Camisas polo e de botões, pouco ou nada usadas, andaram em local incerto e não sabido durante anos
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 12/04/2013
Programa
interessante na tevê sobre Marcel Bich (1914–1994), nascido um Torino,
filho de um engenheiro francês, inventor da Bic, que tirou o agá da
marca porque soa mal nos países de língua inglesa. Sou do tempo em que
as aeromoças davam “tubinhos” aos passageiros para evitar que o
vazamento, inevitável nas canetas-tinteiros, manchasse as nossas roupas.
Antes de consultar o Houaiss acertei o plural de caneta-tinteiro, que
também pode ser canetas-tinteiro. Mas vou falar dos isqueiros a gás.
Fiquei viciado nos chineses nem sei bem por quê. Talvez tenha sido pelos
preços pagos no atacado, graças aos bons ofícios do excelente João
Dias, o Rei da Feijoada e do Mercado Central de BH. Dia desses, numa
emergência, lembrei-me do patrão italiano, bilionário, que fumava e
distribuía uma caixa de charutos cubanos por dia, e só usava isqueiros
Bic, dos grandes. Lembrei-me, também, de que o seu operoso funcionário
comprava dos mesmos isqueiros para acender os charutos dados pelo
patrão. Na falta dos chineses, que vêm aí pelo Sedex, mandei comprar um
Bic grande: uma fortuna! Mais que US$ 2 pelo câmbio do dia, o que é um
furto. Mas funciona e, com jeito, não queima o polegar da mão direita.
Palmas para o sr. Bic, ou Bich, como queiram.
Consumista?
Nunca
fui consumista, até porque nunca nadei em ouro. Tive pouquíssimos
carros zero, nenhum que configurasse exibicionismo ou estivesse acima
das minhas posses. Quando vendi a roça fluminense sobrou dinheiro para
comprar uma BMW, que evidentemente continuou na revendedora. Já no EM
tive oportunidade de comprar um Mercedes, seminovo, por R$ 21 mil. Havia
caixa, mas os meninos do Vrum me avisaram que os amortecedores, os
faróis e o para-brisa continuavam custando os preços “praticados” pela
Mercedes.
Com a mudança mais recente aconteceu fenômeno até hoje
sem explicação. Seguinte: surgiram do nada dezenas de camisas ótimas, de
cuja existência juro que não desconfiava, e coisas como seis pares
virgens de mocassins da Motex. Comprei-os, nunca os usei e não sabia
deles. As camisas polo e de botões, pouco ou nada usadas, andaram em
local incerto e não sabido durante anos. Incerto, não sabido e
inexistente, porque um dos apês era mínimo e não havia lugar para
ficarem escondidas. Em valores atuais, o conjunto de sapatos e camisas
não chega a R$ 7 mil. Ainda assim, o fenômeno me encuca.
Compromisso
Não
se pode pretender que um nativo deste país grande e bobo seja
compromissado com o que promete fazer, com os horários que marca, com
nada de coisa alguma. O descompromisso do brasileiro com o dia, a hora e
os serviços agendados atingiu o nível do absurdo. Escrevo depois de 48
horas aguardando o instalador da Sky, contratada e paga, segundo recibo
em meu poder. Pode? Tem cabimento uma coisa dessas? Sky em inglês é céu.
No Brasil soa como inferno, apesar de nos prometer que o Galvão ficará
longe do novo televisor LED de 47 polegadas. Por falar em televisor, não
sei se já lhes contei que a velha Sony de 40” foi transformada em
monitor de computador, e me pergunto: como pode um profissional da pena
viver sem monitor de 40”? Enquanto isso, a Remington portátil que ganhei
no meu aniversário de 12 aninhos foi transformada em enfeite na sala de
visitas para alegria dos netos, que também se amarraram no monitor de
40”. Resta a IBM de esferas, imensa, pesadíssima, guardada em lugar
seguro.
Durante séculos ajudou-me no escritório a compor milhões
de bem traçadas linhas, mas era tão cara que nunca pude comprar uma
outra para escrever em casa. Não dou, não vendo, não empresto. Serviu-me
bem, apesar dos problemas com uma linda secretária, que apanhava do
marido surras de quebrar o braço. Sempre que me via trocando a lauda da
IBM, a linda mineira achava que o philosopho tinha parado de pensar e
dava o ar de sua graça com uma pergunta tola, uma observação descabida.
Obrigou-me a comprar um pacote com aqueles rolos usados nas impressoras
matriciais, que rodavam na IBM sem interrupção para trocar as laudas.
Bons tempos...
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