Revista Época - 08/04/2013
A última pesquisa do Datafolha mostrou que Dilma teria 58% dos votos se a
eleição para presidente fosse hoje. Além disso, ela teria no Nordeste
um desempenho eleitoral superior às demais regiões do país. O voto é
muito mais previsível do que a maioria das pessoas imagina. O desempenho
de Dilma no voto tem a ver com seu desempenho no governo.
Na
mesma pesquisa do Datafolha, a presidente Dilma alcança a marca de 65%
na soma de ótimo e bom. Grande parte dos votos vem desse grupo, vem
daqueles que avaliam positivamente seu governo. A regra é simples e está
baseada nas duas últimas eleições nas quais o presidente em exercício
pôde se candidatar à reeleição, Fernando Henrique em 1998 e Lula em
2006.
O presidente tucano, segundo as pesquisas, teve 85%
daqueles que avaliavam seu governo "ótimo" e 73% dos que o avaliavam
"bom". Lula, por sua vez, converteu em votos 95% do ótimo e 82% do bom.
Conclui-se que em situação de reeleição o governo converte de 80% a 85%
de sua soma de "ótimo" e "bom" em votos.
Quando multiplicamos os
65% de ótimo e bom de Dilma por 0,8, obtemos 52%. Isso significa que,
dos 58% de votos de Dilma na pesquisa do Datafolha, ao menos 52 pontos
percentuais são de eleitores que avaliam positivamente seu governo.
Os
números não mentem jamais, eles ajudam com frequência a fundamentar o
que é óbvio. As pessoas que aprovam um determinado governo – pode ser o
governo federal, algum governo estadual ou municipal – têm a tendência a
votar, em sua grande maioria, para manter o que está bom.
O
julgamento é sempre subjetivo. Um governo bom para um conjunto de
pessoas pode ser péssimo para outro grupo. Contudo, o voto tende a ser
coerente com a avaliação. Quem avalia positivamente um governo vota para
mantê-lo, e quem o avalia negativamente vota para mudá-lo.
Quando
a líder deste governo bem avaliado disputa a reeleição, é mais fácil
para o eleitor decidir. Para ele manter o governo, basta votar em quem
já é presidente, governador ou prefeito. O favoritismo de Dilma tem a
ver com isso. Fernando Henrique e Lula foram reeleitos com
aproximadamente 50% de ótimo e bom. Dilma tem bem mais que isso.
Do
ponto de vista do governo, o grande desafio é manter a popularidade
alta até o final do próximo ano. A aprovação de qualquer governo
federal, no Brasil, desde o advento do Plano Real, está relacionada com o
aumento do poder de compra da população, em particular dos mais pobres,
que formam a grande maioria do eleitorado.
É verdade que a
classe C aumentou. Não é menos verdade que a vida de grande parte da
população segue sendo marcada pela escassez. Há indicadores que
comprovam que o Brasil está 11 anos atrás do México – e 14 anos atrás da
Rússia – no consumo per capita. A renda média familiar da classe C no
Brasil é de pouco mais de R$ 1.500 por mês. Trata-se de uma renda que
está longe de possibilitar que esse grupo tenha padrão de consumo
próximo ao da classe média nos países desenvolvidos. Isso significa que
qualquer aumento real no poder de compra dessa população, além de ser
bem-vindo, é atribuído ao governo.
O perfil de idade de nossa
população fez com que a necessidade de gerar empregos novos diminuísse
bastante. A cada ano que passa diminui a quantidade de jovens que
procuram seu primeiro emprego. Esse é um dos motivos que vêm
contribuindo para a menor taxa de desemprego da história.
Adicionalmente,
em que pese o crescimento do PIB de 0,9% no ano passado, o consumo das
famílias aumentou em 3,1% em 2012. A combinação de desemprego em baixa e
consumo das famílias em alta resulta, na ausência de uma inflação muito
elevada, no aumento real do poder de compra. É esse aumento real que
explica a elevada aprovação do governo Dilma.
Os políticos têm
como prioridade conquistar e manter o poder – esse é o objetivo
principal da atividade política. O governo quer ficar no poder e a
oposição quer voltar a controlá-lo. Isso resulta na inexistência de
dogmas. Ou seja, a inflação não é boa ou ruim em si mesma. A inflação é
ruim caso traga com ela uma consequência política negativa. Fernando
Henrique combateu a inflação em 1994 porque Lula era, no início daquele
ano, o líder nas pesquisas de intenção de voto. Fernando Henrique
manteve a inflação baixa para deter Lula em 1998. Lula aumentou o
superávit primário e deu autonomia ao Banco Central para manter a
inflação controlada. Seu eventual crescimento poderia colocar em risco a
reeleição que viria a ser disputada em 2006.
Fernando Henrique e
Lula, utilizando-se de instrumentos econômicos diferentes, foram
reeleitos porque o poder de compra real da população aumentou em seus
respectivos primeiros mandatos. Como contraponto, há a eleição de 2002,
quando o desemprego foi muito elevado. Fernando Henrique não elegeu seu
sucessor porque houve uma queda no poder de compra real justamente no
ano eleitoral.
Do ponto de vista de qualquer governo, a
combinação mais adequada entre taxa de emprego, aumento do consumo das
famílias e inflação é aquela que mantém elevada – e preferencialmente em
trajetória de alta – a popularidade presidencial. Assim, politicamente
só faz sentido para Dilma combater a inflação quando ela resultar na
redução real do poder de compra. Só nesse caso sua popularidade correrá o
risco de cair - o que resultará, em seguida, em queda na intenção de
votos.
O que as eleições presidenciais de 1998 e de 2006 nos
ensinam é que a opinião pública tem suas leis – e uma delas é que
presidente que disputa a reeleição converte no mínimo 80% da soma de seu
"ótimo" e "bom" em votos. Do ponto de vista de Dilma, é preciso zelar
para que a avaliação de seu governo permaneça alta até 2014. Esse é,
para ela, o caminho mais seguro em direção à reeleição.
Alberto
Carlos Almeida é cientista político, autor dos livros A cabeça do
brasileiro e O dedo na ferida: menos imposto, mais consumo
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