domingo, 2 de junho de 2013

Eduardo Almeida Reis - Um senhor cronista‏

Com este frio, o sujeito vai ao leito e pensa uma porção de coisas antes de pegar no sono


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 02/06/2013 

Consultando a Wikipédia, aprendemos que Barcelos, com 20.600 habitantes, é cidade portuguesa no distrito de Braga, Região Norte, sub-região do Cávado, sede de um município com 120 mil habitantes subdividido em 89 freguesias, concelho com o maior número de freguesias em todo o país.

Limitado ao norte por Viana do Castelo e Ponte de Lima, dos Malheiros do nosso Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza, tem a sudoeste a Póvoa do Varzim, berço de José Maria de Eça de Queiroz, generally considered to be the greatest Portuguese writer in the realist style. Zola considered him to be far greater than Flaubert.

Querido amigo, nascido na Terrinha, quis ter a gentileza de me mandar recorte do Jornal de Barcelos com a crônica “O sexo ao serviço do país”, do professor Luís Manuel Cunha. Texto muito divertido e a salvo do imbecilíssimo Acordo Ortográfico, para o qual os portugueses de lixam. Seria desonesto transcrever a “crónica” do professor. Desonesto e impossível, porque Luís Manuel pega pesado – e isso num jornal editado em cidade de 20 mil habitantes, chegando a 120 mil em todo o município de 89 freguesias.

Fala das meninas brasileiras conhecidas como “mulheres alternes”, que são aquelas que se encontram em bares, cabarés e clubes de qualquer cidade que se preze, por oposição às mulheres contínuas, também chamadas esposas, que são as que os portugueses têm em casa.

Aqui nos jornais brasileiros temos visto gente de nomeada transformando em moeda corrente o substantivo feminino de cinco letras, que começa por M, e o verbo, também de cinco letras, que começa por F, ambos antiquíssimos em nosso idioma. Relatam atividades repetidas desde o nascimento do gênero Homo.

Pois fique o leitor sabendo que M e F, na crónica do professor, são fichinha. De repente, os senhores directores do Jornal de Barcelos andam à procura de um correspondente em Minas Gerais. Sou candidato e prometo rivalizar com Luís Manuel na arte de pegar pesado.

Reflexões

Com este frio, o sujeito vai ao leito e pensa uma porção de coisas antes de pegar no sono. Dou-lhes alguns exemplos. Quase todo dia, o noticiário televisivo nos fala dos recordes do desemprego na União Europeia. De recorde em recorde, ninguém precisa ser um gênio para concluir que as más notícias vão acabar quando todos perderem os seus empregos, aí incluídos os jornalistas.

Como será um país sem empregados? Aldeias primitivas não conheciam patrões e funcionários. Presumo que tivessem um sujeito mais forte, que assumia a chefia do pedaço como cacique, rei ou coisa parecida, e um mais esperto, que, por meio de estados extáticos e invocações ritualísticas, manifestasse supostas faculdades mágicas, curativas ou divinatórias. Em todas as sociedades humanas, que apresentam formas de ritualismo mágico-religioso, há um xamã, indivíduo escolhido pela comunidade para a função sacerdotal, frequentemente em decorrência de comportamentos incomuns ou propensão a transes místicos, e ao qual se atribui o dom de invocar, controlar ou incorporar espíritos, que favoreceriam os seus poderes de exorcismo, adivinhação, cura ou magia.

Na sociedade brasileira do século 21 os xamãs podem ser eleitos deputados ou senadores, ficam riquíssimos, moram em apartamentos de 4 milhões de dólares na Avenida Atlântica, estupram as devotas endemoniadas com os seus pênis santos e tudo continua muito bem, obrigado.

Outra das minhas reflexões noturnas, já debaixo das cobertas, tem sido pensar o que seria da Itália – vá lá, da Itália – se alguém, num passe de mágica, sumisse com todos aqueles ministros, assessores, presidente e os mais sujeitos e sujeitas que vemos filmados nas recepções do Palácio do Quirinal, vá lá: Palazzo del Quirinale, representando outros palácios que existem por aí.

Na internet rola a mágica de um japonês que faz aparecer uma carta de baralho dentro de um aquário, abre com os dedos o vidro liso do aquário, sai água, o mágico tira a carta, recompõe o vidro – negócio muito mais complicado do que dar sumiço nos políticos e nos puxa-sacos do Palazzo. Algo me diz que, sem aqueles bandidos travestidos de ministros, deputados e senadores, a Itália sairia da crise em que se meteu.

O mundo é uma bola
2 de junho de 575: eleição do papa Bento I. Em 2013, o décimo sexto da série benedita tornou-se papa emérito. Em 1675, na Espanha, um golpe de estado leva ao trono João José de Áustria, filho de Filipe IV havido fora de casa. Taí: Filipe IV subiu muito no meu conceito. Se qualquer borra-botas se julga no direito de namorar fora de casa, um gajo que reinou durante 44 anos, chegando a ser Filipe III de Portugal, tinha mais é que sair a penachar pelos seus reinos. João, ou Juan, de Áustria foi obra de Filipe no ventre de La Calderona, a atriz Maria Inés Calderona, suposta namorada do duque de Medina de Las Flores, amigo e confidente do rei, que acabaria desterrado. Filipe tinha 22 anos quando conheceu La Calderona, de 16 aninhos, atriz no Corral de la Pacheca.

Ruminanças

“Reis e belicosos; reis e políticos; reis e deliciosos, quantos quiserdes: mas reis e santos, muito poucos.” (Pe. Antônio Vieira, 1608–1697)

Nenhum comentário:

Postar um comentário