sábado, 9 de março de 2013

Criadora de cadastro social ironiza tentativa de 'reescrever a história'

folha de são paulo

Ex-ministra Wanda Engel afirma que em 2002 Cadastro Único já incluía 7,5 milhões de famílias
Engel diz que banco de dados foi 'muito bem' conduzido sob Lula e que a atual gestão 'avançou muito'
JOÃO CARLOS MAGALHÃESFERNANDA ODILLADE BRASÍLIAWanda Engel está achando "ótima" a disputa entre tucanos e petistas pela paternidade do Cadastro Único de programas sociais federais, criado por ela quando ministra da Secretaria de Assistência Social na segunda gestão de Fernando Henrique Cardoso.
"É ótima. Há um tempo essa não era nem uma questão no centro das atenções políticas", disse ela sobre o cadastro, lembrando que, no início do governo Lula, a prioridade era o Fome Zero, e não as transferências de renda alavancadas pelo cadastro.
Nele estão reunidas hoje informações de mais de 23 milhões de famílias de baixa renda (algo em torno de 40% da população brasileira).
Uma ferramenta de gestão de políticas públicas, ele veio à superfície do debate sobre o fim da miséria após uma nova expansão do Bolsa Família realizada em fevereiro.
A ação zerou o número de miseráveis no cadastro, levando assim à erradicação da "miséria cadastrada". Com base nesse resultado, o governo passou a usar o slogan "O Fim da Miséria é só um Começo", provável mote eleitoral de Dilma no ano que vem.
Foi o suficiente para que a presidente e um de seus prováveis rivais em 2014, o senador tucano Aécio Neves (MG), trocassem nas últimas semanas críticas sobre quem afinal criou o cadastro.
POLÊMICA
"Criamos um cadastro, porque não existia cadastro. É conversa que tinha cadastro", disse Dilma na semana passada. Aécio retrucou que Dilma precisa "respeitar o passado" e o PSDB entrou com um pedido via Lei de Acesso à Informação para obter dados provando que o cadastro funcionava antes do início do governo Lula.
Para Engel, "as pessoas gostam de reescrever a história". "Antes, ninguém dava bola para isso. Aí começaram a dar bola e todo mundo quer ser o pai da criança. Tanto o cadastro quanto o cartão [para pagamento de programas] foram [inventados] de 2000 a 2002 [no governo FHC]".
O decreto 3.877, de julho de 2001, penúltimo ano do governo tucano, é claro em seu objeto: "Institui o Cadastramento Único para Programas Sociais do governo federal".
A própria Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social, agradeceu no ano retrasado em discurso aos "muitos que, ao longo da história, ajudaram a construir o cadastro, como é o caso da professora Wanda Engel". Nesta semana, Campello não negou a existência do cadastro antes do PT, mas disse que ele era "insuficiente para dar conta de um programa [Bolsa Família] que pretendia ter escala nacional".
Engel conta que, mesmo "sem dinheiro" e "com falhas", o cadastro incluiu 7,5 milhões de famílias até o final de 2002. "[Não digo que] estava perfeito nem que ele estava universal. Mas a pavimentação estava feita."
Apesar de criado em 2001, foi nos dez anos petistas que o banco de dados ganhou seu atual gigantismo, sendo aperfeiçoado consecutivamente por diversas alterações -está hoje em sua sétima versão.
Com base em pesquisas sobre o impacto das políticas gerenciadas a partir do cadastro, especialistas são unânimes em dizer que ele é um dos mais precisos do mundo.
Engel diz que o cadastro foi "muito bem levado". "A evolução foi extremamente positiva. Não quero de jeito nenhum brigar com a ministra [Campello]. Acho que ela avançou muito." Segundo ela, que após o governo voltou ao Banco Interamericano de Desenvolvimento e trabalhou no Instituto Unibanco, o cadastro se tornou "um herói" no combate à miséria.

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