terça-feira, 9 de abril de 2013

Maria Esther Maciel - Uma tarde no parque‏


Estado de Minas: 09/04/2013 


Ainda fora do Brasil, mas já nos últimos dias da temporada de pesquisa em Paris, entro num dos parques da cidade, para pensar na vida e observar o que se passa ao redor. É uma tarde de sol ralo, mas luminoso. O frio está menos intenso que nos dias anteriores e, graças a esse clima favorável, parece que todo mundo saiu para aproveitar o domingo. O parque está lotado. E a primeira coisa que me chama a atenção é a quantidade de gente sentada em cadeiras enfileiradas diante de um lago, tomando sol. Nas ruas e avenidas que dão acesso aos jardins do parque, os cafés fervilham, as filas diante das sorveterias se alongam, as bicicletas circulam de forma mais explícita por todo lado.

Sento-me num dos bancos de madeira do parque, perto da estátua branca de uma rainha francesa. Logo aparece um pombo de pescoço esverdeado, que cata alguma coisa no chão e sai. Meus olhos se voltam, então, para uma menina que passa ao lado, ligeira, num patinete. Ela usa uma boina vermelha e tem as faces coradas. Parece uma Chapeuzinho Vermelho dos nossos tempos. Fico imaginando o nome que ela teria: Pauline, Michelle, Anne, Julie? Ou seria Isabelle? Gosto desse exercício de tentar adivinhar os nomes das pessoas que passam. Cada rosto pede um nome diferente. O senhor de cabelos brancos e desgrenhados que atravessa uma das vias do parque à esquerda, por exemplo, tem cara de Jean-François. A mulher morena que vem imediatamente atrás dele poderia se chamar Albertine ou Justine. E o atleta de camisa alaranjada, calção preto e meias da mesma cor até as coxas, que corre com fones de ouvido? Talvez se chame Jean Pierre.

Olho para a direita e vejo um homem tirando fotos de uma menininha, presumivelmente sua filha, diante de uma outra estátua branca de mulher. Assim que eles se afastam, vou até lá conferir o nome da escultura. É de Santa Genoveva, padroeira de Paris. Perto da estátua, sentado num banco, um moço magro, de cabelos pretos e capa longa, lê um livro. Parece um poeta romântico, desses bem atormentados por causa de um amor não correspondido ou perdido. Lembro-me, então, do nome curioso de um chá que encontrei há poucos dias numa loja: Chá dos poetas solitários. Comprei-o pelo nome, mas só pretendo experimentá-lo no momento propício. Deve ser bom para a inspiração.

E por falar em nomes interessantes, há vários pela cidade designando estabelecimentos comerciais. Quem gosta de cães, por exemplo, pode ir ao bistrô O cachorro que fuma. Os afeitos ao vinho podem jantar em O Vinho que dança ou O Vinho que canta. Os homens com muita autoconfiança (ou não) devem frequentar o restaurante O homem decidido. E às pessoas meio perdidas, é recomendável almoçar no Ao sul de coisa alguma. Para quem quer comprar coisas bem baratas, basta procurar o bazar chamado Três vezes nada. A sapataria certa para os malucos e alternativos é, sem dúvida, a que se chama O antissapato. Já para quem gosta de livros, uma livraria interessante é O olho escuta. E assim por diante.

De devaneio em devaneio, nem vejo o tempo passar. Um vento frio começa a incomodar o rosto. Olho para o relógio: são quase 18h. Um pombo pousa no meu banco, em silêncio. Não consigo imaginar um nome para ele.

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