domingo, 2 de junho de 2013

Fundação Iberê Camargo investe com sucesso no crescente interesse do brasileiro por arte-Walter Sebastião‏

Fundação Iberê Camargo investe com sucesso no crescente interesse do brasileiro por arte. Fórmula gaúcha alia mostras de qualidade e projetos educativos a administração eficiente 


Walter Sebastião

Estado de Minas: 02/06/2013 


Porto Alegre – Há cinco anos, o Brasil ganhava um museu nota 10: a Fundação Iberê Camargo (FIC), em Porto Alegre. O local não é só referência para se conhecer a trajetória de um dos mais importantes pintores brasileiros, mas ganha reverências mundo afora. Chama a atenção a beleza de sua sede, projeto do arquiteto português Álvaro Siza Vieira, instalada na margem do Rio Guaíba. Acrescente-se a programação de exposições pautada na busca de excelência.

“Nossa missão é divulgar e preservar a obra de um grande artista. Mas o projeto é ser espaço vivo, com atuação abrangente”, explica o jornalista Fábio Coutinho, superintendente da FIC. “A fundação é um presente de Maria Camargo, viúva de Iberê, a Porto Alegre e aos brasileiros”, informa. A coleção pessoal da mulher do pintor foi doada para o projeto.

Um dos esteios das atividades da Fundação Iberê Camargo é o setor educativo: ele cuida de cada mostra, inclusive produzindo publicação específica para professores. “Todos os museus deveriam ter como atividade fundamental formar o olhar da nova geração para a arte”, afirma Coutinho, defendendo projetos dessa natureza para outras áreas, como literatura, música e cinema. “É oportunidade de se criar visão mais crítica da cultura, do mundo e da vida”, reforça.

A programação prevê duas exposições anuais dedicadas à obra de Iberê Camargo. O público pode conferir também quatro mostras temporárias de artistas brasileiros e estrangeiros. As últimas resultaram de intercâmbio com os museus Reina Sofia (Espanha), Torres Garcia (Uruguai), De Chirico e Morandi (Itália). Abrigando tais atividades está um prédio qualificado, que permite a Porto Alegre atrair grandes mostras que passam pelo Brasil. “Assim, criamos a oportunidade de ver coleções incríveis”, lembra Fábio Coutinho.

Aberta há cinco anos, a fundação se tornou cartão-postal gaúcho, mas o superintendente evita fazer um balanço dessa atuação. “Já conseguimos muito”, observa Coutinho. A fórmula de sucesso não veio de milagres, mas da eficiência na obtenção de recursos, “por meio das leis de incentivo e de patrocinadores que patrocinam mesmo, com doações significativas”, explica o superintendente. Planejamento e equipe competente são fundamentais. “Aporte financeiro sem planejamento não resolve. Não há como avançar no que foi projetado se não se conta com uma equipe afinada”, avisa.

A fundação conta com ateliê de gravura por onde passaram cerca de 80 artistas. Todos desenvolveram projetos acompanhados por técnicos da FIC.

Carretel Está em cartaz na Fundação Iberê Camargo a exposição O carretel – meu personagem. Com curadoria assinada por Michael Asbury, a seleção de pinturas, gravuras e desenhos de Iberê Camargo se inspira no objeto, presente em várias obras dele.

As mostras temporárias são Paulo Pasta, a pintura é que é isto, com curadoria de Tadeu Chiarelli, e Elida Tessler: gramática intuitiva, com curadoria de Glória Ferreira. Ambas podem ser visitadas até 18 de agosto.

FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO
Avenida Padre Cacique, 2.000, Porto Alegre, (51) 3247-8000. Funciona de terça-feira a domingo, das 12h às 19h. Quinta-feira tem horário especial, das 12h às 21h. Entrada franca.


Bolsa

Até 31 de julho, jovens artistas brasileiros podem se candidatar a Bolsa Iberê Camargo. O trio selecionado terá direito a residência de dois meses no Museu de Arte Moderna de Bolonha (Itália), no Centro de Arte Contemporânea de Valparaíso (Chile) ou na Kiosko Galeria de Santa Cruz de la Sierra (Colômbia). A bolsa paga a inscrição e taxas de curso, passagem de ida e volta e ajuda de R$ 8 mil. O edital seleciona também um jovem para participar do Programa Artista Convidado do Ateliê de Gravura da FIC. Com duração de uma semana, dá direito a ajuda de R$ 2,5 mil. Informações: www.iberecamargo.org.br




SAIBA MAIS/Gaúcho universal

Iberê Camargo (1914 – 1994) começou a pintar em 1927, na Escola de Artes de Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul. Em 1936, mudou-se para Porto Alegre e, em 1942, ingressou na Escola Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro. Iberê, colegas insatisfeitos com o ensino de arte e o professor de gravura Alberto da Veiga Guignard criaram o Grupo Guignard. O gaúcho (foto) ganhou o prêmio do Salão de Arte Moderna, o que lhe permitiu completar sua formação em Roma e em Paris. “Não há um ideal de beleza, mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida, que é a minha vida, é tua vida, é nossa vida nesse caminhar no mundo”, dizia Iberê.



Três perguntas para...

Fábio Coutinho
Superintendente da fic

Como o senhor analisa a atuação dos museus brasileiros?

Houve grandes mudanças no mundo e no Brasil. Temos filas na porta dos museus, às vezes do primeiro ao último dia de uma exposição. Não se via isso há 20, 30 anos. O habitual era ver famílias levando os filhos ao museu. Agora, não é raro os filhos, entusiasmados com a visita feita com a escola, trazerem pais, vizinhos e padrinhos. Estamos assistindo à descoberta dos acervos, à descoberta de que no museu se guarda parte da história.

Ir a museu virou modismo?
Não acredito. Os governos federal, estaduais e municipais estão incentivando que se conheçam as instituições. A imprensa tem colaborado na divulgação, a museografia contemporânea faz das exposições algo atraente. A escola chegou e estamos melhor preparados para recebê-la. Cafés, espaços de convivência e lojas tornam o museu um lugar muito agradável. Tudo isso, aliado ao bom atendimento, acaba gerando público significativo.

Qual é o papel de instituições sediadas nas capitais em relação às cidades do interior?
As capitais contam com melhores estruturas culturais. É justo levar para as cidades do interior o nosso conhecimento e o nosso trabalho. Nós, por exemplo, temos a atitude de colaborar com museus universitários e municipais. Da mesma forma que fazemos exposições no MoMA, em Nova York, no Museu Reina Sofia, em Madri, e na Pinacoteca de São Paulo, realizamos mostras com o mesmo padrão em Pelotas, Santa Maria, Paço Fundo, Caxias do Sul, cidades do interior gaúcho.


Arquitetura


Em 2002, o projeto da sede da Fundação Iberê Camargo, assinado pelo português Álvaro Siza Vieira, ganhou o Leão de Ouro na Bienal de Veneza de Arquitetura. Ano passado, ele recebeu a mesma premiação por sua carreira. Vinte e um desenhos de Siza Vieira e a maquete gaúcha integram o acervo permanente de arquitetura do Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA. Em 1992, o português recebeu o Prêmio Pritzker, considerado o Nobel do arquitetura.

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