Pesquisa indica que meninas com idade
entre 11 e 13 anos ficam protegidas contra o vírus quando recebem vacina
em duas etapas. A recomendação atual é de três doses
Bruna Sensêve
Estado de Minas: 24/05/2013
Grupos de
pesquisadores investigam se, em um futuro próximo, será possível iniciar
a vacinação de meninas com idade entre 11 e 13 anos contra o
papilomavírus (HPV) em duas doses e parar por aí. Cientistas do Centro
de Avaliação de Vacinas na Universidade de British Columbia, no Canadá,
afirmam que a resposta do sistema imunológico das meninas que receberam
somente duas doses não é inferior ou pior que a do organismo de jovens
mulheres imunizadas com as três doses atualmente recomendadas.
A
infecção pelo HPV é uma das principais causas do desenvolvimento de
câncer de colo do útero, sendo os tipos 16 e 18 do vírus responsáveis
por 70% dos casos em todo o mundo. A prevenção contra a infecção pode
ser feita com a vacina bivalente ou quadrivalente. A diferença é que a
última conta ainda com a imunização contra os tipos 6 e 11, que causam a
verruga genital.
Os pesquisadores canadenses reuniram 830
voluntárias, que foram divididas em três grupos: 259 meninas com idade
entre 9 e 13 anos receberam apenas duas doses da vacina; 26, com a mesma
idade, tomaram as três doses recomendadas, assim como 310 mulheres com
idade entre 16 e 26 anos. Amostras de sangue foram fornecidas pelas
voluntárias antes da primeira dose, sete meses depois e 36 meses após o
início da imunização.
De acordo com os resultados, as meninas que
receberam duas doses, em comparação às que tiveram três aplicações, não
apresentaram uma resposta imunológica inferior, como seria o esperado,
por receberem quantidade menor de vacinas. O resultado foi o mesmo para
os quatro subtipos do vírus. A soropositividade, isso é, a presença de
anticorpos no sangue para o HPV-18, por exemplo, foi de 89% para as
meninas do grupo das duas doses, de 94% para o de três doses e de 83%
para as mulheres que receberam três doses.
Os níveis de
anticorpos dos quatro genótipos da vacina diminuíram entre 7 meses e 18
meses a um nível que foi mantido até os 36 meses. Ambos os grupos de
meninas mantiveram os níveis mais elevados de anticorpos em 36 meses do
que as mulheres.
Uso global “O uso global de
vacinas contra o HPV para prevenir o câncer cervical é impedido pelo
custo. Um esquema de apenas duas doses para as meninas pode ser viável”,
observa Simon Dobson, líder da pesquisa. Ele e os demais integrantes do
estudo, no entanto, alertam que são necessários mais dados sobre a
duração da proteção antes que seja recomendada a redução da dosagem.
Dobson observa ainda que esses são os primeiros dados conhecidos sobre a
duração da resposta imune em jovens adolescentes a uma programação
reduzida da dose da vacina quadrivalente contra o HPV. No entanto, a
diferença clínica significativa entre os dois procedimentos e os
intervalos de três doses ainda não puderam ser determinados.
Avaliação clínica
Segundo o professor e chefe do Setor de Doenças Sexualmente
Transmissíveis da Universidade Federal Fluminense (UFF), Mauro Romero, é
preciso que a eficácia das duas doses da vacina seja medida
clinicamente. “O objetivo final precisa ser a infecção ou não pela
doença, porque nem sempre esse fator é contabilizado” A eficácia da
vacina no estudo foi medida com as respostas sorológicas, chamadas
antigenicidade. “A pessoa pode ter a taxa de anticorpos para determinado
vírus nas alturas, mas ela continua ficando doente. O trabalho é um
avanço muito bom, mas temos que olhar com calma.” Romero explica que a
vacina é aplicada e o organismo responde com a produção de anticorpos.
Segundo
especialista, já é conhecido que apenas metade das pessoas que é
infectada naturalmente pelo HPV cria anticorpos para o vírus. A vacina
propiciaria uma resposta de quase 100%.
“Imaginamos que esteja
dando proteção (a vacina), é o raciocínio lógico. Porém, o que realmente
precisamos medir é a eficácia clínica, ou seja, tomou a vacina e não
tem a doença. Esse estudo ainda não mede isso. É a eficácia antigênica e
não clínica. Mas é o primeiro passo”, observa. Dobson acredita que
reduzir o número de doses afeta os custos da vacina e sua administração,
bem como melhora potencialmente as taxas de adesão à imunização.
“Decisões
em saúde pública são baseadas em evidências que têm levado à redução
das doses para hepatite B, pneumococo e meningococo sorogrupo C nos
programas de vacinação. Há um equilíbrio a ser encontrado entre o valor
incremental de uma dose adicional sobre a eficácia na população e os
custos da oportunidade de usar os recursos necessários para a dose extra
em outros programas de saúde pública. Esse é especialmente o caso de
vacinas contra o HPV pelo seu alto custo.”
Queda na contaminação
Dados preliminares
sugerem que dois anos depois da introdução da vacina quadrivalente
contra o HPV na Austrália, a proporção de diagnósticos de verrugas
genitais diminuiu 59% em mulheres com idade entre 12 e 26 anos e em 39%
em homens heterossexuais. Pesquisadores da Universidade de New South
Wales e do Centro de Saúde Sexual de Melbourne buscaram descrever o
efeito do programa de vacinação na população cinco anos após a adoção no
país.
Os dados foram retirados de oito serviços de saúde sexual
da Austrália. Eles dividiram a análise no período de pré-vacinação
(2004–2007) e vacinação (2007–2011). Os pacientes foram separados em
três grupos: com idade inferior a 21 anos, entre 21 e 30 anos e com mais
de 30 anos. Entre 2004 e 2011, 85.770 pacientes foram atendidos pela
primeira vez nos serviços de saúde sexual. Deles, 7.686 (9%) tinham
verrugas genitais.
A proporção de mulheres diagnosticadas com o
problema aumentou durante o período de pré-vacinação – de 9% para 10%
–, mas o índice caiu para 3% no período da vacinação. Entre as mais
jovens, 9% foram diagnosticada com verrugas genitais em 2004 e 11% em
2007. Durante a imunização, a taxa caiu para 0,85%. Em 2011, nenhuma das
mulheres vacinadas menores de 21 anos foi diagnosticada com o problema.
Declínios significativos também foram observados em mulheres com idade
entre 21 e 30 anos e homens heterossexuais com até 30 anos. Apesar de na
Austrália apenas as mulheres serem vacinadas contra o HPV, os
pesquisadores acreditam que os homens são beneficiados indiretamente
pela imunização.
LEI ENTRA EM VIGOREntrou
em vigor ontem a lei federal que estabelece um prazo máximo de 60 dias
para que pessoas com câncer iniciem o tratamento pelo Sistema Único de
Saúde (SUS). O período, que conta a partir da confirmação do diagnóstico
e da inclusão das informações no prontuário médico, os pacientes devem
passar por cirurgia ou iniciar as sessões de quimio ou radioterapia,
conforme a indicação do caso.A lei foi sancionada pela presidente Dilma
Rousseff em novembro e tinha 180 dias para começar a valer. O paciente
que não conseguir iniciar seu tratamento no prazo de dois meses pode
fazer denúncia na ouvidoria do SUS pelo telefone 136. Essas denúncias
serão fiscalizadas pelo Ministério da Saúde. A nova regra não vale para
três casos: câncer de pele não melanoma (a biópsia às vezes já é o
tratamento), tumor de tireoide com menor risco e pacientes sem indicação
de cirurgia, radioterapia ou quimioterapia. O Instituto Nacional do
Câncer (Inca) prevê 518 mil novos casos de câncer diagnosticados em
2013.
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