Ele pode ser causado por remédios, bebida demais, comida estragada, carros em movimento, hormônios. Como se não bastasse todo o desconforto, a angústia e outras sensações negativas imediatas, o enjoo tem efeitos aversivos que podem ser duradouros.
Sei disso na pele: nunca mais quis vestir as roupas que eu usei na fase de enjoos da gravidez, terminar o livro que estava então na minha cabeceira ou mesmo voltar à Biblioteca Nacional, que eu visitava todos os dias naquela época. As roupas eu dei, mas até hoje tenho náuseas só de ver fotos da Biblioteca (e ela é linda!).
De onde vem o enjoo? Um estudo norte-americano recente responde --graças à boa vontade de 28 almas em se submeter a uma sessão de náusea crescente até a beira do vômito, induzida dentro de um aparelho de ressonância magnética.
Induzir náusea é fácil, como sabe quem enjoa fácil dentro do carro ou em frente a videogames na televisão: bastam imagens em movimento que não combinem com o estado do corpo. Foi a tática que a equipe usou no estudo, expondo as voluntárias a listras pretas e brancas deslizando continuamente para um lado. Já me dá desconforto só de imaginar.
Logo antes de qualquer náusea chegar, a equipe encontrou consistentemente nas voluntárias um aumento de atividade na amígdala e no locus coeruleus. Essas regiões não só são capazes de provocar alterações no corpo relacionadas ao enjoo (no estômago, por exemplo) como estão envolvidas com a aversão e a sensação de alerta "" sinais de que o cérebro já detecta que algo de muito errado está por vir.
Em seguida, a chegada do enjoo casa com o aumento da atividade de outras estruturas: a ínsula e o cingulado anterior, envolvidos nas sensações fisiológicas do corpo, e regiões do córtex pré-frontal, que participam da cognição. Ou seja: o enjoo é um estado aversivo de percepção de que algo vai mal no corpo e pode afetar até a cognição. A gente bem sabe que não pensa direito quando está enjoado.
Uma dica, portanto, já que o cérebro aprende a associar o mal-estar à situação do momento. Se você antecipa uma fase de enjoos, por gravidez ou tratamento médico, não compre roupas novas nem invista em qualquer outra novidade cara. Como seu cérebro pode associá-las ao enjoo, há boas chances de você nunca mais querer olhar para suas aquisições. Deixe as compras para quando o enjoo passar!
Suzana Herculano-Houzel, carioca, é neurocientista treinada nos Estados Unidos, França e Alemanha, e professora da UFRJ. Escreve às terças, a cada duas semanas, na versão impressa de "Equilíbrio".
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