VINICIUS TORRES FREIRE
Onde há Maria Fumaça, há fogo
Empresas interessadas no trem-bala têm ficha suja pelo mundo e soltam fumaça em São Paulo
A última empresa assumidamente interessada no leilão desse trem, marcado para a semana que vem, é a francesa Alstom. Mais precisamente a Alstom e sua consorte SNCF, a estatal francesa das ferrovias. A Siemens colocou a Alstom no rolo dos trens do tucanato paulista.
Como tem noticiado esta Folha, a Siemens entrega alguns anéis para não perder os dedos. Dedou a si própria e a empresas do ramo de terem participado de bandalheiras no negócio de venda e de reforma de trens para o metrô de São Paulo.
Segundo documentos que constam da investigação, a Siemens fazia parte de cartéis formados com anuência ou incentivo de gente dos governos tucanos de São Paulo. Uma das consortes da Siemens seria a Alstom. Uma outra, a espanhola CAF, que também pode disputar o trem-bala. Assim como a própria Siemens.
A Alstom e a Siemens têm longa ficha corrida em casos de propina e assemelhados, com várias condenações pela Europa e/ou EUA.
Duas das subsidiárias da Alstom foram consideradas "ficha suja" pelo Banco Mundial, que em 2012 as barrou de concorrências com dinheiro do banco por três anos devido a um caso de propina (baratinha) na Zâmbia. Também é investigada por propinas no Brasil e alhures.
Em 2009, o Banco Mundial também considerou a Siemens "ficha suja" (sofreu "debarment") por causa de propina. A empresa foi banida por dois anos de participar de projetos financiados pelo banco. Um ano antes, pagara US$ 1,6 bilhão em multas na Alemanha e nos EUA, também por causa de propinas.
Voltando ao assunto: como é que Dilma comemoraria o sucesso de um leilão do trem-bala vencido pela Alstom e consortes? "Esse leilão foi uma maravilha, santinho! Estamos muito felizes de fechar um contrato com essa empresa que tanto contribuiu para fritar os tucanos."
Alguém pode dizer que o governo federal não teria alternativa ao trem das empresas europeias. Mas, quando essa história do trem-bala recomeçou sob Dilma, ainda presidente-eleita, em 2010, os maiores interessados eram chineses e coreanos.
Alguém pode também dizer distraidamente que, além de querer limpar sua barra "urbi et orbi," pelo mundo, a Siemens aproveita o ensejo para jogar areia nos trilhos das concorrentes europeias, que podem ficar com "ficha suja" em disputas brasileiras, como a do trem-bala.
Entenda-se o limpar a barra "urbi et orbi": de uns cinco anos para cá, EUA e alguns países europeus estão pegando mais pesado com alguns tipos de corrupção (quebrar banco e levar dinheiro do governo ainda não é um rolo tipificado, mas vá lá, não sejamos tão cínicos).
Por enquanto, as penas nem sempre são lá muito grandes: cadeia para poucos executivos e multas por vezes irrisórias para empresas tão grandes (embora bancos estejam pagando multas perto da casa do bilhão de dólares por cumplicidade em evasão fiscal).
Mas o caldo pode vir a engrossar. Talvez as leis endureçam e empresas venham a ser banidas de alguns mercados nacionais por alguns anos. Aí, sim, seria cortar na carne, até o osso. Fica a sugestão para as autoridades brasileiras.
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