Luís Roberto Barroso, escolhido por Dilma
para vaga na Corte, atuou em casos importantes, como união homoafetiva,
células-tronco e anencéfalos. Ele ainda será sabatinado no Senado
Diego Abreu e Karla Correia
Estado de Minas: 24/05/2013
Brasília –
O advogado constitucionalista Luís Roberto Barroso, de 55 anos, foi o
escolhido da presidente Dilma Rousseff para substituir o ministro Carlos
Ayres Britto no Supremo Tribunal Federal (STF). A indicação foi feita
ontem à tarde, seis meses depois de Britto ter se aposentado
compulsoriamente. Barroso chegará à Corte a tempo de participar do
julgamento dos recursos apresentados pelos réus do processo do mensalão,
uma vez que essa nova etapa da Ação Penal 470 só deverá ser iniciada em
agosto. Ele ainda não comentou se julgará o caso, mas a tendência é de
que participe da apreciação dos embargos de declaração.
O
advogado deve assumir a cadeira de ministro até o fim de junho. Antes
disso, ele passará por sabatina na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) do Senado. A indicação será submetida também à apreciação do
plenário da Casa, antes de a posse ser marcada.
Luís Roberto
Barroso tem uma carreira jurídica marcada por vitórias em importantes
causas julgadas pelo STF. Ele atuou na defesa do ex-ativista italiano
Cesare Battisti no processo de extradição solicitado pela Itália.
Barroso saiu vitorioso ao ver o Supremo definir que Battisti ficaria no
Brasil. Ele advogou também na ação em que o STF autorizou o
reconhecimento da união estável de casais homoafetivos. O advogado foi
protagonista dos processos nos quais o Supremo liberou as pesquisas com
células-tronco embrionárias e a interrupção da gravidez de fetos
anencéfalos.
O futuro ministro terá mais de 14 anos de mandato
no Supremo até sua aposentadoria, quando completar 70 anos e terá tempo
para presidir a Casa. Conforme o critério da antiguidade, ele assumirá a
presidência do tribunal daqui a menos de 10 anos, em 2022.
A
escolha de Barroso foi celebrada pelos ministros do STF. “Eu acho um
excelente nome. Não só pelas qualidades técnicas, como pessoa, mas
também pelo fato de que somos colegas (de docência) de faculdade na
Universidade (Estadual) do Rio de Janeiro”, destacou o presidente da
Corte, Joaquim Barbosa. O ministro Marco Aurélio Mello também elogiou a
indicação. “Será recebido de braços abertos como um grande estudioso do
direito, um profissional digno de elogios.”
Ricardo Lewandowski
ressaltou as qualidades do futuro colega. “É um grande advogado, um
defensor dos direitos humanos, tecnicamente impecável”, frisou. Na
avaliação dele, Barroso participará do julgamento dos embargos do
mensalão. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também
considera que o jurista poderá analisar os recursos “desde que se sinta
habilitado a tal”.
Em texto publicado em seu blog, em outubro,
Barroso fez um comentário sobre as “lições” que, segundo ele, podem ser
extraídas do julgamento do mensalão: “É uma boa oportunidade para
repensar o sistema eleitoral e o sistema partidário. O país precisa de
uma reforma política urgente e não há como realizá-la agradando a
todos”.
Dilma definiu-se por Barroso na manhã de ontem, em
reunião com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Nascido em
Vassouras (RJ) e considerado um neoconstitucionalista, o jurista recebeu
a notícia ontem à tarde. “Recebi muito honrado a indicação. Fico feliz
com a perspectiva de servir ao país e de retribuir o muito que recebi”,
disse.
Graduado em direito pela Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (Uerj), ele leciona direito constitucional na instituição e
também é professor convidado da Universidade de Brasília (UnB). Casado e
pai de um casal de filhos, Barroso morou nos Estados Unidos, onde se
tornou mestre, doutor e pós-doutor. A afinidade com o direito vem de
berço. Seu pai é aposentado do Ministério Público do Rio, e sua mãe, já
falecida, era advogada.
O constitucionalista tem 18 livros
publicados. No ano passado, ele teve um câncer no esôfago, mas foi
submetido a um tratamento no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e
ficou completamente curado. No blog que mantém, o escolhido de Dilma
publica artigos, músicas e poesias, além de textos com opiniões sobre
assuntos diversos.
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