Temporada de exposições agropecuárias e
rodeios aquece o mercado da música popular. Tem espaço para todo mundo,
do sertanejo de raiz ao pagode, passando pelo funk e axé
Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 26/05/2013
“Era
um evento para encontro e confraternização dos melhores produtores
rurais. O pessoal fazia almoço, havia torneio leiteiro, as famílias
compareciam e tinha até campeonato de tiro. Uma festa pequena, como se
fosse um churrascão. Foram criando vitrines e glamourizando a festa até
virar essa formosura que é hoje”, lembra Mário Guilherme Ribeiro do
Valle, organizador da Expoagro de Guaxupé, no Sul de Minas. Em sua 39ª
edição anual, deverá atrair cerca de 200 mil pessoas entre 5 e 14 de
julho para assistir a rodeio e 12 shows de nomes como Milionário &
José Rico, Fernando & Sorocaba e Naldo.
Não é de hoje que
rodeios, exposições e festas agropecuárias se tornaram megaeventos no
estado. O que chama a atenção é a constante evolução desses encontros,
que crescem, se sofisticam e atraem multidões, que, por vezes, superam a
população da cidade em que são realizados. Sem falar no batalhão de
trabalhadores (montagem, segurança, técnicos etc.), nas carretas e
carretas de equipamentos e, claro, nos cachês de seis dígitos. Chegou-se
ao ponto de ter trio elétrico adentrando a arena com uma dupla
sertaneja em cima – e gente vendo tudo de camarote (a preço de show
internacional).
“No começo dos anos 1990, com o sertanejo virando
moda, esses eventos foram revolucionados. Acompanhei a transição desde
as festas pequenas”, conta Mário. Presidente do Sindicato dos Produtores
Rurais de Guaxupé, que promove a Expoagro, ele organiza a festa desde
1997 e começará a montar a deste ano semana que vem, com previsão para
concluir o trabalho em 1º de julho. Para a montagem do palco,
arquibancadas, camarote, som e luz são esperadas 40 carretas (cada uma
com 30 toneladas de material) no parque de exposições da cidade, que tem
60 mil metros quadrados.
Com orçamento calculado em R$ 5
milhões, a festa em Guaxupé é uma das maiores do gênero em Minas Gerais,
ao lado das de Pedro Leopoldo, Patos de Minas, Sete Lagoas e
Divinópolis. O cachê pago aos artistas é uma das fatias mais polpudas:
somente o show da dupla Jorge e Mateus custará ao Pedro Leopoldo Rodeio
Show nada menos que R$ 400 mil, de acordo com o organizador do evento,
Tiago Brito. Pesquisas com o público pela internet (a página do evento
no Facebook tem 173 mil seguidores) ajudam a decidir que atrações
incluir na programação, explica ele, mas nada entra sem o seu aval.
“Hoje
está tudo muito rápido, não existe mais essa coisa de durar 10 ou 15
anos, como Zezé di Camargo e Luciano. O público que num ano quer uma
coisa, no outro, quer outra”, avalia Tiago. Ele vai a cerca de 10
eventos do tipo não apenas para avaliar que artistas trazer, mas também
para aperfeiçoar estrutura, cenário, segurança e sinalização. A
programação, que começa quarta-feira e termina dia 2 do mês que vem, tem
nomes como Gusttavo Lima, Thaeme & Thiago e (no trio elétrico)
Guilherme & Santiago, além de atrações de outros estilos, caso de
Monobloco, Sorriso Maroto, Israel Novaes e Babado Novo. Fora os DJs.
Artistas à venda
São 30 atrações em cinco palcos e, para fechar programação tão extensa
como essa, é preciso que as contratações sejam feitas com antecedência
considerável – 10 meses, no caso. João Wellington, empresário que atua
no segmento sertanejo há 20 anos e realiza eventos em várias cidade
mineiras, chega a contratar artistas sem saber onde vão tocar. “Em
outubro as agendas deles são abertas para os 10 principais empresários
do país. Já vou dando uma olhada e observando quem são os mais pedidos
em cada cidade. Como no futebol, só compro quem tem projeção, quem está
na mídia”, afirma João.
O empresário explica que o artista
contratado para tocar numa certa cidade, em determinado mês, só pode se
apresentar novamente no local depois da realização do show, já que o
objetivo é garantir público. Até o momento, estão sob sua
responsabilidade as festas de Janaúba (de 30 deste mês a 9 de junho),
Caeté (no mesmo período), Lagoa da Prata (de 13 a 15 do mês que vem),
Montes Claros (de 28 de junho a 7 de julho) e Governador Valadares (de 4
a 14 de julho). Confirmando a tendência pluralista verificada no Pedro
Leopoldo Rodeio Show, alguns desses eventos contam até com noite gospel.
Mário
Guilherme, da Expoagro de Guaxupé, garante que os próprios artistas
chegam a reservar datas em suas agendas para determinados eventos.
“Muitos dão preferência para grandes eventos como esses, pois sabem que é
importante estar presentes. É como se a Ivete Sangalo não cantasse no
carnaval”, compara. De toda forma, diz ele, a antecedência continua
valendo para fazer a festa acontecer e a velha lei da oferta também:
“Cachê sobe, como tudo. Já trabalhamos com artista que ano passado
ninguém tinha ouvido falar e, hoje, cobra R$ 100 mil”, contabiliza Mário
Guilherme.
Trio elétrico do sertão
Iniciantes e
veteranos seguem tendo os rodeios e exposições agropecuárias como
oportunidades de ampliar público e faturar. Para a dupla Thaeme &
Thiago, formada em 2011, este ano será muito significativo pelo fato de
se apresentarem sempre nos palcos principais dos eventos. “Fomos muito
bem recebidos nos rodeios, que sempre têm muitos nomes consagrados.
Começamos com repertório parcialmente autoral e, se estamos tocando, é
porque agradamos. Ir para os palcos principais com as nossas próprias
músicas é a realização de um sonho”, orgulha-se Thaeme.
Em
relação ao primeiro ano de carreira, a dupla dobrou a média de shows por
mês (atualmente são 20) e, durante essa temporada festeira, metade das
apresentações será em Minas Gerais. Já a dupla Guilherme & Santiago,
há 19 anos na estrada, fará este mês 16 shows – a maioria deles em
rodeios. A cada cinco, um será em cima de um trio elétrico. “Não tem
palco nem cenário e a energia do público é inexplicável. O pessoal do
axé criou isso e vimos que dá certo nas micaretas sertanejas”, comemora
Santiago.
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