terça-feira, 9 de abril de 2013

Trajetória de respeito( Grupo instrumental Pau Brasil)-Eduardo Tristão Girão‏

Grupo instrumental Pau Brasil, que lançou primeiro disco há 30 anos, reúne oito álbuns produzidos até 2005. Músicos planejam turnê 


Eduardo Tristão Girão

Estado de Minas: 09/04/2013 

Ao lado de Cama de Gato, Banda Black Rio e Azymuth, o grupo Pau Brasil é, sem sombra de dúvida, uma das mais importantes formações instrumentais brasileiras. Criado em 1979, em São Paulo, colocou na praça seu primeiro disco em 1983, marca que é comemorada agora com o lançamento de Caixote (Pau Brasil Music), caixa especial que reúne (com faixas bônus) seus oito discos lançados até 2005 (há mais dois inéditos, do ano passado), além de DVD que registra performance ao vivo em 1996 e bem cuidado livro sobre a história do grupo escrito por Carlos Calado.

“Desde que o grupo se remontou, em 2004, a gente vem falando do problema que era não ter nossa discografia disponível nem para vender nos shows. Falamos muitas vezes de relançar os primeiros três LPs em CD, mas os entraves legais com as respectivas gravadoras sempre inviabilizavam. O mesmo para os nossos CDs lançados apenas fora do Brasil, muitos anos tentando por várias formas fazer esses trabalhos saírem aqui, sempre sem sucesso”, diz o violonista e guitarrista Paulo Bellinati.

Ele deixou de participar de apenas dois discos do Pau Brasil, grupo que tem sua história marcada pela entrada e saída de vários músicos. A primeira formação teve Paulo, Roberto Sion (saxofone e flauta), Nelson Ayres (pianos acústico e elétrico), Rodolfo Stroeter (o único que nunca deixou o grupo; baixos acústico e elétrico) e Azael Rodrigues (bateria). Depois, vieram Nenê (bateria), Lelo Nazário (piano e teclado), Zé Eduardo Nazário (bateria e percussão) e Marlui Miranda (voz, violão e flauta).

Desde 2005 com Rodolfo, Paulo, Nelson, Teco Cardoso (saxofone e flauta) e Ricardo Mosca (baterista), o grupo prova ter desenvolvido mais que uma carreira consistente (inclusive no exterior), mas também linguagem que ajudou a moldar nas últimas décadas o que hoje se conhece como música instrumental brasileira. O trabalho dos bons jovens instrumentistas de hoje reflete algo da estética pensada pelas formações do grupo ao longo das últimas três décadas. Assimilaram regionalismos, influências estrangeiras e propuseram novo som.

RELEVÂNCIA “Em relação a outros grupos instrumentais brasileiros, o Pau Brasil segue por uma trilha mais compromissada com um Brasil utópico, aquele imaginado por Villa-Lobos e os modernistas. Seguimos pela mesma via percorrida brilhantemente por Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti. O Brasil maravilhoso que sonhamos vale a pena e a música que a gente faz é o melhor exemplo disso. Por isso, Villa-Lobos é tão importante na nossa discografia”, analisa Bellinati.

E essa influência, continua o artista, extrapolou o universo da música instrumental, já que o Pau Brasil chegou a gravar disco com Chico Buarque e Edu Lobo (Dança da meia lua) e Mônica Salmaso (Noites de gala, samba na rua) – ambos os trabalhos arranjados e executados pelo grupo. Ano passado, lançou outros dois disco seguindo esse conceito: Villa-Lobos superstar (repertório do compositor; com o Ensemble SP) e Concerto antropofágico (autores diversos; com Mônica Salmaso, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e o regente John Neschling).

VEM AÍ

Já tendo feito série de shows de lançamento de Caixote no ano passado, em São Paulo (capital e interior), o Pau Brasil está preparando turnê brasileira para divulgá-lo, o que inclui BH. Além disso, o público pode esperar por discos de inéditas, pois o violonista Paulo Bellinati garante que há material para, pelo menos, mais dois.

Três perguntas para...
Paulo Bellinati, violonista e guitarrista


A nova geração de músicos brasileiros conhece o trabalho do Pau Brasil? O grupo dialoga, de alguma forma, com esses jovens músicos?
Temos encontrado alguns jovens músicos interessados na nossa trajetória, alguns já fazendo suas teses de mestrado ou doutorado baseados na obra que a gente vem criando. Mas tenho observado que o nosso público “envelheceu” com a gente. Com certeza, posso afirmar que a faixa etária da grande maioria da plateia não é de jovens. Isso assusta, no sentido do futuro da música instrumental: quem vai substituir todos nós? Será que teremos uma geração futura de brilhantes e dedicados músicos que vão manter a música brasileira nas alturas?

O que era fazer música instrumental na época em que o Pau Brasil começou e como é fazer isso agora? O que mudou?
Não mudou muita coisa. A gente faz porque gosta. Sempre foi e sempre será uma opção artística idealista, porém hoje temos uma noção mais precisa da importância da nossa contribuição para a música brasileira. Isso nos motiva e nos dá a sensação de que valeu e vai continuar valendo a pena se dedicar.

O Pau Brasil já teve várias formações. Como você observa essas mudanças tendo em vista a construção da identidade do grupo ao longo desses 30 anos? É possível identificar uma espinha dorsal no som do grupo?
As mudanças de formações nunca foram radicais e sempre vieram devagar. Acho que a espinha dorsal do grupo é e sempre foi a ideia de fazer música instrumental brasileira de qualidade, deixando cada componente do grupo interferir com sua bagagem pessoal e artística. O Pau Brasil é o resultado dessa maneira de funcionar: todo mundo dá ideias e soma para o grupo ficar cada vez melhor e mais interessante.

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