Belo Horizonte vive momento de
efervescência na dança contemporânea, com programação extensa e
incremento da organização de artistas e companhias
Carolina Braga
Estado de Minas: 25/04/2013
Poderia ser simplesmente um sintoma da
proximidade do Dia Internacional da Dança, a ser celebrado na
segunda-feira. Mas não é só isso. A agenda cheia de festivais
especializados e propostas coreográficas independentes, sejam elas
clássicas, contemporâneas ou simplesmente performáticas, em cartaz em
vários espaços de Belo Horizonte, é prova de uma onda particular que a
cidade atravessa. “Está em efervescência sim, mas não acredito que seja a
primeira vez. É um momento ímpar, as pessoas estão juntas, querendo
participar e saber mais”, diz a bailarina e coreógrafa Andrea Anhaia,
presidente da Associação Dança Minas.
Até domingo, as ações do
Projeto Mix Dança – Crítica com a dança invadirá o Sesc Palladium com
espetáculos, oficinas e debates. Ao mesmo tempo, hoje tem reestreia de
Desassossego em branco, na Funarte, e ainda o Balé Sesiminas. Amanhã,
será a vez da estreia de Vaga – uma experiência em ocupação, no Meia
Ponta Espaço Cultural Ambiente.
Na semana que vem o ritmo
continua intenso. A Cia de Dança Palácio das Artes ocupa o CentoeQuatro
com a performance Se eu pudesse entrar na sua vida. Além disso, o
festival internacional Vivadança chega à sua sétima edição oferecendo
espetáculos brasileiros e de grupos da França, Alemanha, Japão, México,
República do Chade e Israel. Detalhe: os ingressos custam no máximo R$
10.
“Estamos vivendo um momento bom, tanto em termos de produção
como também de discussão”, afirma a bailarina Izabel Stewart. A
criadora de Solos, em parceria com Tana Guimarães, é uma das defensoras
da ideia de que não basta a diversidade estética na produção. Para ela,
há muito tempo a dança em Belo Horizonte carecia de organização
política. Sendo assim, o tempo é de celebração.
No sábado,
depois de um longo período de debates, finalmente a Associação Dança
Minas, entidade que representa artistas da dança de Belo Horizonte,
conseguiu formalizar a criação do Fórum Permanente de Dança de Minas
Gerais. O grupo se dedicará a pensar políticas específicas para o setor.
“Esse encontro já é um bom indicador de que a dança está se mobilizando
para criar canais que viabilizem as produções”, completa Isabel.
Quem
faz parte da área não teme reconhecer que há algo diferente no ar. Há
alguns anos, propostas distintas em cena também significavam
divergências pessoais. Havia quem torcesse o nariz para o trabalho do
outro simplesmente porque não havia afinidade de linguagem. O bailarino e
coreógrafo Rodrigo Quik, da Quik Cia de Dança, observa que esse tipo de
preconceito já foi superado. “Há um alinhamento, não tem como o artista
ficar na bolha criando. Caiu essa ficha, se não for nesse caminho não
vamos conseguir crescer”, diz ele.
“É um momento de chamamento
da sociedade civil para a importância que a dança tem dentro desta
cidade. Não é só produzir espetáculos, é antes de tudo criar a ponte do
nosso fazer artístico com o poder público e a sociedade”, ressalta o
coreógrafo Tuca Pinheiro. Ele sabe que o percurso é longo. Como o fórum
acabou de ser formalizado, somente agora os representantes da classe
conseguirão transformar desejos coletivos em demandas formais.
Na
lista das prioridades do grupo estão a criação do Centro de Referência
da Dança em Belo Horizonte e a proposta de criação de uma lei de fomento
dedicada ao setor, a exemplo de outros estados. Os artistas também
pleiteiam a escolha de um representante específico da dança dentro da
Fundação Municipal de Cultura. “Precisamos de alguém que possa olhar
para a gente com mais cuidado. Que saiba das nossas dificuldades e
urgências”, acrescenta Andrea Anhaia.
Questão de maturidade
Para
Tuca Pinheiro, a transformação na relação política da classe tem suas
raízes na mudança que o cenário da dança teve em Belo Horizonte nos
últimos anos. A chegada do Fórum Internacional de Dança, o FID, em 1996,
é um importante divisor de águas. O evento – mais que um simples
festival – proporcionou o contato com diferentes manifestações que
contribuíram para ampliar o entendimento do que seria dança.
“A
gente não precisa estar colado, fixado em grupos ou companhias estatais
ou privadas. Os artistas começaram a desenvolver de maneira independente
e isso provocou a criação de muitos trabalhos autorais”, afirma Tuca. A
realização de eventos como o 1,2 na Dança, dedicado a pesquisa de
linguagem em solos e duos, e também o Horizontes Urbanos, voltado para a
experimentação no espaço urbano, ajudaram a amadurecer a classe.
Em
cena, a diversidade continua efervescente. “Nossa produção está grande e
fantástica. O nível dos artistas, a questão da pesquisa, tudo isso
melhorou muito de uns sete anos para cá”, observa Rodrigo Quik. “Acho
que aqui as propostas são atualizadas. Se mexem em todas as direções.
Minas está querendo se colocar em todas essas áreas. Isso é muito
bacana”, elogia Sônia Mota, diretora artística da Cia de Dança Palácio
das Artes.
Bem resolvidos do ponto de vista artístico, bailarinos,
coreógrafos e demais participantes da cadeia de produção em dança se
deram conta de que não poderiam mais continuar a reboque das políticas
dedicadas ao teatro. “É um outro momento”, conclui Tuca Pinheiro.
Programação
Teatro Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia, (31) 3241-7181).
Hoje, 20h30 – Suíte de Paquita e Um corpo só, com Balé Sesiminas. R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
Funarte MG
Hoje,
21h – Desassossego em branco, com Renata Mara, Oscar Capucho e Tuca
Pinheiro. De hoje a sábado, 21h e domingo 19h. R$ 10 (inteira) e R$ 5
(meia).
Meia Ponta Espaço Cultural Ambiente (Rua Grão Pará 185, Santa Efigênia, (31) 3241-2020)
Hoje, 20h – Vaga – uma experiência de ocupação, com Dudude Herrmann e Marco Paulo Rolla. R$ 5.
Sesc Palladium (Avenida Augusto de Lima, 420, Centro).
Amanhã, 18h30 – Conversas para dançar sobre o espetáculo Solos, Cine Sesc Palladium. Entrada franca.
20h30 – Ressonâncias, da Quik Cia de Dança, Mezanino do Sesc Palladium. R$ 10
Sábado – 16h, Ações de dança em Minas (debate)
18h30 – Projeto Mix Dança apresenta Conversas para dançar sobre o espetáculo Ressonâncias. Cine Sesc Palladium. Entrada franca
20h30 – Materialidade das palavras, foyer da Av. Augusto de Lima, Sesc Palladium. Entrada franca.
Domingo –16h, Ações de dança em Minas (debate)
18h30
– Projeto Mix Dança apresenta Conversas para dançar sobre o espetáculo
Estudo da materialidade das palavras. Cine Sesc Palladium
19h – Lançamento da revista Dança com a crítica
Centro Cultural CentoeQuatro (Praça Ruy Barbosa, 104, Centro, (31) 3236-7400)
De
1º a 5 de maio – Se eu pudesse entrar na sua vida, ocupação baseada em
memórias dos bailarinos da Cia de Dança Palácio das Artes sobre o
repertório da companhia. Entrada franca.
Oi Futuro Klauss Vianna (Avenida Afonso Pena, 4.001
De
1º a 5 de maio – Vivadança, festival internacional de dança com HAPAX
Company (França), Tadashi Endo (Japão), Omar Carrum (México) e Vladimir
Rodríguez (Colômbia) e Bando de Teatro Olodum (BA). R$ 10 (inteira) e R$
5 (meia).
Ocupação
Dentro das
comemorações para o Dia Internacional da Dança, a Associação Dança Minas
prepara algumas ações para segunda-feira. Além de convocar bailarinos e
demais interessados para performances em frente à Câmara Municipal de
BH, Praça da Liberdade e na Praça da Estação, também há um convite para
que as pessoas se manifestem pela internet. Os interessados devem criar
vídeos que ilustrem ou respondam à pergunta: Que dança você vê no
horizonte?. A ideia é que o material seja publicado nas redes sociais.
Informações: dançaminas.wordpress.com.
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