segunda-feira, 8 de abril de 2013

Marcos Augusto Gonçalves

folha de são paulo

"Artsy"
A SP-Arte agitou a cidade, trouxe uma legião de "gringos" e deu margem a discussões sobre o futuro do mercado
"Esperemos que não seja mais um Baile da Ilha Fiscal", comentou um bem-humorado curador paulista ao nos encontrarmos na quarta-feira passada, no Pavilhão da Bienal, durante a inauguração da fervilhante SP-Arte. Referia-se ele, obviamente, à euforia de que se cercou a nona edição da feira.
Organizado pela empresária Fernanda Feitosa, o evento reuniu 122 galerias e trouxe do exterior uma legião de marchands, curadores, artistas e jornalistas hipnotizados pelo brilho do Eldorado tropical emergente. Estaríamos, como no último baile do Império, dançando às vésperas da "débâcle" de mais um promissor ciclo econômico?
"Minha mãe", disse o curador, "que já é uma senhora de idade, está apreensiva; ela viveu aquele otimismo todo dos anos JK e a seguir a crise que resultou no golpe de 1964; e depois veio o 'milagre' da ditadura, que nós lembramos, e deu no desastre inflacionário da década de 80"...
É verdade, mas o público "artsy" -como a turma das artes está sendo chamada nas páginas borbulhantes do jornalismo mundano- não parece, por ora, muito preocupado com isso. A pátria do capital é a oportunidade, e o Brasil tem oferecido algumas bastante boas, ainda mais no contexto de crise econômica que se instaurou na Europa e nos Estados Unidos. Natural que os olhos e os bolsos se voltem para cá.
A afluência de galerias internacionais de primeira linha e a projeção que as artes plásticas vêm alcançando na mídia ajudam a atrair a atenção do público não especializado, que muitas vezes parece desconcertado diante da variedade de trabalhos e das cifras que são pagas por alguns deles.
Sempre se soube que obras de arte podem custar muito caro, mas isso parecia ainda há pouco uma realidade longínqua, coisa "lá de fora" -como os brasileiros costumam se referir ao mundo. Agora, não. Embora também haja preços mais acessíveis, passeia-se pela feira e pode-se ver, diante do nariz, uma tela cotada em R$ 22 milhões.
Encontrei Heitor Martins, ex-presidente da Fundação Bienal, numa das dezenas de festas "artsy" (não resisto) que aconteceram na cidade na semana passada. Ele contou-me que o lendário galerista Leo Castelli (1907-1999) equiparava o valor de uma obra de arte de primeira linha ao de um apartamento de primeira linha. Isso vale para Nova York, mas não para Rio ou São Paulo. Os preços no Brasil, a seu ver, poderão passar por realinhamentos. "É claro que tudo vai depender do comportamento da economia", diz ele. Como não se vislumbra nenhum desastre, apesar dos problemas conhecidos, a tendência é que a expansão do mercado se consolide.
Não é demais lembrar que esta exuberância, talvez irracional aos olhos de alguns, é fruto de um processo. A começar pela qualidade intrínseca da produção artística brasileira, que se realçou no modernismo, deu um salto na década de 1950, com a ruptura concretista e seus "neo" desdobramentos, e se confirmou nas últimas décadas.
Agora, sob efeito da integração ao circuito internacional e das pressões que daí derivam, a tendência é de aperfeiçoamento institucional e aprofundamento da profissionalização.
Embora o "Baile da Ilha Fiscal" seja sempre uma perspectiva a ser considerada aqui embaixo do Equador, não parece, por ora, ser o quadro que se desenha.

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