Ex-faxineira que fala sete idiomas recusa
propostas de emprego para continuar como recepcionista no Mercado
Central, onde ganhou reconhecimento e virou estrela
Arnaldo Viana
Estado de Minas: 24/05/2013
Por
enquanto, o coração de Maria da Conceição da Silva, de 41 anos, é do
Mercado Central. E o coração do mercado é de Maria da Conceição. É o que
garantem a ex-faxineira que se comunica em sete idiomas, conforme o
Estado de Minas revelou há exatamente uma semana, e o superintendente do
centro de compras, Luiz Carlos Braga. Uma cumplicidade profissional,
que envolve gratidão e reconhecimento.
Gratidão da pernambucana
de mãos ásperas, resultado de trabalho pesado no Nordeste e na Europa. O
reconhecimento vem do administrador do mercado, que, após descobrir os
dons da ex-faxineira, apostou nela como recepcionista no balcão de
informações turísticas e não se arrependeu. Pelo contrário, os
resultados até o surpreendem. “A diferença que ela faz está nos
corredores e no guichê, pois não para de vir gente só para conhecê-la.
Quando
tirou Conceição da faxina e a levou para o serviço de informações
turísticas, Luiz Carlos elevou o salário de Conceição de R$ 800 para
cerca de R$ 1,5 mil. E, antes mesmo de a reportagem ser publicada,
revelou-se preocupado com a possibilidade de perdê-la, por causa das
portas abertas no mercado, com a proximidade das copas das Confederações
e do Mundo, para profissionais que dominam no mínimo dois idiomas. “Se
surgir proposta que possa convencê-la a nos deixar, ela está livre para
aceitá-la.”
Conceição, que foi rejeitada quando pediu emprego em
hotéis, restaurantes e outras empresas de BH, antes de conseguir vaga de
faxineira no mercado, recebeu, depois da reportagem, três ou quatro
cartões de interessados em contar com seus conhecimentos linguísticos.
Todos são levados ao conhecimento de Luiz Carlos. “Um deles é de Paraty,
no Rio de Janeiro. Fui convidada a ficar uma semana na cidade para
conhecê-la e, se gostar, há um emprego aberto em uma pousada.” Conceição
não foi.
Como a opção é ficar no mercado, ela está matriculada
em curso da Belotur para conhecer a cidade. “O turista que vem aqui quer
saber onde fica tal hotel, rodoviária, terminal de aeroporto,
restaurantes. Assim, estamos capacitando a Conceição para prestar um
serviço melhor”, diz Luiz Carlos. Ela não tem nem tempo de responder. O
assédio é grande e há um grupo de estudantes à espera para fotos e
entrevistas com a celebridade do mercado.
Wesley Brenner, de 17,
Raphael Bacelete, de 17, Vítor Júnior, de 16, e Lorraine Stafeni, de 17,
alunos do 3º ano do ensino médio do Colégio Ordem e Progresso, estão
aflitos para entrevistá-la e fotografá-la. “É para um trabalho escolar
e, depois, vamos jogar no Facebook”, diz Wesley.
Lorraine conta
que leu a história de Conceição sexta-feira passada no EM e no Portal
Uai. “A gente não conhecia o mercado e andamos, andamos até achá-la.”
Vale a pena, garotada? “Valeu. A Conceição é nota 10”, dizem, em coro.
Quem
está rindo à toa com o assédio a Conceição é Noé José da Silva, de 63.
Ele é o dono da Queijaria Noé, bem em frente ao guichê de informações
turísticas. “Minhas vendas aumentaram muito.” Por falar em informações
turísticas, o Mercado Central, para ficar de acordo com sua guia
poliglota, inaugura 140 placas em português, inglês e espanhol para
orientar o cliente nos corredores. “Estamos saindo na frente na
adequação para atendimento ao estrangeiro nas copas”, afirma Luiz
Carlos.
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