Retrocesso
A dispensa de Mano Menezes é um retrocesso. Em dois anos, ele acertou mais que errou. Acertou, principalmente, na concepção de jogo coletivo. Errou, principalmente, em algumas convocações e escalações.
A seleção principal tem marcado por pressão, comandado as partidas, jogado com a bola no chão e com mais troca de passes, que era o estilo brasileiro. O time não deu um chutão contra a Colômbia. Provavelmente, vai entrar um técnico tradicional, desses que ajudaram na transformação do estilo brasileiro, que gostam de chutões, de pegada, de jogadas aéreas, de volantes brucutus, de marcar mais atrás para contra-atacar e de um centroavante parado, esperando a bola.
Mano estava certo em deixar o centroavante fixo como opção. O ataque da seleção principal ficou mais imprevisível, envolvente e com mais mobilidade. Além disso, não existe, no Brasil, um típico e excepcional centroavante, para o nível de uma seleção brasileira. Fred é hoje o melhor. Não adianta também ter um artilheiro, e o ataque jogar mal.
Mano Menezes também cometeu erros. Se o Brasil quiser ganhar de uma grande seleção, o que não ocorreu sob o comando do técnico, não pode ter dois jogadores no meio- -campo e quatro só no ataque. Vira o antigo 4-2-4 dos anos 1950. Um meia de cada lado tem de marcar o lateral adversário. Isso não ocorreu ante a Colômbia e em outros jogos.
Na final da Olimpíada, inexplicavelmente, trocou Hulk pelo lateral Alex Sandro, para ser o secretário de Marcelo. Quando percebeu o erro, já era tarde. Contra a Colômbia, escalou Thiago Neves e Leandro Castán. Se fosse para Thiago Neves marcar o lateral Cuadrado, teria um motivo. Nem isso ele fez. Castán não foi zagueiro nem lateral.
Mano e um grande número de treinadores de clubes e seleções, do Brasil e de todo o mundo, sofrem de um problema crônico, geralmente incurável, que é o de ter um rei, ou melhor, um deus na barriga. Eles escutam apenas os auxiliares. Para os técnicos, auxiliar bom é o que quase não fala, nunca discorda do chefe nem sonha em ser treinador.
A decisão da CBF é inoportuna, no momento em que a seleção começava a agradar. Imagino que o Marin já tinha decidido a saída de Mano há mais tempo. Deve ter decidido tirá-lo agora para não correr o risco de a seleção ganhar a Copa das Confederações e com isso ter de manter o técnico.
Felipão deve ser o escolhido, por seu carisma e aceitação popular. Já é consultor do Ministério do Esporte. Será treinador e garoto-propaganda da Copa de 2014.
A CBF está preocupada com o desencanto do torcedor com a seleção. Para empolgar o público, investidores e marqueteiros já sonham com o nacionalismo exacerbado, com milhares de bandeiras brasileiras nas janelas, como ocorreu em Portugal, quando Felipão era técnico da seleção do país.
Tostão, médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa do Mundo de 1970. Afastou-se dos campos devido ao agravamento de um problema de descolamento da retina. Como comentarista esportivo, colaborou com a TV Bandeirantes e com a ESPN Brasil. Escreve às quartas e domingos na versão impressa de "Esporte".
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