeiro foi em média quatro quilos por participante. Curiosamente, essa desigualdade continuou expressiva quando foram comparados os indivíduos do grupo de incentivo individual e os que receberam o incentivo por equipe. Os integrantes do segundo grupo perderam pouco mais de três quilos por participante.
A diferença entre os ganhos financeiros dos dois conjuntos também foi bastante significativa. Enquanto aqueles que perderam peso individualmente receberam uma média de US$ 128,60 ao fim de seis meses, os que competiram ganharam cerca de US$ 520. Os pesquisadores relatam que houve 11 casos de perda excessiva de peso durante o período do programa, sendo oito participantes do emagrecimento em grupo. Segundo os pesquisadores, a maior eficácia do incentivo em grupo poder ser explicada principalmente pela oportunidade de ganhar uma recompensa maior do que US$ 100. Dois fatores, porém, podem ter aumentado essa motivação.
“Primeiro, as pessoas são muitas vezes excessivamente otimistas sobre sua capacidade relativa à dos outros. Assim, podem ter esperado um sucesso e uma recompensa maiores do que os dos companheiros de grupo”, descreve Kevin Volpp, um dos autores e pesquisador da Escola de Medicina da Universidade da Filadélfia. Em segundo lugar, afirma o grupo de cientistas, a expectativa de um prêmio superior a US$ 100 teria sido reforçada, deixando uma grande recompensa para aqueles que atingiram os objetivos.
Mudança de hábito Quem já participou de competições de perda de peso com um prêmio final em dinheiro garante: a estratégia faz toda a diferença. Márcia Velloso topou entrar na prova do Superior Tribunal de Justiça (STJ) – De Olho na Balança – pela primeira vez em 2008. Ela estava insatisfeita com o corpo e gostou da proposta. Os voluntários foram divididos por sexo e em dois grupos, de acordo com o IMC de cada um. Aquele que perdesse mais peso ao fim de dois meses levaria R$ 500, e o segundo colocado, R$ 300. Márcia seguiu a dieta e conheceu a corrida de rua. Perdeu sete quilos e ganhou o vice-campeonato da disputa. Entre 2008 e 2012, participou de algumas meias maratonas. Mas, no ano passado, abandonou o esporte e a dieta para se dedicar aos estudos. Os ponteiros da balança voltaram a subir.
“Resolvi participar mais uma vez do programa. Já era algo que eu conhecia, sabia que funcionava e tinha um objetivo. Falei para mim: desta vez, eu vou levar o primeiro lugar”, lembra a servidora. E foi exatamente o que aconteceu. Márcia terminou o ano com oito quilos a menos e mais R$ 500 no bolso. O segundo lugar foi para a secretária Cleonice Montipó, de 37 anos, estreante no projeto. Ela entrou atrasada na competição, mas, em cinco semanas, livrou-se de quase seis quilos. Não foi o suficiente para embolsar o prêmio principal da disputa.
Comemorou o primeiro lugar na disputa paralela, feita apenas com os colegas da seção em que trabalha. “O pessoal ficou animado e resolveu organizar uma competição só entre a gente. O prêmio foi de R$ 200 e eu ganhei”, orgulha-se. A competição animou Cleonice a levar os ensinamentos e os hábitos saudáveis para casa. Mesmo sem recompensa, o filho dela Thomas Henrique Montipó, de 15, enxugou seis quilos. “Até meu marido animou e começou a dieta e os exercícios com a gente”, conta a secretária.
O STJ De Olho na Balança foi idealizado pelo nutricionista do Serviço de Saúde do Superior Tribunal de Justiça Aldemir Mangabeira, mestre em nutrição pela Universidade de Brasília (UnB). “O prêmio em dinheiro, que, para algumas pessoas, pode ser o motivo principal, para nós, criadores da iniciativa, é a oportunidade de elaborar um conteúdo lúdico, simbólico. Existe alguma coisa que vai representar nesse momento uma tomada de decisão”, acredita Mangabeira.
Ele considera que as informações nutricionais sobre a composição de uma alimentação saudável e que proporcione o emagrecimento já são conhecidas. A diferença é que os profissionais precisam criar algo que motive as pessoas que têm esse conhecimento. “As informações nutricionais aqui não são do tipo ‘10 dicas para emagrecer’ ou ‘evite o alimento tal’. Tenho que gerar a motivação ou a curiosidade”, compara. Motivação que ajudou Fernanda Teotônia Vale Carvalho, de 36, a perder os últimos quilos da gravidez. Ela engordou 33 quilos durante a gestação e se incomodava com os oito quilos insistentes. “O incentivo em dinheiro, com certeza, ajudou, mas a disputa em si já é estimulante. Quando você se pesa pela segunda vez e compara com o resultado dos outros colegas, fica mais estimulada a seguir em frente”, conta a vencedora da edição de 2007.
Palavra de especialista
Jason Riis
pesquisador da Harvard Business School
Condições saudáveis
“Talvez a forma mais importante de os empregadores obterem o máximo de seus sistemas de incentivos financeiros seja fazer os esforços adequados para dificultar, no local de trabalho, o acesso a bebidas e alimentos altamente calóricos. Isso pode ser feito por meio de um design inteligente e de práticas de merchandising em cozinhas, lanchonetes e máquinas de venda automática e em eventos com refeição saudável, por exemplo. A definição de esforços adequados para gerenciar o acesso vai variar de população, de cultura e de ambiente, mas pagar os funcionários para lutar mentalmente contra a tentação será muito mais eficaz e de baixo custo em ambientes onde as tentações são reduzidas.”
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