Utopia emagrecer
RIO DE JANEIRO - Numa entrevista recente ao jornal "Bafafá", aqui do Rio, fui perguntado por meu amigo Ricardo Rebelo se tinha alguma utopia. Pensei em citar o bem de todos e a felicidade geral da nação, a paz na terra entre os homens de boa vontade e o clássico trabalhadores de todo o mundo, uni-vos. Mas, diante da dificuldade de aplicação desses programas, preferi ser modesto. Respondi: "Emagrecer".Dias depois, a Associação Americana de Medicina decretou que obesidade é doença, e não falta de caráter de quem --não é o meu caso-- passa o dia mandando frituras, gorduras trans e açúcares para o pandulho, e regando tudo com baldes de refrigerante ou cerveja.
Por causa dessa dieta mortífera, um em cada três americanos é obeso e sujeito a diabetes tipo 2, hipertensão, AVC, infarto, câncer, queda da libido e a ficar entalado nos cubículos das lojas de roupas --e sabe disso, mas não tem forças para mudar. Óbvio: se é uma doença, não é uma questão de querer. Mas, como os americanos sempre descobrem o antídoto para os venenos que fabricam, prevê-se que logo estenderão à comida as restrições que aplicam ao fumo --e, como sempre, os seguiremos.
Com isso, ficará proibido comer pizza, cheeseburger e batata frita em recintos fechados e nos coletivos, inclusive aeronaves. As embalagens de donuts, macarrão instantâneo e salgadinhos de milho terão de exibir advertências do Ministério da Saúde, com fotos de órgãos adiposos e se desfazendo. A venda de torpedos tipo cheetos, doritos e baconzitos será vedada a menores de 18 anos. E nenhuma bebida gasosa, exceto água, poderá patrocinar eventos como a Copa, o Rock in Rio e a Jornada Mundial da Juventude --neste último, só se admitirá a água benta.
Ou seja, emagrecer deixou de ser um problema pessoal. Tornou-se uma das utopias de nosso tempo.
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