ZERO HORA - 25/11/2012
Lamento ser portadora de más notícias, mas o tempo faz você alargar. Apenas isso
Você
nunca pensou em fazer cirurgia nos seios, nem para aumentá-los, nem
para reduzi-los, pois está satisfeita com eles do jeito que são e não
sente necessidade de transformar nada, ainda mais que já atingiu meio
século de existência. Mas uma transformação aconteceu à sua revelia.
Eles aumentaram um pouquinho de tamanho. Você não está grávida,
naturalmente. Aconteceu. E, pensando bem, ficaram mais bonitos. E mais
pesados, um perigo, você sabe por quê. Mas a vida segue.
Um dia
você está no trabalho e sente um desconforto. Não entende bem a razão.
Quando chega em casa, sente a compulsão de tirar o sutiã. Anda pela casa
com tudo solto, seu marido acha que você está tendo uma recaída hippie,
mas deixe ele pensar o que quiser. Consigo mesma, você dialoga: será
que andei comprando um número menor do que costumo usar?
Passam
as semanas e de novo a sensação de aperto. Não consegue mais atravessar o
dia inteiro de sutiã, mesmo usando alguns muito confortáveis.
Secretamente, você começa a usar os seus sutiãs mais velhos, aqueles que
já estão meio folgados. Só quando há a promessa de uma noite de amor é
que troca por um belo sutiã de renda bem justo, e na hora em que ele é
aberto pelo felizardo com quem divide os lençóis, você solta um gemido
de prazer antes da hora.
Hum. Tem alguma coisa estranha aí.
Você
descobre o que é no dia em que recebe de presente uma camiseta de manga
comprida. Tamanho médio, não tem erro, você usa o tamanho médio desde
os 15 anos. Você a veste e está tudo ok, ela escorrega pelo tórax, e tem
o cumprimento ideal. Se você for como eu, vai sair com o presente já no
mesmo dia em que o recebeu. Sou do tipo que compra uma roupa numa loja e
saio usando, não espero ocasiões especiais. Então, você usa a camiseta
que ganhou no mesmo dia também, até que, durante o encontro com as
amigas à tardinha, sente uma compressão no bíceps, igualzinho a quando
seu marido a agarra enciumado para levá-la embora da festa.
Na
hora de erguer o braço para fazer um brinde, tem a impressão que a
camiseta rasgará na altura da axila. Quando chega em casa, mal consegue
despi-la, parece uma roupa de neoprene, você se sente um surfista que
acaba de sair do mar. Ao conseguir, depois de 10 minutos, se desfazer da
camiseta, seus braços quase falam e agradecem: obrigada por nos
devolver a circulação do sangue.
Calma. Pense. Você não está mais gorda. Alguém pode explicar?
Lamento
ser portadora de más notícias, mas você alargou, apenas isso. Segue
linda, mas seus braços não são mais aqueles dois gravetos de antigamente
e suas costas não fazem mais os marmanjos suspirarem cada vez que usa
frente única. Os ombros pontiagudos, outrora tão elegantes, deram uma
arredondada.
Enfim, o tempo fez um preenchimento por conta
própria no que antes era naturalmente delgado. Nada grave. Não tome
nenhuma providência, pois isso não se resolve com dieta nem cirurgia. É o
efeito colateral de continuar viva e saudável – não queria ter morrido
esquelética aos 40, queria? Aumente a numeração do sutiã e siga vivendo
como se nada estivesse acontecendo.
E, por cautela, reforce todas as costuras.
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