Pastor enfrenta nova pressão de líderes
para que deixe comissão, em meio a polêmica sobre vídeo em que fala da
morte de John Lennon
Alessandra Mello, Amanda Almeida e Étore Medeiros
Estado de Minas: 09/04/2013
Em 8 de dezembro
de 1980, tiros disparados por um lunático tiraram a vida do ex-beatle
John Lennon, um dos maiores músicos e compositores da história
contemporânea. Para sua legião de fãs, foi uma enorme tragédia,
lamentada até hoje. Para o pastor Marco Feliciano (PSC-SP), um castigo
divino. De acordo com o pastor e presidente da Comissão de Direitos
Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, Lennon foi
assassinado por Mark Chapman porque teria afrontado Deus ao dar uma
entrevista em que disse que os Beatles eram mais populares que Jesus
Cristo. Em um vídeo de uma pregação antiga, postado no YouTube no
domingo, Feliciano credita à vingança divina não apenas o assassinato do
músico britânico, mas também a morte dos cinco integrantes da banda
brasileira Mamonas Assassinas, em um acidente de avião em março de 1996.
No caso dos Mamonas, o pecado teria sido ensinar palavrões para as
crianças. O vídeo engrossou a polêmica em torno do deputado, acusado de
racismo e homofobia. Hoje ele tem reunião com líderes partidários, que,
mais uma vez, tentarão convencê-lo a deixar a presidência da comissão
para garantir que a paz volte ao colegiado, praticamente impedido de
funcionar devido à onda de protestos contra o pastor desde sua posse, em
7 de março.
A assessoria de Feliciano confirmou a presença do
deputado no encontro, marcado pelo presidente da Câmara, Henrique
Eduardo Alves (PMDB-RN), enquanto as pressões para que o pastor deixe o
comando da comissão se avolumavam. Ontem, o Conselho Nacional de
Promoção da Igualdade Racial publicou no Diário Oficial da União nota de
repúdio contra a indicação do deputado para o cargo. O conselho é
vinculado à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da
Presidência da República e a moção foi assinada pela ministra e
presidente do colegiado, Luiza Helena de Bairros.
Também a
ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, criticou o
pastor. “É lamentável que nos deparemos a cada dia com mais um
pronunciamento, uma intervenção que incita o ódio, a intolerância e o
preconceito. Já ultrapassa a barreira de uma comissão da Câmara. Diz
respeito a todos nós”, afirmou a ministra. Para ela, a Câmara ou o
Ministério Publico têm de encontrar uma solução para o caso. “Porque
incitar a violência e o ódio é uma atitude ilegal e inconstitucional”,
acrescentou a ministra.
Apoio A segunda-feira foi também de
manifestações de apoio a Feliciano. Parlamentares evangélicos
aproveitaram uma homenagem à Igreja Assembleia de Deus na Câmara para
tentar consolidar uma base de apoio à permanência do pastor na
presidência da comissão. “Se querem colocar essa pecha (de evangélicos
homofóbicos) contra nós, não vai colar”, disse o pastor e deputado
Takayama (PSC-PR), também integrante da CDHM.
Cerca de 400
líderes e integrantes da Assembleia de Deus acompanharam a homenagem.
“Todos nós, pastores que estamos aqui, amamos os homossexuais. Não
amamos a prática”, afirmou Takayama, que presidia a sessão solene, em
referência às recentes declarações de Feliciano. O deputado ainda
ameaçou: “Se (os líderes da Câmara) deixarem prevalecer a posição de
meia dúzia de ativistas (de retirar Feliciano da presidência da
comissão), podemos colocar dois, três e até quatro milhões de pessoas na
porta do Congresso para dizer que só o senhor é Deus, e esta nação é
cristã”.
As declarações foram aplaudidas por convidados, mas não
de forma unânime. Parte dos integrantes da Assembleia de Deus não se
manifestou. Antes de Takayama, o deputado Pastor Eurico (PSB-PE) também
falou à plateia. “Temos que parabenizar um homem corajoso, como ele
(Feliciano), para defender nosso povo evangélico”, disse.
Memória
Ídolos na fogueira
Em
1966, a revista Datebook divulgou entrevista de John Lennon destacando,
fora do contexto, a frase "Somos mais populares que Jesus". A matéria
provocou imediata reação de fundamentalistas cristãos. Um radialista, na
cidade de Birmingham (que fazia parte de uma região conhecida como o
cinturão da Bíblia), no Alabama, organizou um boicote à execução das
músicas dos Beatles e um ato em que os discos do grupo foram queimados
em uma fogueira (foto). A Ku Klux Klan condenou os Beatles por blasfêmia
e ameaçou fazer atos terroristas em concertos do grupo. Na Europa, as
reações foram mais contidas, mas os Beatles foram criticados pelo
governo fascista do general Francisco Franco, na Espanha. John pediu
desculpas, alegando ter sido mal interpretado. "Não sou anti-Deus, nem
anti-Cristo, nem antirreligião", disse. Ele afirmou que sua frase
poderia ter sido substituída por "A televisão é mais popular do que
Jesus”que seria a mesma coisa e não faria tanto barulho.
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