Aumento das temperaturas deve dobrar ocorrência do tipo mais imprevisível de tremor aéreo nos próximos 40 anos
Além de mais frequentes, esses sacolejos causados por variação de velocidade de correntes de ar -menos comuns do que a turbulência ligada a tempestades- devem ficar mais intensos até a metade deste século.
Um trabalho, publicado na revista "Nature Climate Change", usou um supercomputador para simular a ocorrência de eventos atmosféricos em diferentes cenários climáticos e, assim, estimar o impacto das temperaturas elevadas sobre as turbulências.
O grupo identificou que o incremento na frequência das turbulências de céu claro pode ficar entre 40% e 170%. Mas o cenário mais provável é que a quantidade de tremores aéreos dobre até a metade deste século -quando, segundo projeções, a temperatura terá subido até 2º C.
"As mudanças climáticas estão acelerando as correntes de ar e levando a mais instabilidade nos voos", diz o climatologista Paul Williams, principal autor do estudo.
O trabalho se concentrou na região do Atlântico Norte, mas seus resultados podem valer para outras partes do globo, apesar de haver ainda muitas incertezas.
"O trabalho tem o mérito de chamar a atenção para os efeitos das mudanças climáticas nas turbulências, que não têm sido muito estudados", diz José Marengo, climatologista do Inpe membro do IPCC (painel de mudanças climáticas da ONU).
O tipo de instabilidade no qual o trabalho se concentrou -as turbulências de céu claro- é o mais problemático para as empresas aéreas.
"Elas são invisíveis para pilotos e satélites, e é no inverno que elas se intensificam", explica Manoj Joshi, da Universidade de East Anglia e também autor do trabalho.
O sacolejo danifica aviões, atrasa voos, aumenta custos de manutenção e pode ferir a tripulação e os viajantes. A pesquisa estima o custo anual disso em US$ 150 milhões (cerca de R$ 300 milhões).
A boa notícia é que, nas próximas décadas, a tecnologia aeroespacial deve evoluir muito. "Até a metade do século, já será possível detectar essa turbulência", diz Ronaldo Jenkins, coordenador da comissão de segurança de voo do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias.
FRASE
PAUL WILLIAMS, climatologista da Universidade de Reading
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