No "Financial Times" desta semana, Joe Leahy, correspondente do jornal no Brasil, oferece uma análise pessimista sobre as perspectivas econômicas brasileiras.
Ele escreve que o boom na maior economia latino-americana, alimentado pelos altos preços das commodities e crédito fácil, chegou ao seu pico, o que coloca sob pressão as empresas que desfrutavam de forte apoio político e econômico do Estado.
Avaliando grandes empresas privadas e estatais que receberam crédito estatal subsidiado, como Petrobras e Vale, Leahy aponta para o rebaixamento da classificação de crédito do BNDES e da Caixa Econômica Federal pela Moody's Investors Services, alegando que os dois têm exposição excessiva aos seus maiores devedores.
O principal exemplo de Leahy está nas empresas de Eike Batista. A OGX, companhia petroleira criada por ele, está envolvida em um dos negócios mais arriscados e de maior necessidade de capital, a exploração e produção de petróleo, setor no qual os mercados brasileiros não têm grande experiência. Para agravar o problema, a OGX se viu forçada a suspender a produção em seus três poços "offshore" de petróleo no campo de Tubarão Azul, na bacia de Santos.
Outros analistas atribuem os dilemas atuais à forma de capitalismo de Estado praticada no país. Mas será que estão certos?
O Brasil certamente precisa investir mais na atualização de sua infraestrutura, na melhora de estradas, portos, ferrovias e aeroportos. E a aproximação da Copa e da Olimpíada torna esses projetos muito urgentes.
Mas também é verdade que na Europa e nos EUA há, igualmente, incerteza sobre o futuro. O amplo consenso que prevalecia desde a Segunda Guerra Mundial está se rompendo, e a questão é basicamente a mesma dos dois lados do Atlântico Norte: como sustentar as redes de previdência e bem-estar social que se tornaram excessivamente dependentes de dinheiro emprestado, diante da austeridade e da limitação de recursos?
Nos EUA, o impasse político é evidente. Já entrou em vigor o corte automático de Orçamento que resulta do fracasso da Casa Branca e da liderança do Congresso em obter um acordo sobre finanças públicas.
Na Europa, Mario Draghi, presidente do BC Europeu, assumiu o compromisso de adquirir títulos de dívida nacional dos países da zona do euro, o que salvou o euro (por enquanto). Mas isso não ajuda pequenas e médias empresas do sul da Europa.
A desaceleração econômica na China e a instabilidade nos mercados internacionais do Brasil representam desafios, com certeza. Mas os problemas brasileiros nem de longe podem ser atribuídos ao papel econômico do Estado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário