quinta-feira, 25 de abril de 2013

Editoriais FolhaSP - Charge - Angeli

folha de são paulo


Emergência pediátrica
O calvário de pais e crianças que precisam de atendimento médico de emergência em estabelecimentos privados não difere tanto do que se percorre na saúde pública.
A reportagem da Folha visitou 11 dos principais hospitais paulistanos com pronto-socorro infantil. Constatou que a espera média era de duas horas, chegando a seis horas numa dessas instituições.
Antes de mais nada, cabe um alerta tranquilizador. Apesar da demora, todos os hospitais operam com sistemas de triagem --se o caso fosse realmente grave, a criança quase certamente seria atendida de imediato.
Uma conjunção de fatores, que vão de razões de mercado até falhas no sistema, origina a demora.
Para começar, bebês e crianças não estão entre os pacientes mais rentáveis. Entre 2011 e 2013, houve redução de 14% no total de leitos pediátricos na cidade. Na hora de decidir investimentos, hospitais particulares privilegiam doenças crônicas, que demandam mais exames e procedimentos.
Outro problema está no fato de as pessoas não utilizarem o sistema da maneira recomendada. Como está implícito no nome, o pronto-socorro (PS) atende casos de urgência. Mas a massificação dos planos de saúde em condições longe das ideais, nas quais a criança seria acompanhada por pediatra fixo e acessível a qualquer hora, converteu o PS em linha de frente do atendimento.
Isso acarreta filas maiores e exames desnecessários, que talvez fossem dispensados pelo médico familiarizado com o paciente. No atropelo do PS, o profissional opta por escudar-se no maior número possível de exames.
Fala-se muito, também, na falta de pediatras, o que é uma meia verdade. Em princípio, eles constituem a especialidade com maior número de praticantes (11% do total de médicos titulados). A baixa remuneração oferecida pelas operadoras de saúde os afasta dos serviços privados.
O prognóstico, porém, não é animador. Segundo o estudo "Demografia Médica no Brasil", profissionais jovens se interessam mais por outras especialidades. A idade média do pediatra é maior que a dos médicos em geral.
A questão é saber se os mecanismos de mercado bastarão para corrigir tais distorções --pela lógica, as operadoras terão de pagar mais para contar com esses especialistas-- ou se as autoridades sanitárias precisarão corrigir suas falhas.


EDITORIAIS
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Campeões de favor
BNDES faz bem em rever a política de selecionar grupos próximos do governo para competir no mercado global com recursos subsidiados
A recuperação do grupo X, do empresário Eike Batista, não deveria envolver dinheiro público novo, além dos auxílios obtidos do governo no passado. Seria o mais coerente, para alguém que já criticou os empresários brasileiros por falta de uma cultura de risco.
Se a Petrobras tomar parte num eventual socorro --o porto de Açu estaria em cogitação, investimento da estatal que suscita dúvidas--, o negócio precisará seguir critérios de mercado e transparência.
Afinal, estima-se que o volume de crédito público já carreado ao grupo X esteja perto de R$ 10 bilhões, principalmente do BNDES. Além de empréstimos, o banco tem participação acionária pequena numa empresa do grupo (MPX).
O caso X é mais um entre os muitos de empresas brasileiras apoiadas com dinheiro do contribuinte que têm resultados insatisfatórios na competição mundial.
A despeito do volume de crédito público, o grupo X não é tradicionalmente incluído entre os "campeões nacionais" eleitos pelo BNDES. Nos últimos anos, o banco foi o principal artífice dessa política, sob a premissa de que tais empresas teriam potencial para conquistar o mercado global. Daí todo o apoio à internacionalização dos grupos, que consumiu R$ 18 bilhões em seis anos, entre empréstimos e aportes de capital. Só no grupo JBS, a exposição do BNDES em ações ronda R$ 5,5 bilhões.
A prática agora será revista, segundo afirmou o presidente do banco, Luciano Coutinho, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo". Ela já estaria esgotada nos poucos setores em que Coutinho enxergava oportunidade (petroquímica, celulose, frigoríficos, siderurgia, cimento e suco de laranja).
Todos esses setores são de commodities ou assemelhados. Se o país já era competitivo nessas áreas, qual seria o ganho de verter bilhões subsidiados em frigoríficos, para citar apenas o mais controverso dos casos?
O foco do banco, agora, se volta para segmentos mais promissores para inovação tecnológica. Desde sempre deveria ter sido esse o objetivo. Para Coutinho, o complexo de saúde e a indústria farmacêutica estão entre os elegíveis.
Seria ótimo o Brasil deixar de ser apenas o fornecedor de processos e produtos consagrados, sempre a pagar por propriedade intelectual gerada fora do país. Para isso, no entanto, é preciso dar atenção também às empresas médias e pequenas e à sua interação com entidades de pesquisa de excelência.
As garantias exigidas para financiar empresas médias contrastam com a facilidade com que bilhões são concedidos ao grande capital amigo do governo de turno. Destinar recursos para criar institutos de tecnologia de classe mundial, por exemplo, traria ganhos perenes ao país e sairia mais barato que cevar pretensos campeões.

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