Carolina Lenoir
Estado de Minas: 25/11/2012
Nas conversas entre amigas, em posts nas redes sociais e onde mais for possível desabafar, as mulheres belo-horizontinas frequentemente se queixam da falta de homens solteiros e interessantes na capital mineira. Quase sempre, as reclamações são embasadas na histórica superioridade numérica da população feminina na cidade – ainda que, devido a alguns exageros para acentuar a diferença, o argumento possa criar ares de lenda. Porém, a versão masculina dessa história ganhou reforço com os resultados de um estudo feito pelo site de relacionamentos Badoo. Pelo menos no ambiente on-line, as mulheres de BH estão entre as mais difíceis de ser conquistadas e há quem diga que esse é um reflexo do que se vê nas ruas, no mundo “real”.No ranking brasileiro das mulheres mais seletivas no mundo virtual, as belo-horizontinas ficaram na segunda posição, atrás das soteropolitanas e à frente das paulistas. Pelo critério do levantamento, as cidades que ficaram nas primeiras posições são aquelas em que as mulheres costumam responder menos às iniciativas dos homens para uma conversa. Uma das explicações para isso seria o fato de as mulheres de BH serem bastante populares entre a audiência masculina do site e poderem escolher com quem e quando querem conversar. E não há nada de errado nisso. É uma prerrogativa que elas podem e devem usar, mas que dificulta um bocado a vida dos pobres interessados.
Abrir a guarda um pouco, nas situações em que isso soar interessante e seguro, pode surpreender positivamente. O Bem Viver vai contar algumas histórias de relacionamentos que começaram pela internet. Os casais tiveram que lidar com as questões intrínsecas a esse modelo moderno, que, apesar de ainda causar certa estranheza para algumas pessoas, não difere muito das correspondências de antigamente, como acredita Francisco José Machado Viana, coordenador do curso de psicologia da Universidade Fumec. “A possibilidade de começar uma relação pela via virtual é algo da vida contemporânea, mas no passado havia outras alternativas, como as cartas, que eram trocadas durante anos. Tinha algo de romântico em esperar pelo carteiro, mas os riscos eram os mesmos, em que se namora alguém que se apresenta em textos. O que é preciso entender é que a presença não é garantia de se conhecer alguém integralmente. Isso requer tempo, cumplicidade, convivência.”
Cadê os homens desta cidade?
Esta e outras perguntas figuram entre as mais feitas em entre as mulheres de Belo Horizonte, consideradas muito exigentes e fechadas. Alternativa é buscar os sites de relacionamento na tentativa de iniciar uma paquera
Carolina Lenoir
No estudo realizado pelo site de relacionamentos Badoo, foram analisadas 147 milhões de interações entre usuários em mais de 100 países, sendo 9 milhões delas no Brasil. O objetivo foi avaliar em qual lugar os homens têm mais dificuldade em obter respostas das mulheres ao chamá-las para conversar numa rede social. No Brasil, a segunda colocação obtida por Belo Horizonte não foi exatamente uma surpresa, mas a liderança soteropolitana sim. Primeira colocada na pesquisa, Salvador carrega o estereótipo de cidade alegre, famosa pelo carnaval, música e praias. Se só esses aspectos justificassem o fato de a população feminina ser mais aberta a abordagens, o último lugar ocupado por Recife – o que significa que as recifenses são as brasileiras com maior tendência a responder abordagens masculinas on-line – confirmaria essa teoria, mas há mais nuances que devem ser consideradas.
Talvez os homens do Recife saibam melhor que os de BH sobre como atrair a atenção feminina em uma conversa on-line, mas os aspectos culturais locais influenciam muito o comportamento das mulheres. Mariana Silva Lima, psicóloga clínica da Oncomed, afirma que existe sim uma queixa grande por parte das mulheres belo-horizontinas de que falta homem na capital, mas é preciso levar em conta também o nível de exigência dessas mulheres e seus comportamentos moldados pela sociedade. “Elas querem homens que sejam provedores e companheiros e esse perfil não tem sido de fácil acesso mesmo. Por outro lado, a cultura mineira de uma forma geral faz com que algumas mulheres sintam que há limites que não podem ultrapassar, que as impedem de ser mais acessíveis.”
Por isso, de acordo com Mariana, boa parte mantém uma postura mais fechada, porque acha que isso é o mais valorizado pelos homens. “Elas têm medo de se permitir, de avançar sinais e serem malvistas. É um enquadramento cultural muito forte. Além disso, muitas também se fecham em pensamentos como ‘não tem homem no mercado mesmo’, o que é uma crença limitante.” Segundo a psicóloga, as que superam essa visão têm encarado a internet como uma nova forma de acesso a relacionamentos, principalmente aquelas muito voltadas para o mercado de trabalho, que veem seus círculos de amizade mudando por conta de casamentos e nascimento de filhos.
Para Mariana, sites são boas opções porque as pessoas têm o mesmo objetivo, com algumas exceções, claro. Servem como um filtro e dão a possibilidade de conversar muito antes de um primeiro encontro, algo que se tem tornado mais raro atualmente. “Hoje, primeiro liga-se no físico antes de saber se a pessoa desperta algum interesse em outros âmbitos. Claro que a internet dá espaço para se fantasiar, enganar, mas isso, em algum momento, vai ser descoberto. Vale a pensa ser experimentado se feito com cuidado e de forma saudável.”
Talvez os homens do Recife saibam melhor que os de BH sobre como atrair a atenção feminina em uma conversa on-line, mas os aspectos culturais locais influenciam muito o comportamento das mulheres. Mariana Silva Lima, psicóloga clínica da Oncomed, afirma que existe sim uma queixa grande por parte das mulheres belo-horizontinas de que falta homem na capital, mas é preciso levar em conta também o nível de exigência dessas mulheres e seus comportamentos moldados pela sociedade. “Elas querem homens que sejam provedores e companheiros e esse perfil não tem sido de fácil acesso mesmo. Por outro lado, a cultura mineira de uma forma geral faz com que algumas mulheres sintam que há limites que não podem ultrapassar, que as impedem de ser mais acessíveis.”
Por isso, de acordo com Mariana, boa parte mantém uma postura mais fechada, porque acha que isso é o mais valorizado pelos homens. “Elas têm medo de se permitir, de avançar sinais e serem malvistas. É um enquadramento cultural muito forte. Além disso, muitas também se fecham em pensamentos como ‘não tem homem no mercado mesmo’, o que é uma crença limitante.” Segundo a psicóloga, as que superam essa visão têm encarado a internet como uma nova forma de acesso a relacionamentos, principalmente aquelas muito voltadas para o mercado de trabalho, que veem seus círculos de amizade mudando por conta de casamentos e nascimento de filhos.
Para Mariana, sites são boas opções porque as pessoas têm o mesmo objetivo, com algumas exceções, claro. Servem como um filtro e dão a possibilidade de conversar muito antes de um primeiro encontro, algo que se tem tornado mais raro atualmente. “Hoje, primeiro liga-se no físico antes de saber se a pessoa desperta algum interesse em outros âmbitos. Claro que a internet dá espaço para se fantasiar, enganar, mas isso, em algum momento, vai ser descoberto. Vale a pensa ser experimentado se feito com cuidado e de forma saudável.”
Novas formas de amor
Os namorados Débora Helena Costa, de 21 anos, e Felipe Rafael da Silva, de 20, não se conheceram pela internet, mas começaram a namorar depois de um mês de conversas exclusivamente por meio de redes sociais e programas de mensagens instantâneas. Débora conta que tinha um amor platônico por Felipe há cinco anos. “Ele estudava no Sebrae e eu jogava vôlei pelo time do Sesi, que ficava no mesmo prédio. Só o via de longe, mas o achava muito bonito.” Quatro anos depois, o irmão dela entrou na banda de Felipe e, apesar de os dois continuarem sem ter muito contato, se adicionaram no Facebook e comentavam e curtiam os posts um do outro. Mas era só.
Até que um dia Felipe apareceu na casa de Débora e ela, desavisada, foi pega com uma touca para alisar o cabelo, daquelas de meia. “Quase morri. À noite, entrei no Facebook e pedi desculpas para ele pela péssima impressão que tinha dado. Começamos a nos comunicar pelo bate-papo. Durante um mês não nos vimos mais, mas conversávamos por até oito horas, todos os dias, pelo Facebook, MSN, Gtalk. Depois disso, nos declaramos e estamos juntos há oito meses.”
Débora afirma que, como Felipe é muito tímido, a internet o ajudou a se soltar mais, mas isso não quer dizer que o casal criou uma imagem diferente do que era na verdade. “Só ajudou a impulsionar o relacionamento, mas foi a mesma coisa quando nos encontramos pessoalmente depois. Queria que ele gostasse de mim pelo que sou, não um personagem. Às vezes, fico pensando como seria se tivesse sido diferente, se a gente tivesse começado o relacionamento de outra forma, mas acho que foi perfeito desse jeito.”
Felipe concorda com a namorada. Apesar de eles terem se visto umas duas ou três vezes antes do começo virtual, não tinham conversado porque sempre foram encontros rápidos. “Acho que a questão da internet é que é tudo mais livre, você pode ser quem é sem medo. Não intimida tanto, mas, sem o cara a cara, não se sabe totalmente a reação do outro.” Ele confessa que chegou a ficar apreensivo de não ser do mesmo jeito quando os dois se encontrassem pessoalmente depois do primeiro mês de relacionamento virtual, mas ficou aliviado ao perceber que tudo fluiu muito naturalmente, melhor do que havia imaginado.
Os namorados Débora Helena Costa, de 21 anos, e Felipe Rafael da Silva, de 20, não se conheceram pela internet, mas começaram a namorar depois de um mês de conversas exclusivamente por meio de redes sociais e programas de mensagens instantâneas. Débora conta que tinha um amor platônico por Felipe há cinco anos. “Ele estudava no Sebrae e eu jogava vôlei pelo time do Sesi, que ficava no mesmo prédio. Só o via de longe, mas o achava muito bonito.” Quatro anos depois, o irmão dela entrou na banda de Felipe e, apesar de os dois continuarem sem ter muito contato, se adicionaram no Facebook e comentavam e curtiam os posts um do outro. Mas era só.
Até que um dia Felipe apareceu na casa de Débora e ela, desavisada, foi pega com uma touca para alisar o cabelo, daquelas de meia. “Quase morri. À noite, entrei no Facebook e pedi desculpas para ele pela péssima impressão que tinha dado. Começamos a nos comunicar pelo bate-papo. Durante um mês não nos vimos mais, mas conversávamos por até oito horas, todos os dias, pelo Facebook, MSN, Gtalk. Depois disso, nos declaramos e estamos juntos há oito meses.”
Débora afirma que, como Felipe é muito tímido, a internet o ajudou a se soltar mais, mas isso não quer dizer que o casal criou uma imagem diferente do que era na verdade. “Só ajudou a impulsionar o relacionamento, mas foi a mesma coisa quando nos encontramos pessoalmente depois. Queria que ele gostasse de mim pelo que sou, não um personagem. Às vezes, fico pensando como seria se tivesse sido diferente, se a gente tivesse começado o relacionamento de outra forma, mas acho que foi perfeito desse jeito.”
Felipe concorda com a namorada. Apesar de eles terem se visto umas duas ou três vezes antes do começo virtual, não tinham conversado porque sempre foram encontros rápidos. “Acho que a questão da internet é que é tudo mais livre, você pode ser quem é sem medo. Não intimida tanto, mas, sem o cara a cara, não se sabe totalmente a reação do outro.” Ele confessa que chegou a ficar apreensivo de não ser do mesmo jeito quando os dois se encontrassem pessoalmente depois do primeiro mês de relacionamento virtual, mas ficou aliviado ao perceber que tudo fluiu muito naturalmente, melhor do que havia imaginado.
Três perguntas para...
Louise Thompson - Diretora de relações-públicas do site Badoo
A principal evidência é que elas são capazes de ser mais seletivas do que as mulheres da maioria das outras cidades ao responder às abordagens dos homens interessados. O site foi feito para ajudar alguém a conhecer novas pessoas em sua região, então conveniência e facilidade no encontro desempenham um papel importante, assim como encontrar interesses em comum com alguém.
E em relação aos homens? A seleção masculina se restringe ao primeiro momento, em que decidem quem eles vão abordar?
Optamos por focar em mulheres nesse estudo, pois queríamos mostrar que elas podem ter o controle da situação antes de conhecer alguém no mundo off-line. E é ótimo para as mulheres poderem tomar a iniciativa. Acredito que os homens também podem ser tão seletivos quanto elas na paquera on-line. Deixamos os usuários em controle de todas as suas experiências, então eles podem escolher para quem e quando responder, e também qual informação desejam compartilhar. Acreditamos que facilita, especialmente para as mulheres, o fato de conhecer alguém pela internet. Sendo assim, ser seletivo é muito importante, porque é cada vez mais fácil conhecer mais pessoas pela rede.
Você acredita que o comportamento das mulheres na paquera virtual é idêntico ao presencial?
O Badoo tende a refletir a vida real. Em diversas formas, seria o equivalente digital a um bar ou festa. Então, assim como na vida real, você verá diferentes comportamentos e abordagens quando for conhecer novas pessoas, seja para paquera, namoro ou amizade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário