O Globo -
12/04/2013
Presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)
lamenta o uso de "argumentos de cunho terrorista" contra o órgão
Cristina Tardáguila
Desde que o Cade multou o Ecad, os dois estão em pé de guerra
A multa de R$ 38 milhões anunciada há quase um mês não foi publicada ainda. O está acontecendo?
A
decisão contra o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição
(Ecad) está próxima de ser publicada. O voto do conselheiro-relator é
bem longo. Depois de publicada a decisão, o Ecad terá um período de dez
dias para apresentar seus pedidos de embargo. Se o fizer, o material
será devidamente avaliado, mas a decisão final do Cade sai ainda neste
semestre.
Os embargos podem mudar a decisão de março?
Os
embargos servem para sanar alguma dúvida ou contradição que tenha
surgido ao longo do processo. Dificilmente muda uma decisão.
Há manifestações do Ecad e de artistas contra a multa.
Ouvi
falar disso e vi alguns manifestos nas redes sociais, mas não enxergo
nesse material nenhum argumento novo que possa mudar nossa decisão. Ao
contrário, só reforça nossa decisão. O Ecad usa argumentos de cunho
terrorista, como se nós tivéssemos a favor de um cartel de empresas de
comunicação e contra os artistas. Isso não é verdade. Nós não condenamos
os artistas. Nós condenamos o Ecad .
Como o Cade chegou a essa conclusão?
O
Ecad foi condenado por abuso de poder econômico. Nada justifica a taxa
administrativa extorsiva de 25% que eles cobram dos músicos brasileiros.
Essa margem de retorno está acima de qualquer outra obtida em qualquer
outro negócio que conhecemos. É preciso ressaltar que o Cade está do
lado dos artistas, não contra.
Qual o problema com as associações de músicos?
Elas
têm regras muito nocivas de representação. Regras que criam grandes
barreiras à entrada de novas associações. Isso inviabiliza a livre
associação. É uma barreira enorme.
O argumento de que a multa aplicada ao Ecad será paga com o dinheiro dos músicos tem ganho espaço...
A
decisão sobre a multa de R$ 38 milhões é explícita ao dizer que esse
valor sai das taxas de administração, que não pode sair do bolso dos
músicos. E mais: se o Ecad aumentar a taxa de administração para tentar
pagar essa multa, o Cade tem como agir.
Alguns artistas afirmam que o Ecad corre o risco de deixar de existir...
Ouvi
falar por aí que o Ecad deixaria de recolher o direito autoral, que
deixaria de pagar os músicos. Isso é uma falácia. Depois dos embargos no
Cade, o Ecad pode recorrer judicialmente da decisão. Além disso, demos
seis meses para que eles se adaptassem ao que exigimos. A multa não tem
impacto material nenhum ainda.
Para o Cade, de quanto deveria ser a taxa?
Não
somos contra a taxa, mas a do Ecad está muito acima do razoável, quando
comparado com outros órgãos. Ela poderia ser pelo menos 20% menor
O Cade sugere outras mudanças?
Alguns
manifestos acusam o Cade de ser um grupo de burocratas do estado
tentando tirar dinheiro dos músicos. Quero rechaçar com todas as forças
essa declaração. O sistema do Ecad é arcaico quando comparado com outros
sistemas. No exterior, ou há livre concorrência entre as associações de
músicos ou há um único órgão, recolhendo o direito autoral, mas sendo
regulado. Só no Brasil é monopólio.Os artistas e usuários ficam à mercê
do Ecad.
RESPOSTA DO ECAD
No início deste mês, o Ecad
enviou aos músicos afiliados um comunicado de duas páginas sobre a multa
do Cade. A entidade que recolhe e paga o direito autoral deles no país
lembra que a decisão do conselho de defesa econômica é uma resposta a um
processo movido pela Associação Brasileira de Televisão por Assinatura
(ABTA), que contestava a cobrança de uma taxa fixa de 2,55% da receita
bruta das empresas para uso do repertório musical. No comunicado, o Ecad
também afirma que as penalidades impostas em março “podem aniquilar o
atual sistema de gestão coletiva musical, reduzindo a mero produto de
consumo os direitos autorais dos criadores”, e avisa que vai recorrer da
decisão por considerá-la um “retrocesso”. O texto do Ecad e das
associações que o integram gerou grande repercussão na internet e
alavancou uma série de manifestação de artistas, entre eles a cantora
Beth Carvalho, uma das últimas a sair em defesa da entidade.
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