A política e o resto
SÃO PAULO - E assim o governo Alckmin vem fixando mais uma data no calendário oficial da cidade. Janeiro é mês de limpeza urbana, mês da faxina, de mostrar que a ordem, enfim, imperará sobre a bagunça.Há um ano, a PM vasculhou cada canto do bairro da Luz atrás dos esconderijos dos usuários de crack. À força de bombas e tiros, os zumbis foram convencidos a sair. Não podiam se sentar para descansar. Circulando! Tinham de andar todo o tempo.
Segundo um dignitário tucano, tudo era muito pensado. Aplicava-se a doutrina da "dor e sofrimento", para fazer o "noia" pedir ajuda e se tratar.
Guindastes desmontaram casarões caindo aos pedaços. Carros-pipa esguicharam água com desinfetante pelo bairro. O resultado: fotos nos jornais de bebês passeando com suas mães em ruas limpas e calmas onde antes dominava o vício.
Mas não deu certo. Hoje, como há um ano, centenas e centenas de homens, mulheres e crianças estarão nos mesmos lugares, fumando suas pedras abertamente.
Nesta segunda, outra vez, o governo do Estado tentará mostrar-se senhor da situação. E iniciará um programa de internação compulsória dos dependentes químicos, sob o silêncio cúmplice do ministro petista da Saúde, Alexandre Padilha. O governador Alckmin já falou em 691 leitos de retaguarda.
Tremeram os que se lembraram do filme "Bicho de Sete Cabeças", sobre o inferno vivenciado por um usuário de drogas internado à força. Mas, além disso, trata-se de estratégia de baixíssima eficiência terapêutica. Segundo o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, da Universidade Federal de São Paulo, 98% dos internados contra a vontade recaem na droga logo depois de sair às ruas.
Se só funciona em 2% dos casos, a exceção portanto, obviamente, será apenas uma saída marginal para o imenso problema do crack. Dos 2.000 miseráveis que dia e noite se drogam na região da cracolândia, 40 se salvarão. E os 1.960 restantes?
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