ZERO HORA - 11/08/2013
A
última vez que entrei numa sala de aula foi no último dia da faculdade,
e lá se vão muitas luas, parece que foi em outra vida. Fazia tanto
tempo que eu não era estudante que fiquei apreensiva ao me matricular na
The London School of English, de onde retornei semana passada. Haveria
quantos alunos por sala? Ainda existe giz e quadro-negro? E sendo eu uma
analfabeta digital, passaria vergonha levando um caderno e uma caneta
para anotações?
Éramos poucos em cada sala – no máximo oito,
entre tchecos, russos, japoneses, italianos, espanhóis e brasileiros. O
quadro-negro agora é um quadro branco onde se escreve com marcadores
coloridos (para os saudosistas, vale uma visita à Saatchi Gallery, que
expõe antigos quadros-negros das mais famosas universidades do mundo –
Cambridge, Harvard, Oxford – extraindo de nós um novo olhar para o
efeito das frases, fórmulas e gráficos rabiscados a giz).
E a
analfabeta digital não passou vergonha com seu caderno e caneta, mesmo
cercada por colegas equipados com tablets e laptops. Não conheço recurso
mais eficiente para reter e decorar informações do que escrevê-las à
mão. Fiquei impressionada ao ver que alguns alunos fotografam o quadro
antes de o professor apagá-lo. Não copiam, simplesmente fotografam com
seus celulares. Eu sempre aprendi mais escrevendo, sublinhando, fazendo
círculos em torno das palavras, enchendo a página de flechas e
asteriscos. Meu caderno ainda vai acabar sendo exposto numa mostra de
design.
O mais valioso da experiência foi resgatar o prazer
inocente de aprender. Cada nova palavra, cada nova expressão era uma
vitória particular que eu assimilava com humildade. A minha vergonha em
falar um idioma que não domino, e ao mesmo tempo a disposição em me
divertir com os próprios erros, me tornavam uma aprendiz de mim mesma e
da vida, essa venerável mestre.
Algumas pessoas se satisfazem
com o que já sabem, é como se seu conhecimento coubesse numa piscina.
Dão algumas braçadas para um lado, outras braçadas para o outro,
agarram-se às bordas e tocam o fundo com os pés: sentem-se seguras nessa
amplitude restrita. Mas nada como mergulhar num mar do conhecimento sem
fim, onde não há limites, a profundidade é oceânica e a ideia é nadar
sem chegar à terra firme, simplesmente manter-se em movimento. Cansa,
mas também revitaliza. Uma pena que nossa preguiça impeça a grandeza de
se descobrir algo novo todos os dias.
Eu, que além de apegada
aos instrumentos rudimentares da escrita, tenho certo receio de
procedimentos estéticos em geral, descobri uma maneira de me manter
jovem para sempre, mesmo que, olhando, ninguém diga: não vou mais parar
de estudar e assim realizarei a utopia de me sentir com 20 anos até os
100 – depois disso, aí sim, recreio.
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