terça-feira, 9 de abril de 2013

Feliciano, dê uma chance à paz-Alessandra Mello, Amanda Almeida e Étore Medeiros‏

Pastor enfrenta nova pressão de líderes para que deixe comissão, em meio a polêmica sobre vídeo em que fala da morte de John Lennon 


Alessandra Mello, Amanda Almeida e Étore Medeiros

Estado de Minas: 09/04/2013 

Em 8 de dezembro de 1980, tiros disparados por um lunático tiraram a vida do ex-beatle John Lennon, um dos maiores músicos e compositores da história contemporânea. Para sua legião de fãs, foi uma enorme tragédia, lamentada até hoje. Para o pastor Marco Feliciano (PSC-SP), um castigo divino. De acordo com o pastor e presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, Lennon foi assassinado por Mark Chapman porque teria afrontado Deus ao dar uma entrevista em que disse que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo. Em um vídeo de uma pregação antiga, postado no YouTube no domingo, Feliciano credita à vingança divina não apenas o assassinato do músico britânico, mas também a morte dos cinco integrantes da banda brasileira Mamonas Assassinas, em um acidente de avião em março de 1996. No caso dos Mamonas, o pecado teria sido ensinar palavrões para as crianças. O vídeo engrossou a polêmica em torno do deputado, acusado de racismo e homofobia. Hoje ele tem reunião com líderes partidários, que, mais uma vez, tentarão convencê-lo a deixar a presidência da comissão para garantir que a paz volte ao colegiado, praticamente impedido de funcionar devido à onda de protestos contra o pastor desde sua posse, em 7 de março.

 A assessoria de Feliciano confirmou a presença do deputado no encontro, marcado pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), enquanto as pressões para que o pastor deixe o comando da comissão se avolumavam. Ontem, o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial publicou no Diário Oficial da União nota de repúdio contra a indicação do deputado para o cargo. O conselho é vinculado à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República e a moção foi assinada pela ministra e presidente do colegiado, Luiza Helena de Bairros.

Também a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, criticou o pastor. “É lamentável que nos deparemos a cada dia com mais um pronunciamento, uma intervenção que incita o ódio, a intolerância e o preconceito. Já ultrapassa a barreira de uma comissão da Câmara. Diz respeito a todos nós”, afirmou a ministra. Para ela, a Câmara ou o Ministério Publico têm de encontrar uma solução para o caso. “Porque incitar a violência e o ódio é uma atitude ilegal e inconstitucional”, acrescentou a ministra.

Apoio A segunda-feira foi também de manifestações de apoio a Feliciano. Parlamentares evangélicos aproveitaram uma homenagem à Igreja Assembleia de Deus na Câmara para tentar consolidar uma base de apoio à permanência do pastor na presidência da comissão. “Se querem colocar essa pecha (de evangélicos homofóbicos) contra nós, não vai colar”, disse o pastor e deputado Takayama (PSC-PR), também integrante da CDHM.

Cerca de 400 líderes e integrantes da Assembleia de Deus acompanharam a homenagem. “Todos nós, pastores que estamos aqui, amamos os homossexuais. Não amamos a prática”, afirmou Takayama, que presidia a sessão solene, em referência às recentes declarações de Feliciano. O deputado ainda ameaçou: “Se (os líderes da Câmara) deixarem prevalecer a posição de meia dúzia de ativistas (de retirar Feliciano da presidência da comissão), podemos colocar dois, três e até quatro milhões de pessoas na porta do Congresso para dizer que só o senhor é Deus, e esta nação é cristã”.

As declarações foram aplaudidas por convidados, mas não de forma unânime. Parte dos integrantes da Assembleia de Deus não se manifestou. Antes de Takayama, o deputado Pastor Eurico (PSB-PE) também falou à plateia. “Temos que parabenizar um homem corajoso, como ele (Feliciano), para defender nosso povo evangélico”, disse.


Memória
Ídolos na fogueira

Em 1966, a revista Datebook divulgou entrevista de John Lennon destacando, fora do contexto, a frase "Somos mais populares que Jesus". A matéria provocou imediata reação de fundamentalistas cristãos. Um radialista, na cidade de Birmingham (que fazia parte de uma região conhecida como o cinturão da Bíblia), no Alabama, organizou um boicote à execução das músicas dos Beatles e um ato em que os discos do grupo foram queimados em uma fogueira (foto). A Ku Klux Klan condenou os Beatles por blasfêmia e ameaçou fazer atos terroristas em concertos do grupo. Na Europa, as reações foram mais contidas, mas os Beatles foram criticados pelo governo fascista do general Francisco Franco, na Espanha. John pediu desculpas, alegando ter sido mal interpretado. "Não sou anti-Deus, nem anti-Cristo, nem antirreligião", disse. Ele afirmou que sua frase poderia ter sido substituída por "A televisão é mais popular do que Jesus”que seria a mesma coisa e não faria tanto barulho.  

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