A falsa boa ideia
RIO DE JANEIRO - Sempre achei que a origem de uma expressão deveria ser estudada pelos linguistas com o amor com que os astrônomos se debruçam sobre o nascimento de uma estrela. Lembrei-me disso outro dia ao saber da morte de Roy Brown Jr., um designer americano cuja grande criação --um carro que ele bolou para a Ford nos anos 50-- tornou-se sinônimo nos EUA de "a bold bad idea", uma ousada má ideia. E que no Brasil se traduziu para, melhor ainda, "a falsa boa ideia".O carro criado por Brown em 1957 foi o Edsel, um rabo de peixe cheio de bossas para a época, como ar-condicionado, alerta automático para gasolina no limite e outro para velocidade acima da predeterminada pelo motorista. A campanha de lançamento foi maciça: "Nunca houve um carro como o Edsel". Foram postas no mercado 200 mil unidades em 18 modelos e outras tantas cores. Mas, dois anos depois, menos da metade tinha sido vendida. Humilhado, o Edsel saiu de linha e surgiu a expressão "falsa boa ideia".
Por que o Edsel fracassou? Talvez porque os rabos de peixe estivessem ficando fora de moda. Ou porque o Edsel bebesse muito. Ou pela chegada dos carros europeus. Como se não bastasse o prejuízo, a Ford detestou que o nome do filho único do fundador Henry Ford --Edsel-- ficasse associado a um fiasco.
Quando o Edsel foi lançado, Roy Brown tinha 40 anos. De certa forma, sua carreira acabou ali. Mas ele nunca aceitou que o carro fosse ruim. Tanto que, pelo resto da vida, nunca dirigiu outro --conservou vários. E olhe que, ao morrer, outro dia, tinha 96 anos.
Em vez de defender seu carro até o fim, Brown deveria ter ficado orgulhoso de sua contribuição linguística. "Falsa boa ideia" é um achado. E indispensável para definir quase tudo que --como ele-- eu, você, o governo, a oposição, enfim, todos nós vivemos cometendo.
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