Baterista Wilson das Neves dá maior visibilidade ao lado compositor no CD Se me chamar, ô sorte, do MP, B Discos
Ailton Magioli
Estado de Minas: 15/04/2013
“É o disco independente mais
dependente do mundo”, constata, divertindo-se, o sambista Wilson das
Neves, de 76 anos, a respeito de Se me chamar, ô sorte, que ele está
lançando pelo selo MP, B Discos, depois da campanha crowdfunding, em que
o interessado adquire o produto antes mesmo de sua existência. Quarto
trabalho solo do cantor, compositor e baterista que ganhou notoriedade
desde que passou a tocar com Chico Buarque, há mais de 30 anos, o CD
traz a elegância característica de Das Neves no quesito interpretação,
acompanhado, na faixa Ao nosso amor maior, parceria com Luiz Carlos da
Vila, da não menos elegante Áurea Martins.
“Eu já era músico
quando Áurea apareceu no programa A grande chance, de Flávio Cavalcanti,
em que eu tocava na orquestra do maestro Cipó. Gravei inclusive o
primeiro disco dela, uma das melhores cantoras do mundo”, afirma Wilson,
que gravou Ao nosso amor maior depois de a composição ter sido
registrada pelo parceiro Luiz Carlos da Vila, já falecido, e pela
mineira Ângela Evans, de cuja gravação ele participou.
Distante
da denominada faixa de trabalho que as gravadoras costumam impor aos
artistas, Wilson das Neves diz que faz discos para que todas as faixas
cheguem ao público. “São todas filhas do mesmo pai. Têm de tocar”,
defende o sambista, consciente de que o Samba para João, que o parceiro
Chico Buarque letrou em homenagem ao bisneto, tem potencial suficiente
para ganhar mundo. “Venho compondo desde 1970”, diz ele ao justificar o
crescente aparecimento do compositor, em detrimento do baterista famoso.
“Sempre
que surge a oportunidade de mostrar o trabalho do compositor a gente
tem de aproveitar, já que o do músico já mostrei”, justifica o cantor,
compositor e baterista. Sem demonstrar preferência pelo ato de compor,
cantar ou tocar, Das Neves lembra ter passado pelo menos a metade da
vida em estúdio.
Além de estrear parceria com o mineiro Toninho
Gerais (O dono da razão) e Toninho Nascimento (Limites), Wilson volta a
exercitar a reconhecida musicalidade ao lado de poetas como Paulo César
Pinheiro, com quem divide a maioria das faixas do novo CD: Cara de
queixa, Trato, Jeito errado, Peão de obra, Máscara de cera e Licor,
sereno e mágoas.
E mais: o compositor tem parcerias também com
Claudio Jorge (a faixa título do disco), Nelson Sargento (Fragmentos do
amor), Vitor Bezerra (Feito siameses) e Délcio Carvalho (Não existe mais
saudade), enquanto os arranjos foram entregues a mestres do formato
como o próprio Cláudio Jorge, Zé Luiz Maia, João Rebouças, Vittor
Santos, Jorge Helder, Bia Paes Leme e Luis Cláudio Ramos.
Depois
do lançamento no Sesc Copacabana, com direito à presença ilustre do
parceiro Chico Buarque, Wilson se prepara para fazer show do clássico
instrumental Som quente é das neves, no em 19 de maio, no Sesc
Belenzinho. A turnê nacional do novo disco, produzido por ele em
parceria com Paulo César Pinheiro e Berna Ceppas, já está sendo
agilizada pela produção do artista.
Nascido para o samba
Autor
de divertidas frases de efeito, o cantor, compositor e baterista
comenta o atraso no lançamento do documentário O samba é meu dom, sobre a
sua trajetória, produzido em Belo Horizonte pelo diretor Cristiano
Abud: “A gente acaba correndo o risco de transformá-lo em E o vento
levou... Wilson das Neves”, afirma, sorridente.
“Com mais de 30
horas gravadas, o desafio agora é selecionar o material que vai compor o
longa”, explica o diretor, sem ocultar as dificuldades de fazer um
filme sobre um artista carioca em Minas.
“Não estamos na Lei
Estadual de Incentivo à Cultura, nem no programa Filme em Minas”,
lamenta, comentando restrições impostas pela regionalização do mercado.
Segundo Abud, até o momento ele e o parceiro Alexandre Segundo já
investiram R$ 90 mil no documentário, cujo orçamento integral é de R$
800 mil, aprovado pela Agência Nacional de Cinema (Ancine). “Estamos em
fase de finalização do filme”, garante Abud, que acompanhou a vida de
Wilson das Neves ao longo de mais de quatro anos, pegando inclusive
parte importante da carreira solo do artista.
Além da gravação e
lançamento do disco anterior, O samba é meu dom registra os bastidores
da mais recente turnê de Chico Buarque, com direito a entrevista do
parceiro maior do sambista, além da participação de Wilson no desfile
deste ano da Império Serrano, escola de coração dele, na Sapucaí.
“Estamos fazendo tudo sem leis e sem patrocínio”, afirma o diretor,
justificando o atraso.
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