Essa fruta vai longe
Valorizadas no mercado externo, variedades produzidas em Minas conquistam o paladar dos europeus. Produtores manga, limão e banana se qualificam para atender a demanda
Marta Vieira e Luiz Ribeiro De Janaúba, Jaíba, Matias Cardoso, Montes Claros e Belo Vale
Estado de Minas: 14/07/2013
O movimento de carga e descarga já é intenso no galpão recém ampliado da Fazenda Águas da Prata, uma das grandes produtoras de manga Palmer no município de Matias Cardoso, no Norte de Minas Gerais, onde a fruta passa por rigorosa seleção para chegar à mesa dos consumidores europeus. Com investimentos iniciais de R$ 1 milhão, o dono do empreendimento, pioneiro da fruticultura irrigada do Projeto Jaíba, Shiguetoshi Kojima, se preparou para vencer o caminho desafiador da nova vedete das exportações do estado. Foi preciso profissionalizar o negócio, recorrer à tecnologia e aprender a gerenciar da lavoura ao escoamento dos frutos, que pode levar 25 dias, por navio, até o desembarque em Roterdã, na Holanda.
A exportação representa âncora e consequência da expansão da área plantada e da valorização dos preços da fruticultura que se organizou e ganhou status de negócio em Minas. Dependendo da época o ano e dos concorrentes do Brasil na oferta da manga na Europa, o quilo da fruta graúda de Minas é vendida a alemães, holandeses e portugueses a 4 euros (R$ 11,84 pelo câmbio de sexta-feira, de R$ 2,9610). “As vendas no exterior vão crescer, sem dúvida, mas exigem investimentos e planejamento. Quando eu vim para cá havia muitos aventureiros. Ficaram os produtores”, afirma Siguetoshi, em referência ao fim da década de 1990.
Mais experientes no comércio europeu, os produtores de limão do Norte de Minas expandiram a área plantada de modestos 200 hectares em 2004 para os atuais 4 mil hectares, despachando quatro conteineres por semana ao Velho Continente. Ingrediente da caipirinha típica do Brasil, o limão Tahiti pode valer 3 euros (R$ 8,88) por embalagem contendo 10 frutas em supermercados da Alemanha, um dos seus principais destinos. Nos momentos de pico dos preços, o atacadista adquire a caixa de 4,5 kg da fruta a até 11,50 euros (R$ 34,05). Firme na aposta que fez, Ítalo Teles de Oliveira faz parte do grupo de produtores que estuda, agora, a possibilidade de exportar ao mercado russo e ao Oriente Médio. “Evoluímos bastante daquele início que chegou a ser amador, quando embarcamos o primeiro conteiner”, recorda.
O longo percurso que separa a produção mineira do mundo desenvolvido e os intermediários nas vendas externas levam a maior parte do acréscimo de preços em relação às cotações das frutas no mercado brasileiro. Os produtores que receberam neste mês R$ 2,30 a R$ 3 pelo quilo da manga Palmer vendida no país ou R$ 0,30 a R$ 0,80 pelo quilo do limão Tahiti podem apurar de 15% a 40% mais nas exportações de acordo com a época e a oferta, no entanto, nem sempre a remuneração no exterior é melhor. A rigor, a conta só fecha depois de computados os custos de produção e os gastos com o escoamento.
Demanda crescente O importador avalia e acompanha desde as características de solo e clima, às práticas de manejo da cultura e a qualidade final, observa o fruticultor e exportador Dalton Londe Franco Filho, de Matias Cardoso. “Com as duas opções de mercado, podemos ter maior estabilidade na remuneração pela cultura, o que permite programar melhor a produção e planejar os investimentos”, afirma. A próxima fronteira a ser derrubada é a da banana-prata. Testes com a fruta para exportação foram feitos este ano e demanda não falta, conta Jorge Luiz Raimundo de Souza, presidente da Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte).
Os produtores estão na reta final de um projeto que preserva as características da fruta e alonga sua durabilidade para enfrentar o transporte, feito em parceria com pesquisadores das universidades de Montes Claros, Viçosa, Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e o Sebrae Minas. “Vislumbramos uma grande oportunidade. O mundo quer consumir as nossas frutas tropicais. Não há porque não atender a essa demanda”, diz Jorge Souza, da Abanorte. O Estado de Minas visitou produtores e galpões de processamento de frutas em polos produtores do Norte de Minas e da Região Metropolitana de Belo Horizonte. De hoje a terça-feira, a reportagem vai mostrar como a fruticultura evoluiu no estado e passa a brigar no mercado internacional.
A evolução da fruticultura mineira se apropriou da diversidade do agronegócio de Minas, embora não tenha o peso do café e da soja na produção e na exportação do estado, observa João Ricardo Albanez, superintendente de política e economia agrícola da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. “A tendência é de que o setor se fortaleça como indústria processadora de frutas”, afirma. A produção de Minas cresceu 17,2% entre 2001 e 2011, último dado disponível, quando o volume total foi de 2,690 milhões de toneladas, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Frutas. O Brasil produziu 44,954 milhões em 2011, que recuaram a 43,9 milhões em 2012.
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