SÃO PAULO - Se Dilma Rousseff quiser realmente fazer alguma coisa para aplacar o clamor das ruas e recuperar a popularidade perdida, poderia começar abandonando a ideia de mudar as regras do jogo eleitoral às vésperas do início da partida.
O plebiscito que a presidente sugeriu para discussão da reforma política é um engodo. O que os petistas querem é aproveitar o clima de insatisfação popular para constranger o Congresso Nacional, forçando-o a promover mudanças cujo efeito mais imediato seria aumentar o poder de fogo da coalizão montada para reeleger Dilma, asfixiando a oposição.
O PT defende um sistema de financiamento público para as campanhas eleitorais, em que o dinheiro seria dividido de acordo com a composição das bancadas na Câmara dos Deputados e a captação de doações das empresas passaria a ser ilegal. Se o modelo começar a valer nas próximas eleições, como o governo quer, a campanha oficial ficará com mais de dois terços do dinheiro disponível.
Nos próximos dias, Dilma promete apresentar ao Congresso os temas que gostaria de submeter à consulta popular. O governo acha possível realizar o plebiscito em agosto e aprovar tudo a toque de caixa no Congresso antes de outubro, para garantir que as novas regras entrem em vigor a tempo de beneficiar Dilma.
Se o objetivo da presidente e de seu partido fosse mesmo ouvir a voz das ruas e aperfeiçoar o sistema político do país, eles estariam empenhados em assegurar que a população terá tempo para se informar sobre as mudanças propostas e debatê-las antes de apontar suas preferências.
As passeatas de junho indicaram que muita gente está farta dos políticos que elegeu, mas não se viu ninguém gritando nas ruas pelas reformas que os petistas defendem. Como mostrou a mais recente pesquisa do Datafolha, as pessoas estão angustiadas com os rumos da economia e se preocupam mais com a saúde e a educação do que com a sobrevivência política de Dilma Rousseff.
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