sábado, 19 de janeiro de 2013

Jersey decide que Maluf terá de devolver R$ 58 milhões

FOLHA DE SÃO PAULO

Justiça de ilha britânica define valor final de condenação por desvio de recursos
Dinheiro é suficiente para construir 13 escolas ou dois CEUs; corte terá que julgar recurso de deputado
Gabo Morales/Folhapress
Maluf deixa restaurante em São Paulo após encontro com bancada de deputados do estado
Maluf deixa restaurante em São Paulo após encontro com bancada de deputados do estado
MARIO CESAR CARVALHODE SÃO PAULOA Justiça de Jersey chegou ao valor final que o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) foi condenado a devolver à Prefeitura de São Paulo por causa de desvios de recursos entre 1997 e 1998: US$ 28,3 milhões (ou R$ 57,9 milhões).
A sentença com o valor foi divulgada ontem em Jersey, uma ilha no canal da Mancha, ao lado da Inglaterra.
A corte ainda terá que julgar um recurso de Maluf contra a decisão, o que deve ocorrer entre março e abril.
À época em que a Justiça de Jersey condenou Maluf, em 16 de novembro do ano passado, os juízes divulgaram o valor original dos recursos desviados: US$ 10,5 milhões (R$ 21,5 milhões).
A corte estabeleceu que esse valor foi desviado em fevereiro de 1998 e corrigiu o montante para a data em que houve a condenação (16 de novembro de 2012). Foi aplicada a taxa de juros do Tesouro dos EUA mais 1%.
Maluf também foi condenado a pagar os gastos da prefeitura com o processo. Há estimativas de que esse valor possa chegar a R$ 9 milhões, mas a Procuradoria ainda não fez o cálculo oficial de quanto foi gasto com a contratação de advogados britânicos desde fevereiro de 2005.
A prefeitura já recebeu cerca de R$ 2 milhões de Jersey desde 2009. São multas aplicadas a Maluf, pelo fato de seus advogados terem apresentado recursos que foram considerados como manobras para adiar a decisão. Manobra protelatória é punida com multa em Jersey.
Com os R$ 57,9 milhões que devem retornar aos cofres da prefeitura, seria possível construir 13 escolas (ao valor de R$ 4,4 milhões cada uma) ou dois CEUs (Centro Educacional Unificado, as escolas com teatro, piscina e biblioteca). O último CEU feito em São Paulo, no ano passado, custou R$ 29 milhões.
DOCUMENTOS
Maluf foi condenado a devolver a verba porque a corte de Jersey conclui que ele e seu filho Flávio Maluf controlavam empresas "offshores" que receberam os US$ 10,5 milhões: Durant e Kildare.
Maluf sempre negou ser o controlador dessas empresas e diz que não faz parte do processo.
A Justiça de Jersey, porém, tem no processo documentos assinados por Maluf para a abertura de contas bancárias dessas duas empresas.
O juiz Howard Page escreveu na sentença de novembro que ele foi beneficiado com a fraude na obra: "Paulo Maluf era parte da fraude, ao menos na medida em que ele e outras pessoas em seu nome receberam ou foram creditados com uma série de pagamentos secretos".
O valor, segundo a Justiça de Jersey, foi desviado durante a construção da avenida Águas Espraiadas (depois rebatizada de Roberto Marinho) entre 1997 e 1998, quando Celso Pitta, indicado por Maluf, estava na prefeitura.
A corte frisou na sentença que o desvio foi arquitetado quando Maluf estava na prefeitura, entre 1993 e 1996.
A investigação começou em 2001 no Ministério Público Estadual, a partir de uma reportagem publicada pela Folha em 10 de junho.
"É uma sentença histórica. Não é todo dia que conseguimos trazer de volta mais de R$ 50 milhões", disse o promotor Silvio Antonio Marques, que iniciou a apuração.


    OUTRO LADO
    Assessoria afirma que deputado não é réu no processo
    DE SÃO PAULOA assessoria de comunicação do deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) afirma que não vai comentar a sentença que estipula o valor final a ser devolvido à Prefeitura de São Paulo porque ele não é réu nem parte do processo que correu na corte de Jersey, mas sim duas empresas "offshores" (Kildare e Durant).
    Maluf repete há 11 anos e meio que não tem e nunca teve contas no exterior.
    A reportagem da Folha informou à assessoria de comunicação do deputado que a sentença da corte de Jersey de novembro e a divulgada ontem citam o nome de Paulo Maluf e de seu filho Flávio como beneficiários de recursos recebidos pelas duas empresas. A resposta foi a mesma: Maluf não tem, nunca teve contas no exterior e não é réu no processo em Jersey.
    Ainda de acordo com a assessoria do deputado, ele não tem e nunca teve ligação com as duas empresas que fazem parte do processo.

      FRASE
      "Maluf era parte da fraude, ao menos na medida em que ele e outras pessoas em seu nome receberam pagamentos secretos"
      HOWARD PAGE
      juiz, em sentença de novembro

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