O Globo 19/01/2013
Sergio Cabral teve
que engolir calado o deboche de Garotinho: ‘O Eduardo Cunha já foi meu
amigo. Hoje não fala comigo e é amigo do Cabral’
Uma aragem
moralizadora está soprando do Sul, vinda de dentro do próprio PT.
Primeiro foi o ex-prefeito de Porto Alegre, ex-ministro das Cidades e
ex-presidente do partido, Olívio Dutra. Agora é a vez do governador e
ex-ministro de Lula Tarso Genro. Descontentes, ambos criticam a postura
da agremiação que ajudaram a fundar por ter abandonado sua original e
lendária bandeira da ética. Além de ter sido contra José Genoino assumir
o mandato depois de condenado pelo STF ("Tu deverias pensar na tua
biografia”), Dutra repetiu a advertência que já tinha feito a Lula sobre
o preço que iria pagar "por estar cercado de maus companheiros”
referindo-se à entrega de cargos a torto e a direito sob o pretexto de
garantir governabilidade. Genro, por sua vez, disse essa semana ao
repórter Marcelo Remígio, do GLOBO, que "estamos utilizando os métodos
de partidos que criticávamos’,’ e por isso defende a adoção de "regras
muito rígidas em relação a seus dirigentes, seus quadros e seus vínculos
com as empresas privadas” Em suma, "o partido precisa passar por uma
profunda renovação’.
Ainda que menos incisiva do que a de Dutra, a
crítica do governador gaúcho deixa claro que não concorda, por exemplo,
com a tentativa de José Dirceu de "estabelecer uma identidade entre
seus problemas e os do partido”. Segundo ele, a agenda do PT não pode
ser a da "Ação Penal 470, mas sim a da reforma política e do sistema de
alianças”. O que acontecerá com esses dois líderes históricos do petismo
após suas autocríticas? Embora sejam atitudes saudáveis, sabe-se que o
PT não convive bem com a divergência. Quando isso acontece, ou os
dissidentes deixam o partido, como foi o caso de Chico Alencar,
Cristovam Buarque, Marina Silva, Plínio de Arruda Sampaio, Cesar
Benjamim, Fernando Gabeira, Milton Temer, ou são expulsos, como foram em
2003 a senadora Heloísa Helena e os deputados Luciana Genro (filha de
Tarso), João Fontes e João Batista Araújo, o Babá. Por ironia da
história, o mesmo PT que, presidido por Genoino na época, decidiu botar
para fora seus colegas por conduta radical, não pretende fazer o mesmo
com os quatro recém-condena-dos pelo STF no processo do mensalão, embora
o estatuto preveja a expulsão por "práticas administrativas ilícitas" e
"inobservância grave da ética" Será que "corrupção ativa" não configura
ilícito?
Ainda sobre más companhias. Sergio Cabral teve que
engolir calado o deboche de Garotinho: "O Eduardo Cunha já foi meu
amigo. Hoje não fala comigo e é amigo do Cabral.”
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