sábado, 19 de janeiro de 2013

Automedicação não é hábito condenável - NELSON MUSSOLINI


O Globo 19/01/2013

Muito se fala da automedicação como principal fonte de intoxicação, mas os levantamentos disponíveis indicam que, embora seja um hábito arraigado e que deva ser evitado, o consumo de medicamentos sem orientação médica não é um problema grave de saúde pública no país. O brasileiro tampouco consome medicamentos em excesso.

No Brasil, a principal causa de intoxicação por medicamento não está relacionada a nenhum princípio ativo ou grupo de risco. Diz respeito ao consumo abusivo motivado por tentativas de suicídio. Essa razão responde por mais de 40% dos casos registrados no país em 2010 (estatística mais recente).
Dos 86.700 casos de intoxicação humana por agentes tóxicos diversos (agrotóxicos, domissanitários, animais peçonhentos etc.), anotados naquele ano, apenas 655 resultaram de automedicação. Ou seja, 0,75% do total. E nessa circunstância nenhuma morte foi registrada. Esses dados são do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e desmentem a falsa informação que circula há anos na internet — muito citada — segundo a qual a automedicação no país provocaria “20 mil mortes por ano”.

Inexistem estudos que relacionem a sobra de medicamentos nas residências a casos de intoxicação. A sobra decorre com frequência da interrupção intempestiva do tratamento prescrito ou da compra de medicamentos sem a devida orientação médica. Outro equívoco frequente é achar que a automedicação é um hábito condenável. Na verdade, é um procedimento recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), desde que feito com responsabilidade e segundo as indicações do produtor.
Os medicamentos isentos de prescrição são adequados ao tratamento de sintomas e males menores como dores e resfriados porque seus princípios ativos estão bem abaixo das doses tóxicas. Além disso, desoneram os sistemas de saúde públicos e privados, liberando recursos para casos que demandam mais atenção.

A redução dos acidentes com medicamentos requer a educação de pacientes, o aperfeiçoamento das práticas clínicas e uma fiscalização mais atenta por parte das autoridades sanitárias. Tarefa que cabe a médicos, farmacêuticos, empresas e órgãos reguladores. De sua parte, a indústria farmacêutica reafirma seu compromisso permanente em aperfeiçoar práticas que protejam a população e ampliem a segurança no uso de medicamentos.



Nelson Mussolini é presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo

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