quinta-feira, 25 de abril de 2013

De problema a cura

Estudo publicado na revista Nature mostra que células que pareciam prejudicar a recuperação de áreas lesionadas do cérebro são fundamentais para a cicatrização e o combate a hemorragias 


Estado de Minas: 25/04/2013 


Poucas estruturas foram tão estudadas como o cérebro nas últimas décadas. Mesmo assim, ele ainda se mostra misterioso e capaz de surpreender os cientistas a qualquer momento. Um estudo feito com ratos na Universidade Duke, nos Estados Unidos, e publicado na edição de hoje da revista Nature indica que um tipo de célula nervosa tido até agora como um fator que dificultava a recuperação cerebral depois de traumas tem, na verdade, o papel oposto, sendo essencial para estancar sangramentos e, assim, promover o reparo do órgão.
Chamados de astrócitos (devido ao curioso formato, que lembra o de uma estrela), esses elementos são produzidos por células-tronco do cérebro após algum dano, como uma forte batida na cabeça. De acordo com os especialistas, eles migram para o local danificado com o objetivo de facilitar a recuperação da região. “Muito estudos investigam formas de produção de neurônios para a recuperação de áreas prejudicadas do cérebro. Mas nada disso adianta se houver um sangramento e ele não for interrompido. De alguma maneira, o cérebro sabe disso e produz esses astrócitos em resposta a um dano”, afirma, em um comunicado divulgado pela universidade, Chay T. Kuo, um dos principais autores da pesquisa.

Ao mencionar essas pesquisas, Kuo refere-se também à própria equipe, que se dedica a investigar formas de substituir células perdidas depois de traumas sofridos pelo cérebro. Uma vez danificados, neurônios maduros não podem mais se multiplicar. Por isso, a estratégia de pesquisadores tem sido induzir células-tronco a produzirem mais neurônios para substituir os perdidos.

Até agora, esse enfoque tem obtido pouco sucesso. Os cientistas desconfiavam que um dos problemas seria a criação excessiva de astrócitos e oligodendótricos, ambos chamados de células gliais, após os traumas. Embora soubessem da importância dessas duas estruturas para o funcionamento dos neurônios, os pesquisadores consideravam o aumento no número de astrócitos um efeito indesejado, pois parecia associado à secreção de proteínas que induzem a inflamação de tecidos e mutações genéticas ligadas à formação de tumores agressivos.
Inesperado Por isso, o grupo de Duke decidiu bloquear a fabricação dos astrócitos no cérebro de camundongos para ver o que aconteceria quando o órgão sofresse um forte trauma. Em vez de eliminar a inflamação que parecia atrapalhar a substituição dos neurônios, a estratégia fez com que a hemorragia não parasse nunca e a área lesionada não fosse curada. O resultado inesperado levou os pesquisadores a observar mais atentamente o processo. Eles notaram, então, que os astrócitos produzidos após um trauma não são como os demais.

As células-tronco ficam em uma área especial do cérebro adulto chamada zona ventricular. De lá, elas lançam neurônios e células gliais de acordo com as necessidades de cada região. Quando o cérebro sofre algum tipo de lesão, elas geram esse grupo especial de astrócitos, que corre diretamente para a área afetada e ajuda a produzir uma cicatriz organizada, que interrompe o sangramento e permite, assim, a recuperação do tecido.

Com o experimento, Kuo e seus colegas não conseguiram resolver o problema da forma que esperavam, mas acabaram descobrindo um novo campo de investigações que pode levar a formas de tratar cérebros lesionados, um problema muito comum que, somente nos Estados Unidos, atinge 1,7 milhão de pessoas por ano. Os estudos futuros podem também ajudar no tratamento de acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame.
“Nós estamos muito empolgados com essa flexibilidade inata demonstrada pelas células-tronco neurais, que sabem exatamente o que fazer para ajudar o cérebro depois de uma lesão”, afirma o pesquisador. “Como hemorragias são um problema comum em pacientes que sofrem trauma no cérebro, novas investigações podem levar a terapias mais eficazes para acelerar a recuperação cerebral”, acrescenta.

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