Deputado revela a estratégia em que ele
aposta para viabilizar a vitória de Aécio em 2014: unir os tucanos
paulistas e explorar a redução da influência do PT no Nordeste
Paulo de Tarso Lyra
Estado de Minas: 08/04/2013
Brasília – O presidente nacional do PSDB,
deputado Sérgio Guerra (PE), entrega no mês que vem o comando do partido
ao presidenciável Aécio Neves (MG). Para Guerra, ser presidente do PSDB
e, ao mesmo tempo, candidato do partido ao Planalto em 2014 ajudará o
senador mineiro a tornar-se mais conhecido nacionalmente e reforçará os
laços dele com a militância tucana. “Aécio chegará à eleição mais
conhecido”, disse ele.
Apesar dos altos índices de aprovação
pessoal e de governo da presidente Dilma Rousseff e de uma confortável
dianteira da petista nas pesquisas de intenção de voto, Sérgio Guerra
acredita que a próxima eleição será diferente da anterior. A economia já
não tem o mesmo desempenho, a inflação é uma ameaça, o emprego declina e
as obras prometidas não saíram do papel.
Para aproveitar esse
cenário, é fundamental a unidade partidária. “Se não tivermos unidade em
São Paulo, não seremos beneficiados pela divisão que as candidaturas de
Eduardo Campos e Marina Silva provocarão no Nordeste”, comentou, em
entrevista ao Estado de Minas.
O PSDB corre o risco de
repetir 2002, 2006 e 2010 e entrar na eleição presidencial sem unidade
em torno de uma candidatura própria?
Não dá para olhar para a frente
com a visão da última eleição. São mais de 10 anos de governo do PT,
notória incapacidade gerencial, insatisfação crescente de setores
sociais relevantes e taxas de inflação preocupantes, além de problemas
no câmbio. Questões gerais para as quais o governo atual não dá
resposta.
Mas Lula foi eleito, reeleito e conseguiu fazer Dilma como sucessora.
São
situações diferentes. As taxas de crescimento eram importantes, a
inflação estava sob controle e os investimentos eram anunciados. Hoje, o
quadro econômico não tem, de forma alguma, semelhanças com o que tinha
naquele período. O ambiente hoje é de mera protelação. Dilma é
presidente, sofrendo críticas da oposição e de todos. Ela tem que se
expor e explicar as obras que até agora não se realizaram.
O PSDB está conseguindo aproveitar politicamente essa situação?
Nas
últimas eleições, o PSDB não valorizou como deveria o seu legado. Isso
nos custou caro. O partido, em vez de valorizar o governo Fernando
Henrique e a sua experiência governamental, perdeu-se ao investir na
tese de que o nosso candidato era o melhor para dar continuidade ao
governo Lula. Foi a anulação do nosso valor enquanto partido.
O que muda para a eleição do ano que vem?
Essa
eleição começa diferente. A base do governo está fraturada. As eleições
brasileiras vão estar equilibradas até chegar ao Nordeste, onde o PT
normalmente mostrava sua força. Agora, há um (provável) candidato do
Nordeste (Eduardo Campos, governador de Pernambuco) que, seguramente,
divide o eleitorado. Ele e Marina Silva são candidaturas que,
provavelmente, começarão com 15% ou mais de intenção de voto.
Apesar
desse cenário adverso, a presidente Dilma mantém índices folgados de
avaliação positiva pessoal, de governo e de intenção de voto...
Há
uma exacerbação da propaganda pública e da imagem da presidente e uma
diminuição da oposição no Parlamento. A capacidade de superfaturar as
realizações públicas é óbvia quando a presidente da República ocupa, às
vésperas das pesquisas, o espaço na televisão para anunciar bondades
para a população.
Eduardo Campos divide os votos apenas dos
governistas? Existem analistas que acreditam que ele está invadindo o
espaço dos tucanos também.
Ela (candidatura de Eduardo Campos, se
confirmada) divide os votos que o governo teria no Nordeste. Por isso,
precisamos manter as nossas bases no Sudeste. O que implica, de maneira
muito clara, já que nosso candidato é mineiro, com fortes laços no Rio
de Janeiro, manter nossa posição de hegemonia em São Paulo.
Uma
das bandeiras do PT em 2014 é conquistar o governo de São Paulo. O PSDB
caminha para 20 anos de governo no estado. Será uma eleição mais difícil
do que as outras?
Não há eleição fácil. Se Fernando Haddad (prefeito
de São Paulo, do PT) se confirmar como administrador competente, ele
tem mais capacidade de interferir na eleição estadual. Em São Paulo,
estamos no poder há muitos anos e isso gera relativo desgaste. A gente
tem que enfrentar isso e resolver os problemas. Precisamos dessa vitória
e dessa unidade. Se não tivermos unidade em São Paulo, não seremos
beneficiados pela divisão que as candidaturas de Eduardo Campos e Marina
Silva provocarão no Nordeste.
O tucanato paulista está mais simpático à tese de um presidenciável mineiro?
Não
faz 30 dias que o PSDB de São Paulo recebeu o provável candidato Aécio
Neves em uma reunião do partido, na qual estavam presentes dezenas de
prefeitos, a executiva estadual inteira e mais de 30 deputados federais,
em uma prova de unidade clara.
O ex-governador José Serra não estava presente…
O
ex-governador José Serra, sem o qual nossa unidade estará capenga,
estava viajando. É indispensável, para o conjunto de nossas forças,
contar com a colaboração de José Serra para que elas não fiquem
prejudicadas.
O senhor imagina Serra deixando o PSDB?
Não. O eleitor do Serra confunde o Serra com o PSDB e o PSDB com Serra.
O
presidente de um partido tem trabalho para organizar palanques e fechar
coligações. Acumular essa tarefa com a de candidato a presidente da
República não é esforço grande demais?
Aécio ainda é desconhecido. Na
hora em que ele assumir o partido, terá mais chance de se deslocar pelo
Brasil inteiro. E, principalmente, de conquistar os nossos militantes,
nossos quadros.
Antecipar em quase dois anos a eleição presidencial é bom para quem?
A
antecipação da eleição presidencial quem fez foi o governo. Pela razão
clara de que quis, desde logo, soldar a sua base. Para Aécio Neves foi
importante porque ele poderá ter maior exposição. Aécio já vai chegar na
campanha bem mais conhecido.
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