domingo, 25 de novembro de 2012

Helio Schwartsman


Revolução pelos impostos
SÃO PAULO - Quando pensamos em impostos, as palavras que nos vêm à mente são fardo, expropriação, roubo. E não há dúvida de que taxas sejam exatamente isto: uma obrigação que nos surrupia preciosos anos de trabalho e que tem por objetivo financiar o funcionamento da máquina estatal, que inclui coisas úteis e outras nem tanto.
Há, porém, outra maneira de ver os tributos. Eles funcionam no mundo moderno mais ou menos como fatores ambientais atuavam no passado darwiniano, ajudando a moldar nossos comportamentos, ao definir quais são os bens mais e menos abundantes e os incentivos que temos para persegui-los ou evitá-los.
Uma canetada do governo, reduzindo provisoriamente impostos sobre veículos, fez com que milhares de famílias brasileiras realizassem o sonho de comprar um carro. Para tanto, muitas tiveram de endividar-se. E isso teve impacto sobre outras decisões de compra, o que resulta numa redistribuição de lucros e prejuízos ao longo de toda a cadeia. Se os empresários e operários da Ford ganharam, o dono da pousada e o pipoqueiro do cinema podem ter perdido.
Políticas tributárias têm alcance ao um só tempo sutil e profundo. A epidemia de obesidade nos EUA, por exemplo, está vinculada aos fartos subsídios oferecidos aos produtores de milho, do qual se extrai a alta frutose que adoça refrigerantes e uma série de outras guloseimas que ficaram perigosamente baratos.
O poder dos impostos para alterar hábitos é tamanho que o psicólogo Geoffrey Miller diz que, manipulando-os, podemos promover verdadeiras revoluções comportamentais, em tempo recorde e quase sem sangue.
Evidentemente, para que as pessoas possam jogar esse jogo com autonomia, precisam antes saber quanto imposto pagam. É esse conhecimento básico que Dilma vai dificultar se vetar a lei que obriga a informar o consumidor das taxas que incidem sobre os produtos.

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