segunda-feira, 1 de julho de 2013

'Furacão' das revoltas abala governantes de todas as siglas

folha de são paulo
ANÁLISE
VERA MAGALHÃESEDITORA DO PAINELO cenário captado pelo Datafolha no calor das revoltas de junho é de terra arrasada. O furacão colheu governantes dos três níveis de administração, de todos os partidos, recém-eleitos e em meio de mandato. Ninguém foi poupado da insatisfação geral que emergiu dos protestos.
Era possível prever esse resultado dada a reação de Dilma Rousseff, governadores e prefeitos, que nas últimas semanas se lançaram feito cabras-cegas para dar satisfação a demandas que ninguém sabia ao certo quais eram.
Do recuo no preço da tarifas à pregação pela reforma política --que, como mostra o mesmo levantamento do Datafolha, não é uma preocupação do eleitor, e sim dos partidos--, os políticos atiraram para todos os lados tentando salvar a própria pele.
Inútil. Logo no início das manifestações, antes de elas atingirem todo o país e as cenas de confrontos se multiplicarem, escrevi no caderno "Cotidiano" que não haveria vencedores políticos das passeatas. Tanto que, quando o Datafolha tenta auferir quem se beneficia do derretimento de popularidade de quem está no comando, não há herdeiro natural. Os que crescem mais são justamente os que representam a negação da política partidária tradicional, como Marina Silva e o não candidato Joaquim Barbosa.
É difícil que tal grau de irritação com os governantes permaneça até a eleição, mas também parece pouco provável que haja recuperação plena da confiança, ainda mais diante das dificuldades econômicas, que impedirão que se atendam as reivindicações mais genéricas, por melhoras na saúde e na educação.
Em entrevistas recentes, Fernando Haddad mostra o tamanho do problema ao dizer que a situação da prefeitura paulistana é de insolvência.
Uma confissão de impotência dessa no sexto mês de mandato, conjugada com aprovação de 18%, parece um beco sem saída para o petista, o mais "novo" da lista dos alvejados pelas ruas. O pior, no caso dele, é que os padrinhos da eleição pouco ou nada podem fazer para ajudá-lo, pois foram atingidos pelo mesmo petardo que o nocauteou.
    Após protestos, aprovação de Alckmin e Haddad cai
    Governador perde 14 pontos e prefeito, 16; Cabral e Paes também são afetados
    Índice dos que acham gestão paulistana ruim ou péssima sobe de 21% para 40% em três semanas, diz Datafolha
    DE SÃO PAULONão foi apenas a popularidade da presidente Dilma Rousseff que acabou corroída pela onda de protestos que tomou o país.
    O movimento abalou os índices de aprovação dos governadores dos dois maiores Estados do país: Geraldo Alckmin (PSDB), de São Paulo, e Sérgio Cabral (PMDB), do Rio; e ainda dos prefeitos das duas maiores cidades: Fernando Haddad (PT), o titular da capital paulista, e Eduardo Paes (PMDB), da capital fluminense.
    Todos os dados são da pesquisa Datafolha finalizada na sexta-feira passada.
    A aprovação de Alckmin caiu 14 pontos no intervalo de três semanas --Dilma perdeu 27 pontos no mesmo período. Os 52% de avaliação positiva do tucano em 7 de junho, pouco antes do início dos protestos, foram reduzidos para 38% na pesquisa recente.
    Na semana do auge dos protestos, Alckmin foi criticado pelo comportamento da Polícia Militar, que num primeiro momento agiu com violência durante passeatas e depois, diante das críticas, teria reduzido o rigor no combate ao vandalismo.
    O Estado também administra tarifas dos trens e do metrô, que também subiram, mas, mediante a pressão das ruas, acabaram tendo o reajuste cancelado.
    Abalo ainda maior foi sentido por Haddad, cuja administração tem só seis meses.
    Seu índice de aprovação caiu 16 pontos em três semanas, de 34% para 18%. A reprovação do petista (soma dos julgamentos ruim e péssimo) subiu de 21% para 40%.
    Haddad se expôs no enfrentamento ao Movimento Passe Livre. No início, disse que não havia margem para negociação. Insistia no argumento de que as passagens de ônibus haviam subido abaixo da inflação. No fim, cedeu.
    Na série histórica, a rejeição de Haddad é equivalente às de Jânio Quadros (43%), Marta Suplicy (42%) e Paulo Maluf (41%), quando se trata do mesmo período de gestão.
    A aprovação também é parecida com as de outros ex-prefeitos. Em junho de 1986, Jânio tinha 16%. Em 1989, Luiza Erundina marcou os mesmos 16%. Maluf, o prefeito seguinte, fez 20%. Em junho de 2007, Celso Pitta tinha 19%. Quatro anos depois, Marta alcançou 20%. José Serra obteve 30% em julho de 2005.
    O único que destoa é Gilberto Kassab, que antecedeu Haddad, com 46%.
    Ao longo dos dias de protesto, os paulistanos foram ficando menos críticos com Alckmin e Haddad.
    Em 18 de junho, 51% avaliavam o desempenho de Alckmin diante dos protestos como ruim ou péssimo. Esse índice caiu para 39% dia 21 de junho. E voltou a cair na última pesquisa, para 33%.
    Com Haddad ocorreu o mesmo, mas em intensidade menor. A má avaliação de seu comportamento era compartilhada por 55%. Caiu para 50%. E depois para 44%.
    RIO
    Depois de atingir o pico de sua popularidade na série do Datafolha no Estado do Rio, em novembro de 2010, o governador Sérgio Cabral despencou 30 pontos.
    No levantamento de sexta-feira, após seis anos e meio de mandato, ele obteve 25% de ótimo e bom, a menor pontuação da série. A soma de ruim e péssimo é maior, 36%.
    Cabral foi alvo dos manifestantes, que acamparam na frente de seu apartamento.
    A imagem do prefeito do Rio, Eduardo Paes, sai igualmente lesada.
    Desde agosto de 2012, seu índice de aprovação caiu de 50% para 30%. A desaprovação fez a trajetória inversa. Subiu de 12% para 33%.

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